Rodger Rogério e os preparativos para o aniversário de 80 anos deste mestre da música do Ceará para o Brasil
Compositor, produtor cultural, jornalista, militante da cena musical do Ceará
Mestre da geração que se tornaria conhecida por "Pessoal do Ceará" ao abrir espaços na indústria fonográfica nacional no início dos anos 70, Rodger Rogério completará, em 28 de janeiro de 2024, 80 anos. Cantor, compositor, violonista, destaque como ator nos filmes "Bacurau", "Greta" e "Pacarrete", vem realizando uma série de atividades que já preparam o público para a comemoração dessa data tão especial. Entre os projetos, novos discos e shows, alguns já ganhando as plataformas e os palcos, outros em fase de finalização.
Há ainda projetos e ações que dependem de produção e apoio para sair do papel e se integrar a um ciclo de comemorações que deve se estender por todo o ano de 2024. Afinal, como diz Rodger, em 28 de janeiro ele apenas começa a celebrar seu aniversário, continuando ao longo do ano, até o seguinte.
Neste 2023, Rodger seguiu tendo sua canção "Ponta do lápis", parceria com Clodo Ferreira, interpretada por Ney Matogrosso em turnê nacional, com novas apresentações a cada final de semana.
Rodger fez um show especial em abril, ao lado da família, no BNB Clube. O espetáculo Os Rogérios marcou também os 50 anos do clássico disco "Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem", lançado em 1973 por ele, Téti e Ednardo. São cinco décadas de carreira fonográfica de Rodger, iniciada justamente com esse disco extremamente marcante para a história da música do Ceará para o Brasil, mas infelizmente marcada por um número de álbuns muito aquém do que a intensidade da obra do cantor e compositor faria por merecer. Parte dessa lacuna pode e deve ser preenchida agora, quando da comemoração dos 80 anos de idade, com novos trabalhos fonográficos.
"Esse show ('Os Rogérios') nasceu de uma conversa minha com Gildomar Marinho, diretor do CCBNB Fortaleza, sobre os 50 anos do disco 'Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem - Pessoal do Ceará', considerado pela socióloga e escritora Mary Pimentel um marco da música cearense", conta Pedro Rogério, violonista e compositor, professor do Curso de Música da UFC, pesquisador da música cearense e filho de Rodger Rogério.
Pedro esteve no palco com Rodger, assim como Rogério Franco (irmão de Rodger, ao violão), Rami Rogério (na guitarra) e as vocalistas Mayra Rogério, Flávia Rogério, Daniela Rogério (todos, filhos de Rodger) e Julia Fiore, neta do artista. Tainá Rogério, também filha do compositor, Rami e Pedro Rogério assinaram a produção.
"Como não foi possível reunir Rodger, Ednardo e Téti, que foram os intérpretes do disco 'Meu Corpo, Minha Embalagem...', consideramos importante homenagear o próprio Rodger Rogério. Inclusive após um recente acidente, que deixou a todos preocupados. Mas ele, com toda a sua vontade de viver, nos deu mais uma lição de que vale a pena se dedicar à arte, manteve todos os compromissos, inclusive este show da sexta-feira, dia 14, no BNB Clube, com entrada franca e todos convidados", reforça Pedro Rogério, citando o acidente que Rodger sofreu na calçada de casa e que lhe rendeu uma semana no Instituto José Frota em Fortaleza, uma cirurgia no fêmur e um novo agradecimento ao SUS, destacando a importância da saúde pública, já ressaltada por Rodger quando do final de sua internação por Covid, no começo de 2020, ocasião em que o artista deixou sob aplausos de trabalhadores da saúde e pacientes o Hospital São José, da rede estadual.
Aliás e a propósito, o próprio Rodger costuma dizer em entrevistas que não tem carreira, e sim uma caminhada. Todas as músicas que foram apresentadas no show são de Rodger Rogério e parceiros, com exceção de "Uma canção a mais" (de Rogério Franco, irmão de Rodger, e Dalwton Moura, parceiro de Rodger no EP "Velho Menino", de 2019, comemorativo aos 75 anos do artista), e "Brilho azul", de Pedro Rogério e do saudoso Luizinho Duarte.
