CCBNB lotou com Calé, Juru, Mona e Yane celebrando Fausto Nilo. Quarta e quinta tem mais


 

Romualdo Bass, Yane Caracas, Calé Alencar, Juruviara, Mona Gadelha, Alan Kardec neste sábado no CCBNB

Texto e fotos: Dalwton Moura


Uma grande noite no Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza lotado para o início da programação em homenagem aos 80 anos de Fausto Nilo. Assim foi este sábado, no Centro de Fortaleza, com cadeiras extras, espectadores/as de pé e muitos aplausos para Calé Alencar (curador da programação), Juruviara, Mona Gadelha e Yane Caracas, no primeiro show da agenda especial de atividades em celebração à vida e à obra do compositor nascido em Quixeramobim.

Antes do show deste sábado aconteceu, também no Palco CCBNB, do centro cultural, o lançamento do livreto "E Quem Não Vai Querer?", organizado por Calé, reunindo 80 trechos de letras de Fausto. 

Pouco mais de 19h30, quando do momento do lançamento, o CCBNB já contava com grande público. E mais gente chegava para receber de Calé o livreto e curtir o show. Antes de subirem ao palco, foi atrás da última fileira de cadeiras que ele, Juruviara, Yane, Mona e a banda-base formada por Alan Kardec na guitarra e no bandolim, Romualdo Bass no contrabaixo e Nilton Fiore na percussão  se abraçaram em círculo e desejaram um ao outro sucesso e alegria no show.

E assim foi, desde o início com os quatro no palco interpretando "Pé na terra", de Fausto e do saudoso Stélio Valle, o Stelinho, música gravada no LP "Estrela Ferrada", do violonista cearense Wilson Cirino, um dos grandes nomes da geração que ficaria conhecida por "Pessoal do Ceará". "Deitar na rede e balançar / Matar o medo e a solidão / Cedo ou tarde a casa cai e a estrada volta / Não desespera, coração".



Desenvolto e carismático, Calé deu continuidade à noite com uma bela recriação em bossa  para "Princípio do prazer", cantada junto pelo público que já lotava o centro cultural. Calé, que em entrevista na TV Diário na manhã de sábado cantara "Alto-falante", "no coração uma voz de cristal" (referência à radiadora da Quixeramobim natal de Fausto, "uma canção atendendo a pedidos do meu dorido coração", também mostrou sua parceria com o homenageado, "Equatorial", que deu título ao disco lançado por Téti em 1979. 



"Equatorial", que emociona quem mora na capital cearense e fortalezenses que partiram para ver outras paisagens, chegou com a batida do reggae ressaltada pela seção rítmica e com o lamento de que Fausto não estivesse no show para vibrar com esta e com a canção seguinte: a belíssima "Bar sereia", em arranjo especialíssimo e com interpretação inspirada de Calé e de Juruviara. Quase 10 minutos de pura emoção, no lirismo e na intensidade dos versos, que dialogam com várias imagens, contextos, possibilidades também sobre Fortaleza, em tempos de eleições municipais: "Amiga, não chora se o tempo passar, se a lua demora, se não quer voltar, se a cidade está mais feia".




 

Destaque para a guitarra de Alan Kardec. Impossível não lembrar o mestre Cristiano Pinho, responsável por arranjos preciosos para os discos solo de Fausto, adornando de minimalismo, cuidado, esmero a voz do compositor. Impossível também deixar de reverenciar Fausto pelos versos da canção, magistral: "Alguém fotografou três jangadeiros em frente ao mar. Entre as canções azuis, o riso da noite, a estrela do bar. Uma cidade queimada de sol ardia em nossa voz. A lua vagava na barca do céu. A dalva e a lua cheia. A brisa encantava seus lábios de mel. Lágrimas de amor na areia. Eu sei que essa estrela não vai apagar teu olhar, teu corpo ardente. Rainha das águas, não volte pro mar. O mar já esqueceu a gente (...) A fotografia não vai revelar as lágrimas do bar Sereia".

Pra lembrar daquela outra, que ficou pra quarta-feira, quando na mesma programação, sob curadoria de Calé, o CCBNB sedia o show "Eles cantam Fausto". "Há fotografias de Hiroshima nos olhos das meninas do sertão". Verso emblemático de "Lua do Leblon", de Fausto e Lisieux Costa, que na quarta-feira será interpretada por Gilmar Nunes, no show que conta com ele, Rogério Franco, Luciano Robot e Edmar Gonçalves, em uma elogiável diversidade, contemplando intérpretes por vezes mais associados à cena da "noite" fortalezense, e com muito a dizer também em centro culturais, teatros e espaços outros.




