Paulinha Tesser deu à cena musical de Fortaleza um grande presente neste começo de ano. Em um show concorridíssimo no Cantinho do Frango, em espaço abert e desafiador diante da ultralotação e de muito ruído, qual uma monja zen a intérprete franco-cearense, hoje radicada em São Paulo, fez sua voz "pouquinha" soar mais alto que a alta conversa de muitas mesas. Quem conseguiu chegar mais perto, na noite quente desta quinta-feira, 11/1, foi premiado com um lindo show. E com muita emoção, que da intérprete chegava aos e às ouvintes, ao final de cada canção.
Ladeada por Oscar Arruda, guitarra e violão, e Vitoriano, teclado e guitarra, Paulinha conduziu o show "como quem pede pra te ver, pra te chamar, te convidar, pra você vir e ver como é legal". Como nos versos de "Canção do amor banal", de Valdo Aderaldo, que a intérprete cantou na parte final da apresentação, já com as tensões da noite mais aplacadas. E cercada por muito, muito amor.
Ainda que parte do público pudesse ter contribuído para o show retribuindo com silêncio, foco, atenção toda a gentileza da artista, foi um show simples e memorável! Sabedora, talvez, da atmosfera desafiadora do Cantinho tomado por muuuuita gente, sem que parasse de chegar mais ao longo de todo o espetáculo, Paulinha optou por um repertório de clássicos da música cearense, "pra vocês cantarem junto", ao lado de canções francesas de autores como Serge Gainsbourg, tão amado pela cantora. E também cantado pelo público, no sucesso "La mer".
Outro destaque entre as canções francesas foi "Sous le soleil exactment", cantada com muita garra por Paulinha, que mantinha a afinação e o foco mesmo com a base harmônica de Vitoriano e Oscar às vezes difícil de se escutar, em meio a tanto ruído.
"Merci pour le silence", alguém até poderia dizer, mas, apesar de alguns estarem bem contrariados, não cabia nenhum traço de animosidade, em um momento tão pessoal e especial, inclusive com os pais de Paulinha assistindo à apresentação na mesma mesa em que se conseguiu uma cadeira para Dodora Guimarães, eterna protetora e guardiã da obra de Sérvulo Esmeraldo. Dodora ganhou uma canção de presente de Paulinha, que agradeceu pelo convite para cantar uma temporada de shows no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, em datas que acompanharam a exposição Sérvulo Esmeraldo, sob muitos, muitos aplausos.
E Paulinha, que iniciou o show desta quinta-feira sem mestre de cerimônia e propondo ao público um acordo para uma "experiência sensorial", com o silêncio possível pelo tempo de 15 canções, se mostrou convicta e focada na melodia em clássicos como "Ingazeiras", de Ednardo, enquanto Oscar tentava a ajuda do indefectível Marquinhos, técnico de sonorização do Cantinho, para melhorar o som dos instrumentos de cordas. "Nascido pela Ingazeiras, criado no oco do mundo... meus sonhos subindo ladeiras, varando cancelas, abrindo porteiras...". O sul, a sorte, a estrada nos seduz, como seduziu Paulinha a estar novamente em São Paulo, com trabalhos tão importantes quanto a produção da Orquestra Refugi, incrível grupo formado por músicos de vários países, origens, expressões, identidades.
E o que dizer de "Beira-mar", também de Ednardo, apresentada por Paula como "uma canção da gente, do Ceará, de quem nós somos", para quem teima em morar em Fortaleza e para os que optaram por partir. A canção chegou com uma homenagem de Paulinha a Téti, cantora histórica do Pessoal do Ceará, que segue na luta em um momento delicado. Foram muitos aplausos para Tetinha, que, no clássico disco "Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem - Pessoal de Ceará", de 1973, gravado por ela, Rodger Rogério e Ednardo, imortalizou "Beira-mar" com incríveis vocais na introdução da canção, recriada no palco do Cantinho lotado por Oscar, Vitoriano e Paula. Haja beleza! Haja sentimento! Emoção a transbordar.
E não parava de chegar gente. Do audiovisual, do teatro, da literatura... Da noite! Do dia! Da vida da cidade. Paula atrai a todos e todas e todes, que vencem a multidão para cumprimentá-la, abraçá-la, parabenizá-la pelo show que também celebra Amelinha, Valdo Aderaldo, Cristiano Pinho, o Petrúcio Maia de "Frio da serra" com Brandão e "Cebola cortada" com Clôdo Ferreira, o Fausto Nilo, presente ao Cantinho e muito aplaudido, de "Tudo blue" e "Flor da paisagem" cantadas com tanto sentimento e delicadeza por Paulinha.... E até a Eliane rainha do Forró no bis do bis em "Pode me torturar", dedicada a Sergio Rodrigues, da banda Desecendentes da Índia Piaba, que sugeriu a gravação da música a Paulinha. Fim de um show e comeco de outro momento da noite, de inúmeros abraços, desejos de felicidades no novo ano, histórias e recordações entre tantos e tantos amigos e reencontros. Viva Paula Tesser! Viva a música do Ceará!
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