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Fhátima Santos ao lado de Marcio Resende, Luiz José e Carlinhos Patriolino, nesta quinta, no Cantinho: reencontro e emoção |
Texto: Dalwton Moura
Fotos: Vanes Cordeiro
Na noite da quinta-feira, 9/10, no Cantinho do Frango, uma das maiores vozes da cena musical cearense em todos os tempos - por muitos anos, apontada como a maior cantora de Fortaleza - recebeu mais um abraço solidário de inúmeros amigos, na forma de um show coletivo. A oitava apresentação desde seu retorno aos palcos, em 14 de maio, no Alpendre, em noite memorável, em que a artista agradeceu "pela primeira oportunidade de cantar em um microfone, depois de 13 anos".
Duas semanas antes daquela data, Fhátima enviara a colegas como Ciribáh Soares e Daniel Domingues um pedido de socorro. Há anos sofrendo de depressão severa, sem poder trabalhar, ela, que por tantos anos foi arrimo de família, se revelava em um áudio de whatsapp, em toda a sua fragilidade. Sem temer nem se envergonhar. Pediu ajuda. E recebeu. Ajuda material, mas principalmente apoio fraterno, amoroso, humano. Na forma de uma imediata campanha solidária.
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Reencontro da Brazuka. Lembranças do Caros Amigos |
Desde então, foram diversas apresentações, no próprio Cantinho, no Alpendre novamente, no Fuxico Beer, no Belch Bar... Com a ajuda de muitos colegas solidários - cada um/a participando na medida de suas possibilidades - e inexplicavelmente ainda sem a presença do poder público, da política cultural ou de qualquer representante de Prefeitura ou Governo do Estado, Secultfor ou Secult Ceará, em nenhuma das apresentações, essa corrente inicial de contribuições conseguiu, além de gerar um valor de apoio, emocionar Fhátima por todo o bem querer a ela demonstrado, por tanta gente. Colegas de sua época de auge na música, artistas de gerações posteriores, ouvintes que nunca a esqueceram e sempre nutriram saudades, admiradores da cena cearense que ouviram falar da grande intérprete, mas nunca tiveram chance de aplaudi-la.
Mais uma vez destoando da situação desafiadora, a noite da quinta-feira, 9/10, no Cantinho, foi novamente de muita emoção, de sorrisos, abraços, fotos, recordações, lembranças, "causos". Fhátima recebeu um grande abraço de protagonistas da música de Fortaleza. E motivou um reencontro de três integrantes da banda Brazuka, que marcou época na capital cearense, tocando no Caros Amigos, no entorno do Centro Dragão do Mar, no fim dos anos 90, começo dos anos 2000, tempos em que também brilhava na mesma casa, atraindo multidões e arrancando aplausos de pé, uma jovem cantora chamada... Fhátima Santos! Alagoana que escolheu o Ceará, e foi por ele escolhido.
Carlinhos Patriolino na guitarra, que tocou ao longo de quase todo o show desta quinta-feira, Marcio Resende na flauta e no sax tenor, Adelson Viana, no acordeom, em participação rara e luxuosa. Os três ex-integrantes da Brazuka se reencontraram, ao lado de Fhátima, no palco que leva o nome de... Tarcísio Sardinha, o eterno mestre, que também fez parte da Brazuka, assim como Ricardo Leite, contrabaixista, e o saudoso clarinetista Carlinhos Ferreira.
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Marcus Caffé: energia, presença cênica, vocais apurados e muitos aplausos |
A cantora Ana Flora, que a tantos lembra Fhátima Santos, por seu timbre e seu suingue, nas rodas semanais de choro, jazz e improviso no Giz Restaurante, foi a segunda intérprete da noite, logo após Luiz José. Cantou com Patriolino e já arrebatou o público, com direito a uma comovente recriação de outro clássico da bossa, "Estate", herança da música italiana ampliada para todo o mundo por meio de João Gilberto.
Depois da bela apresentação de Ana, Carlinhos Patriolino convidou Fhátima ao palco. Caminhando a passo lento, lenço vermelho na cabeça, vestido negro, Fhátima encontra uma dobradura no espaço-tempo, e é como se o público estivesse de novo sentindo a brisa da Praia de Iracema no Caros Amigos ou as noites de multidão no entorno do Bebedouro, na hoje Vila Pita, eterna "ruazinha".
Foi lá que a grande intérprete inaugurou um novo momento para o samba em Fortaleza, chamando mais atenção para o gênero e atraindo outras plateias, em um movimento que, duas décadas depois, deu ótimos frutos na geração de Theresa Rachel, cantora, violonista, compositora, que encerrou lindamente o show desta quinta-feira, Marina Cavalcante, Gabi Nunes, Malena Monteiro e várias outras intérpretes.
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Mel Mattos: "Fhátima é nossa grande professora" |
"Fhátima sempre foi a nossa mestra. Ela nem sabia, mas era a nossa professora", disse a cantora e compositora Mel Mattos, outra a se destacar na noite, com sua voz poderosíssima e sua interpretação cada vez mais intensa, expressiva, cênica, surpreendente em cada canção.
Marcus Caffé, outro Intérprete com "i" maiúsculo e um amigo-irmão atento às delicadezas de Fhátima a cada momento, foi muito aplaudido também ao recriar clássicos como "Carcará", de João do Vale, na companhia de Adelson, Patriolino, Resende e, depois, Alan Kardec no bandolim. Ele convidou Paulo Jr., para uma participação surpresa, surpreendendo Fhátima.
Rebeca Câmara, cantora, compositora, autora de dois discos, também brilhou, com seu violão ao lado da guitarra de Patriolino, antes de Theresa Rachel ser convidada a encerrar a noite.
Mais uma vez parte da cidade for dormir menos aflita, para acordar mais feliz. Com muito esforço e vencendo novos desafios a cada dia, sua filha Fhátima está de volta ao palco. Sua voz, de volta aos corações. Seu ritmo, sua irreverência, seu suingue, sua divisão, sua mania de fazer diferente, sua habilidade intuitiva para improvisar e procurar novos caminhos ganharam mais uma vez merecidos aplausos. Fhátima foi, uma vez mais, cercada de palmas e de muito, muito amor.
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