Com direito a mais gente cantando junto e a pedidos de acertos na sonorização, Juruviara também brilhou em outros dois clássicos, "Flor da paisagem", de Fausto e Robertinho do Recife, e "Baião da rua/Baião cigano", instrumental de Nonato Luiz que ganhou letra "padrão Fausto" (ou mais além) para se tornar uma referência da canção do Ceará para o Brasil. Muitos aplausos!

Juru também falou da emoção de ter participado, na noite anterior, da abertura da exposição em homenagem a Fausto em Quixeramobim, na "Casa Tudo Azul", a casa que fora de sua família e, antes, de Antônio Conselheiro.

Com uma breve menção ao blues "Cor de sonho", Juruviara convida ao palco Mona Gadelha, que brilha em "Frenesi" exaltando Petrúcio Maia, Francisco Casaverde e a querida Téti - "a melhor interpretação de 'Frenesi' é dela". Mona também apresentou, entre outras, uma recriação sutil e bela de "Astro vagabundo" (Fausto e Fagner), que ela já gravara no disco "Praia lírica", e uma versão "bolero moderno" para "Retrato marrom", clássico de Fausto e Rodger Rogério, que não compareceu ao show deste sábado. Para "se guardar", depois de enfrentar uma gripe forte, para cantar no Cineteatro São Luiz neste domingo, como convidado especial no show de 70 anos do violeiro, violonista, guitarrista, compositor, arranjador, produtor musical Manassés. 

Última intérprete a retornar ao palco, Yane Caracas contou com o público cantando junto outros superclássicos, como "Chorando e cantando", de Fausto e Geraldo Azevedo, e as carnavalescas "Chão da praça" e "Coisa acesa", antes de todos se reencontrarem para um último número, sem direito a bis, apesar dos pedidos. Ficou pra quarta-feira, dia 4, quando intérpretes masculinos dão continuidade à programação, e para a quinta-feira, quando é a vez de as mulheres ganharem o palco.


Flávia Rogério, Julia Fiore, Rogério Franco, Paulo Branco e bisnetos de Rodger e Teti
















Além de grandes interpretações e muitos aplausos, a noite de sábado no CCBNB também foi marcada pela plateia numerosa e pela presença de muitos músicos/as, como Ricardo Bezerra (parceiro histórico de Fagner e colega de geração de Fausto), Rogério Franco, Jord Guedes, Johnson Soarez, Eugênia Néri, Paulo Branco, Lia Veras, Ronaldo Cavalcante, Bárbara Sena (filha de Tarcísio Sardinha, responsável por arranjos para discos e shows de Fausto Nilo, incluindo discos gravados ao vivo), Edmar Gonçalves, Luana Braga, Julia Fiore (neta de Rodger e Téti), Flávia Rogério (filha de Rodger e Téti), sendo que Julia e Flavia levaram os bisnetos ao show, com direito a fotos lado a lado de imagens da infância de Téti, para muitos comentários impressionados com a semelhança entre a cantora e a criançada.



A programação especial em homenagem a Fausto Nilo no CCBNB Fortaleza segue nos dias 4 e 5 de setembro, com filme, debate e apresentações musicais.



Na quarta, 4/9, às 19h, tem a exibição do documentário “Folia das Formas”, realizado pelo escritor cearense Lúcio Flávio Gondim. Às 20h, acontece o show “Eles cantam Fausto”, com participação de Edmar Gonçalves, Gilmar Nunes, Luciano Robot e Rogério Franco. Edmar e Rogério estiveram presentes neste sábado, prestigiando o primeiro show da programação, com direção musical de Calé Alencar.


Quinta, 5/9, às 19h, no CCBNB Fortaleza. Continuação da programação em homenagem a Fausto Nilo, com curadoria de Calé Alencar. O editor do caderno Vida & Arte, do jornal O Povo, e crítico de música Marcos Sampaio realiza um bate-papo literário com o compositor, jornalista, crítico de música e produtor cultural Dalwton Moura, a partir do tema da dissertação de pós-graduação de Marcos, “Discursos em Canções: Uma análise semiótica das relações entre O Homem, A Cidade e A Sociedade em letras de música de Fausto Nilo”, de sua dissertação de pós-graduação. Às 20 horas, show “Elas cantam Fausto”, com as cantoras Aparecida Silvino, Clara Dourado, Lídia Maria e Roberta Fiuza.

O azul de Jezebel no céu de Calcutá! Feliz constelação! Viva Calé, que em outubro também celebra - no caso, seus 70 anos! Viva Fausto Nilo: 80 carnavais ao redor do sol!










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