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Salão de Outubro foi encerrado neste sábado. Confira os homenageados e os artistas da programação musical, no Crato Tênis Clube. Mostra Audiovisual no ICC segue até terça, 5/11

 

Ronaldo Lopes e colegas músicos do Cariri, na noite deste sábado no Crato Tênis Clube, encerramento do Salão de Outubro


Em um encontro histórico de saberes e fazeres, celebrando os 50 anos do evento original, o Salão de Outubro teve seu encerramento neste sábado, 2/11, após um novo dia de muitas atividades, em diversas linguagens, no Crato Tênis Clube, além da Mostra Audiovisual no Instituto Cultural do Cariri. Tudo com entrada franca.

A programação da Mostra Audiovisual do Salão segue até terça-feira, 5/11, no ICC. Enquanto isso, neste sábado, no Crato Tênis Clube, chegava ao último dia o grande encontro de gente da arte, da cultura, de artistas, técnicos, trabalhadores/as da cultura, atuando de forma voluntária, coletiva, com ajuda mútua e muito entusiasmo em integrar a programação e em fazer acontecer o Salão, de forma completamente independente. Celebrando também os 50 anos da primeira edição do evento, que aconteceu em 1974. 

A última noite de programação musical trouxe muita emoção, com as as apresentações de Adeildo de Souza, Ancestralia (Weber dos Anjos, Claudio Mappa), Batista Guitarra, Bernardo Neto, João Batista, João Urano, Leninha Linard, Luiz Carlos Salatiel, Nélio Luna, Ranier e Ronaldo Lopes, entre outros.

Na Mostra Audiovisual, no Instituto Cultural do Cariri, das 14h às 17h foram exibidos os filmes "Tempo Menino", de Nívia Uchoa e Janaína Félix; "Notícias do Fim do Mundo", de Rosemberg Cariry; "Caboclinha", de Rafael Queiroz e Viviane Costa; "Ôxe", de Daniel Rizzi. 

E de 18h a 22h foram exibidos, também no Instituto Cultural do Cariri, os filmes "Memórias Vivas", "Mãe e Filha", de Petrus Cariry; "Caminhos do Caldeirão", de Sandro Leone.

Dodora Guimarães e Luiz Carlos Salatiel




Homenagens marcaram a noite de sábado

Além da programação que deu sequência aos três primeiros dias de evento, o Salão de Outubro contou neste sábado com homenagens especiais a personalidades de destaque na cultura e nas artes e a pessoas que foram decisivas para a realização desta nova edição do evento.

Foram homenageados neste sábado, no Crato Tênis Clube, Rosemberg Cariry, Jackson Bantim (Bola Bantim), Jefferson Albuquerque, Abidoral Jamacaru, Luiz Carlos Salatiel, Wilton Dedê, Celinha Cariri e Socorro Sidrim. 
- Socorro Sidrim

Foram homenageados in memoriam Luís Karimai, Geraldo Urano, Normando Rodrigues, José Roberto França e Hugo Linardi. 


Encontros no camarim do Crato Tênis Clube



Multiplicidade artística

Durante o Salão de Outubro, os espaços do Crato Tênis Clube foram tomados com a Mostra de Artes Visuais, com pinturas e fotografias de diversos autores, incluindo trabalhos à venda. A feira de artesanato nos jardins do clube também foi cenário para reencontros, conversas, fotos, saudades expressas em falas e abraços. Alegria da convergência entre integrantes da cena musical de Fortaleza, por exemplo, que se deslocaram ao Cariri para tomar parte no histórico Salão de Outubro dos 50 anos, a convite de Rosemberg Cariry, Caíka Luiz, Carla Karimai, Luiz Carlos Salatiel, entre outros. 


O Salão de Outubro: dos adolescentes dos anos 70 aos "setentões" de 2024

"O primeiro Salão foi na Casa de Câmara e Cadeia. Depois na Praça da Sé aconteceram outras edições. Depois o Parque Municipal, quando tinha uma quadra muito simplória. A gente era muito jovem, 15, 16, 17 anos, e permanecia a noite toda, vigiando as obras, cuidando das coisas. Mas a gente queria mesmo era conversar, ficar ali", revela. "Nessa idade, uma, duas, três noites de sono não tinha problema", disse, em tom de saudade.

"Nesses momentos celebrados por nós, agora, a gente percebe o quanto nós amadurecemos. Mas não deixamos de fazer que com que a arte pulse de forma vibrante. Como Nicodemos falou, enquanto outros estão fazendo guerra, nós estamos fazendo paz".

