Um dos maiores músicos do mundo, um dos mais prolíficos compositores, instrumentistas, arranjadores, diretores musicais, um andarilho a colecionar carimbos no passaporte, o mineiro Toninho Horta é uma das atrações do festival Choro Jazz, etapa Fortaleza, com workshop nesta quinta-feira, 6/11, às 15h, na Escola Pública de Música, no bairro Joaquim Távora (com inscrições já esgotadas), e com super show nesta sexta-feira, 7/11, na sessão das 19h no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com entrada franca, em noite que conta também com os mestres cearenses da Marimbanda convidando o acordeonista e pianista Adelson Viana.
Toninho é amigo-irmão e um dos mais emblemáticos colegas de geração do cantor e compositor Lô Borges, o menino Lô, dos olhos de eterna juventude, artista que se despediu de nós na última segunda-feira, após dias internado em virtude de uma intoxicação medicamentosa, conforme destacou a imprensa. Um imenso baque para todo o País, para o povo que sempre cantou as canções de Lô e que com ele aprendeu a "jogar a vida na estrada, como quem não quer fazer nada, a ouvir bem as vozes do mato, como quem abriu o seu coração".
Autor de inúmeros sucessos, ao lado de grandes parceiros, Lô partiu aos 73 anos, nos deixando órfãos de sua voz jovem e estradeira, de seu disco de capa com um "tênis muxibento", como ele gostava de falar, da "Via Láctea", da "Paisagem na janela", do "girassol da cor de seu cabelo". Eita vida, "trem de doido", a nos surpreender e nos maltratar, com a partida de quem semeou canções, poesia, lirismo, viagens, arrebatamento, sensibilidade, beleza, iluminação.
Toninho chega à capital cearense para a oficina e o show, dedicado a celebrar os 45 anos do clássico disco "Terra dos Pássaros", de 1980, com uma super banda, e vem de coração aberto para um reencontro com o público de Fortaleza, neste momento desafiador. As atividades na capital cearense precedem uma viagem para a Alemanha, para seis concertos e oito masterclasses em universidades, incluindo momentos específicos para guitarristas.
“Meu papel é esse, divulgar minha música, divulgar o Clube da Esquina, que foi usper importante. Agora com a perda do Lô… Mas a música dele tá aí, vai viver vários anos, séculos! É isso que a gente espera”, destaca.
“Eu tô sempre expandindo a minha arte, e a gente acaba aprendendo com os outros. Fortaleza tem muito músico bom, com um talento natural pras artes. Músicos como o Pipoquinha, Adelson Viana, o Iury Batista, o Lucas Arruda, o Thiago Almeida pianista, uma série de craques que podem seguir, ouvir de tudo, deixar a cabeça aberta pra ouvir de tudo e escolher o caminho que cada um se sentir mais confortável”, relaciona, citando alguns dos artistas que admira e com quem dialoga, do Ceará.
“O Ceará sempre foi revolucionário!”
“Acho que Fortaleza é uma cidade muito especial, é muito propícia a receber esses grandes artistas nacionais, e eu estou sempre muito feliz de poder participar. Parabéns ao Capucho, todo o pessoal da produção”, agradece.
“Tem muitos anos que eu não venho a Fortaleza, e seria um prazer poder ouvir a música de outros jovens, de outras pessoas. O Ceará sempre foi um estado bem revolucionário. Fiz um disco aqui, em 2005, com o Felipe Cordeiro, letrista e compositor, chamado ‘Com o Pé no Forró’, e convidamos o Fagner, o Dominguinhos… Com a base dos músicos aqui, bateria, baixo, teclado, o Adelson Viana participou, tanta gente daqui, e foi um disco praticamente cearense, gravado aqui, e teve uma grande exposição, foi nominado ao Grammy em 2006, na categoria ‘Melhor Álbum de Música Popular Brasileira’. Então, assim, aqui é o lugar! O lugar do suingue, do bom gosto e da música instrumental. Parabéns! Adoro Fortaleza, adoro o Ceará”.
Oficina de música: lembranças da infância e da adolescência
“O jovem deve procurar pessoas que tocam mais do que ele, pra sempre procurar aprender e desenvolver cada vez mais”, enfatiza, sobre a oficina que acontece nesta quinta-feira, na Escola Pública de Música, da Vila das Artes, localizada no bairro Joaquim Távora. Uma trilha de aprendizado que também marcou sua própria formação.