Ações na preparação para os 80 anos: palcos e estúdios
Mais recentemente, Rodger Rogério participou do sarau de lançamento do clipe de sua canção "Carruagens", parceria com o piauiense radicado em Brasília Clodo Ferreira. O vídeo fooi produzido por Gustavo Portela, que também gravou a canção e todo um disco dedicado a obras inéditas e "Lados B" de Rodger Rogério. Esse trabalho será lançado aos poucos, cada música dando origem a um clipe. O próximo deverá contar com o próprio Rodger como ator. O sarau foi extremamente marcante e despertou muita emoção, com Rodger ao lado de Gustavo, de jovens músicos e poetas do Jangurussu, "periferia" de Fortaleza.
Rodger Rogério também se apresentou em duas noites concorridas na Caixa Cultural Fortaleza, em agosto deste ano, no show do projeto "Futuro e Memória - Música do Ceará", coordenado por Rogério Franco e Dalwton Moura e que levou ao palco, além deles, Calé Alencar, Davi Duarte, Edmar Gonçalves, Theresa Rachel, Gilmar Nunes e Pedro Rogério, além de grandes instrumentistas da cena cearense: Anfrísio Rocha, Luciano Franco, Robson Gomes e Paulinho Santos. Foram momentos de muita emoção, como na interpretação da canção "Navegante", de Rogério e Dalwton, dividida por pai e filho, Rodger e Pedro.
Por fim, Rodger participou neste mês de outubro do projeto Repare na Letra, produzido por Marta Pinheiro na Biblioteca Estadual do Ceará (Bece), e do projeto Temporada Autoral, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB Fortaleza), uma iniciativa voltada à valorização das compositoras e dos compositores, procurando chamar atenção do público para repertórios de composições próprias de cada artista participante, em shows coletivos e com formato enxuto, para ressaltar a canção.
Rodger, 79 anos, se apresentou na mesma noite em que subiram ao palco o jovem Luciano Raulino, de 23 anos, Gabriela Mendes e Fernando Rosa, cada um mostrando suas composições. Cantando com o acompanhamento do irmão, Rogério Franco, ao violão, e do percussionista Vinicius Matos, Rodger Rogério inclusive cantou as inéditas "Bom de ver", xote em parceria com Luciano Franco, e "Palavras no chão", belíssima e chorosa canção em parceria com Fausto Nilo, além de ter interpretado "Velho menino", parceria com Dalwton Moura, e a citada "Uma canção a mais", de Dalwton e Rogério, ambas com a participação de Dalwton ao violão.
Entre outras ações pretendidas para a comemoração de 80 anos de Rodger está o lançamento de um novo álbum de inéditas, incluindo três parcerias inéditas com Belchior. Além de, para este ano, um trabalho de músicas inéditas em parceria entre Rodger e Vitoriano. E um disco de Gustavo Portela, todo dedicado a releituras da obra de Rodger, incluindo clipes de diversas faixas.
Próximos passos
Além de um show especial para comemoração dos 80 anos, em Fortaleza, nos moldes do que reuniu centenas de pessoas no Cineteatro São Luiz quando Rodger fez 75, há ainda planos para um show inédito com o parceiro Clodo Ferreira, e para novas apresentações do show Futuro e Memória - Grandes Nomes da Música do Ceará. Assim como o projeto de um disco de inéditas de Rodger, incluindo três parcerias com Belchior, para ampliar essa discografia e registrar, na voz do autor, diversas canções ainda sem gravação. Um material preciosíssimo, com a lista de canções já escolhida pelo artista, em um projeto que ainda depende de apoio para que possa ser tirado do papel.
Já de forma mais concreta e garantida, Rodger lançará também um novo disco, interpretando belíssimas canções de Rogério Franco e do compositor, dramaturgo, editor e produtor cultural cearense Alan Mendonça. O álbum vem sendo gravado há bastante tempo, incluindo sessões iniciais realizadas no Vila Estúdio, do maestro Adelson Viana, e, mais recentemente, gravações das vozes e das últimas "coberturas" instrumentais no estúdio Som do Mar, do multi-instrumentista Anfrísio Rocha. Pela qualidade das canções e pela interpretação magistral de Rodger, sem dúvida a espera vai valer não a pena, mas a alegria.
Além de um dos cantores, compositores e atores mais importantes do País, Rodger Rogério é pai, avô, bisavô, físico, radialista, professor aposentado, "criador da matéria e do imaterial", com música, cinema, amizades, alegria. "Me sinto começando, sempre. Sempre com o desafio de fazer melhor, interpretar melhor. Além de compor e atuar, cantar é o que mais gosto de fazer. Quero cantar muito, muito. Sempre cantar", revela Rodger. Cantemos com ele.
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