O grupo Ancestrália, com Claudio Mappa e Weber dos Anjos




O Salão de Outubro e a resistência nos anos 70
 
Rosemberg Cariry, renomado cineasta, escritor, compositor, pesquisador e militante da cena cultural, que está nos trabalhos de produção do evento, juntamente com parceiros como Clara Karimai, Kaíka Luiz, Luiz Carlos Salatiel, Luciano Brayner e diversos outros, em diferentes linguagens, ressalta, sobre o Salão de Outubro original, que na década de 70, em meio às turbulências que marcaram os anos de opressão política e estética no país, nas diversas regiões brasileiras, artistas conseguiram resistir com novas possibilidades de atuação.

Em 1973, “algo” de novo surge na cena artística da cidade do Crato e do Cariri cearense: o Grupo de Artes Por Exemplo – artistas que se uniram no propósito de formar um núcleo de produtores e divulgadores das expressões da arte local. "Não vamos citar nomes, por serem dezenas e podermos esquecer alguns. A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo foi a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense, extrapolando o triângulo Crajubar, para o País", detalha o cineasta, escritor, compositor, pesquisador, articulador e militante da cultura do Ceará para o Brasil.

Contando inicialmente apenas com autores residentes na cidade do Crato, depois incluindo artistas de Juazeiro do Norte e de outras cidades da região, o núcleo destacou-se por realizações importantes, montagens de peças teatrais, filmagem dos primeiros curtas-metragens da cidade e a realização da mostra de arte que ficou conhecida como Salão de Outubro.

O Salão teve a sua primeira edição entre os dias 26/10 e 03/11 de 1974 e se transformou, ao longo dos anos, em um dos eventos culturais mais importantes do Crato e do Cariri, congregando pintores, escritores, poetas, atores, compositores e cineastas em torno da ideia de promover mostras de seus trabalhos e dos seus espetáculos, além do intercâmbio com outros centros artísticos do Nordeste e de outras regiões.

Ranier Oliveira e Tâmara Lacerda




Do Por Exemplo ao Nação Cariri

O Grupo de Artes Por Exemplo transformou-se no Nação Cariri — movimento cultural mais amplo, já envolvendo artistas de Fortaleza e de outras capitais brasileiras, editando jornais, revistas, livros, produzindo espetáculos musicais, filmes, discos e outros projetos.

O Nação Cariri continuou junto ao Salão de Outubro, que também foi realizado pelo Folha de Pequi, pela Turma do Parque e por outros grupos, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, chegando um dos Salões a ser realizado já no início do século XXI.

O Salão virou uma espécie de propriedade coletiva, em que jovens artistas de diversas gerações iam criando e recriando. O evento foi realizado em diversos espaços da cidade do Crato: Museu Histórico e prédio da Cadeia Pública, Calçadão da Praça Siqueira Campos, Praça da Sé e, durante muito tempo, na Praça do Parque.

Bernardo Neto, Isaac Cândido, Manel D´Jardim, Ronaldo Lopes e Lencker




"O Grande Cariri"

"Uma característica marcante do Salão de Outubro era a opção de reunir culturas e artes, de diversas procedências étnicas, sociais e culturais, naquilo que enxergávamos como sendo o 'Grande Cariri'", destaca Rosemberg, ressaltando que a vasta região abrange quase todos os estados nordestinos.

Um espaço em que se fizeram fortes as influências afro-ibero-cariri (caboclas), tendo Juazeiro do Norte como a Grande Meca, onde acontece uma experiência civilizatória original.

"Havia uma concepção bem aberta do conceito de 'nação', como um espírito de luta e de resistência, inspirado na Confederação dos Cariri, a chamada 'Guerra dos Bárbaros', de 1650 a 1720", reforça.

Luiz Carlos Salatiel, Bernardo Neto e João Nicodemos






Arte alternativa e cultura popular

Nas diversas edições do Salão de Outubro, sempre houve, por parte dos artistas, a necessidade de unir a chamada 'arte alternativa' - mais ligada à juventude nordestina daquela época - à tradição da cultura popular.

O evento pretendia unir através de linguagens diferentes, promovendo um encontro com os símbolos universais e os elementos da cultura local (que também traziam as marcas de muitos povos e culturas do mundo), buscando o surgimento do novo, através da hibridação da tradição regional com as inovações artísticas mais amplas.

Um evento de múltiplas linguagens, reunindo artes plásticas e visuais, cinema, teatro, performances, música e literatura. O grande diferencial era unir artistas já reconhecidos com iniciantes, artistas ditos de vanguarda com artistas da tradição, misturando gêneros e classes sociais, no que se convencionou na época chamar-se de “cultura insubmissa”, ainda com ressonância dos movimentos de “contracultura”.

"Esse era o 'espírito transmoderno' do Salão de Outubro naquela época. Houve uma grande produção cultural e artística nesse período e o saldo foi muito positivo para a cultura cearense", reforça Rosemberg Cariry.

"Esse espírito insubmisso se mantém na contemporaneidade e se renova nos dias 30 e 31 de outubro, 1o e 2 de novembro de 2024, em uma nova edição do Salão, uma festa-celebração dos seus 50 anos".







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