“Essa questão de difundir a música para os jovens é importante pra cada músico. Por exemplo, eu, quando era menino, meu irmão foi meu guru, o Paulinho. E eu vim de família de músicos. Meu avô era maestro. Passou toda essa influência musical pra toda a família”, conta.
“Meu irmão foi o primeiro profissional. Meus pais tocavam por hobby, minha mãe bandolim e meu pai, violão. Mas o Paulinho, 15 anos mais velho que eu, é que me chamou pra tocar com ele, quando eu tinha 20 anos. Mas eu com cinco, sete anos ouvia com ele os discos de jazz que ele tocava em casa, de big bands, de quartetos, de cantores…. Então isso abriu minha cabeça para o lado de harmonia, eu bem jovem”, detalha, sobre o famoso esmero que possui com as harmonias, intrincadas, complexas, surpreendentes, de grande beleza.
“Por causa disso eu frequentava o meio, as gigs dele, os bares, os encontros com os músicos. Fui crescendo na adolescência nesse ambiente, e todo mundo sempre me apoiava, me dava toques. E queria ouvir a minha música, minhas primeiras composições, e isso foi me dando uma atmosfera incrível!”, recorda.
Caminhos para o jovem músico
Para Toninho, o jovem músico precisa “entrar de cabeça” na arte e no processo formativo, na vivência musical. “Tem que ter muita vontade e coragem, acreditar em si próprio e seguir ali o que cada um quer, as influências musicais que quer absorver. Quanto mais cedo o jovem se interessar em se tornar um instrumentista ou compositor, é melhor. Porque aí ele tem oportunidade de ouvir todo tipo de música. As coisas que ele menos entende”, aponta.
“Por exemplo, o jazz desde cedo, a música clássica com uma imensidão de coloridos e soluções estéticas, formas da música erudita. Todo estilo é bem-vindo, e os estilos são ligados a outros, influências desenvolvidas por uma cultura regional ou local”, acrescenta.
“E a gente vai misturando isso tudo. Hoje em dia a música é universal. Acho muito importante trocar essa ideia e motivar a galerinha nova pra poderem crescer num ambiente de música saudável, ao invés de ficar só copiando os modelos da Internet, sem orientação, o que é muito mais difícil”.
De autodidata a professor
“Eu sou autodidata, e o Brasil ainda tem muito isso, não tem aquelas quantidades de escolas que as pessoas vão lá e se formam. Aqui no Brasil é mais descontraído, a gente vai procurando nosso som, e um dia as pessoas começam a motivar e a gente a evoluir, até a gente alcançar uma posição na sociedade como artista, como músico, como intérprete, como compositor, como produtor, de uma forma muito bacana, interativa, interativa com as outras classes e com o meio artístico”, descreve Toninho Horta, sobre esse caminho formativo com as especificidades, virtudes e desafios no Brasil.
O show em Fortaleza, Capucho e o Choro Jazz
Toninho Horta agradece ao idealizador e diretor do festival Choro Jazz, Antônio Ivan Capucho, pelo convite para o show desta sexta no anfiteatro do Centro Dragão do Mar. “Estou vindo com minha nova banda, chamada The Birdland Band, uma homenagem à minha guitarra Gibson, modelo Birdland, que comprei na Califórnia, quando estava fazendo o meu primeiro álbum, chamado ‘Terra dos Pássaros’”, destaca.
“Hoje em dia é muito importante ter esses eventos abertos ao público, porque você tem uma amplitude maior, você faz um trabalho social, artístico, de qualidade, igual aos festivais do Capucho, muito bem organizados, com uma linha própria de música, um repertório e uns artistas muito bem escolhidos. Isso é bom para a nossa classe de música instrumental no Brasil, porque nem sempre a gente tem eventos como esse dessa grandeza, mas, quando aparece, a gente tem que abraçar com carinho, ajudar a divulgar e agradecer a oportunidade de estar sempre renovando o nosso público”, ressalta.
“E sendo aberto a todos, sem ter que pagar ingresso, se torna muito mais atrativo e mais generoso para a cidade e para a gente, e é sempre uma troca muito saudável. E o Capucho faz isso muito bem, já fez em vários lugares. Participei do Choro Jazz em outras praças, como lá em Jericoacoara duas vezes, e é sempre uma alegria muito grande, e sempre aparecem também jovens tocando, assim, que surpreendem a gente com as questões da sua própria música, das harmonias locais, o desenvolvimento técnico, tudo de forma natural”, acrescenta Toninho. O público agradece por esses novos encontros com o mestre.
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