Rodger Rogério e o prêmio em Gramado-RS: "Não esperava. Não estava assistindo. Foi uma grande surpresa"

Cena do filme "Oeste Outra Vez", que teve Rodger Rogério premiado como melhor ator coadjuvante


 

"Não esperava. Não estava assistindo. Foi uma grande surpresa! Mas que maravilha, né?". Com muita humildade, o cearense Rodger Rogério, 80 anos, cantor, compositor, ator, professor universitário aposentado de Física, recebeu na noite deste sábado, 17/8, a notícia de que venceu o Festival de Cinema de Gramado, na categoria Melhor Ator Coadjuvante, em "Melhor Outra Vez", de Erico Rassi, produção que também conquistou os prêmios de Melhor Filme e de Melhor Fotografia, por André Carvalheira.

"No filme contraceno com o Antônio Ângelo, ator principal. Em muitas cenas em que um está, o outro está também", declarou, já após as 23h deste sábado, assim que recebeu de um dos seis filhos - o também guitarrista Rami Rogério - a notícia sobre a premiação.

Aos 80 anos, celebrados em 28 de janeiro com shows que acontecem desde então, Rodger Rogério, ator reconhecido por filmes como "Bacurau", "Greta" e "Pacarrete", encarou uma verdadeira maratona para estar presente na última segunda-feira ao Festival de Gramado, quando da apresentação do filme "Oeste Outro Vez", um faroeste rodado no Interior goiano, onde, segundo Rodger somente ele e o veterano ator Antônio Pitanga tiveram "o luxo" de dormir em casa de tijolo, ficando todos os demais do elenco e da equipe técnica em barracas montadas no cerrado.

Nos dias 8 e 9 de agosto, Rodger fez shows comemorativos por seus 80 anos na região do Cariri cearense, no Sul do Estado, sendo a primeira noite no Teatro Sesc Crato e a segunda no Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri. Encarou mais de 10 horas de viagem em cada trecho (Fortaleza-Juazeiro do Norte na ida, dia 7, 22h30, e Juazeiro do Norte-Fortaleza às 22h30 da sexta-feira, 8 de agosto, logo após uma aplaudidíssima apresentação musical no CCBNB Cariri, ao lado dos músicos Luciano Franco (parceiro de composição e diretor musical), Ibbertson Nobre, Edinho Vilas Boas, Rogério Franco (seu irmão, comemorando 60 anos) e Dalwton Moura (parceiro de composições e produções) e do convidado especial Abidoral Jamacaru, tradicional cantor e compositor cearense. Também participou do show de Edinho Vilas Boas na Casa Ucá, espaço cultural alternativo e independente, no município do Crato, integrando-se a uma roda de improvisação com artistas caririenses e recebendo homenagens por meio de interpretações de clássicos como "Barco de cristal" (parceria com Fausto Nilo e o recentemente falecido Clodo Ferreira), "Ponta do lápis" (com Clodo) e "Quando você me pergunta", com Antônio José Lima e Silva.

Chegando a Fortaleza no sábado por volta de 9h30 da manhã, Rodger teve exatas 24 horas de "descanso" antes de decolar rumo a Gramado - desta vez, sem a presença da esposa, Vânia Porto Rogério, que com ele viajara para o Cariri. O longo trajeto contou com escala em São Paulo e parada final no aeroporto de Canoas, antes de seguir para buscar a bagagem em Porto Alegre e de lá para Gramado.  

Após participar da apresentação do elenco do filme "Oeste Outra Vez", na segunda-feira, chamando atenção e sendo muito requisitado para entrevistas e fotos, na segunda-feira, Rodger retornou a Fortaleza na madrugada de quarta-feira, sendo recebido pela família no aeroporto e descansando para participar à noite, no tradicional Cineteatro São Luiz - inaugurado em 1958 e, para muitos, o mais belo cinema de rua do País - do show comemorativo pelos 25 anos de música do parceiro Dalwton Moura. Na ocasião, Rodger foi o mais aplaudido, entre os mais de 20 músicos participantes do espetáculo, entre parceiros e intérpretes.

O começo no teatro: curso em 1989

Na noite deste sábado, sem saber ainda que "Oeste Outra Vez" também vencera os prêmios de melhor filme e melhor fotografia no festival, Rodger relembrou seu início no teatro, que se deu com o Curso de Arte Dramática oferecido pela Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, no "teatrinho" universitário Pascoal Carlos Magno.

Formação que ele procurou com dois objetivos, que não atuar: primeiro, tentar minimizar a timidez que sempre o caracterizou, desde os tempos de cantor e compositor da geração conhecida por "Pessoal do Ceará", do disco com Rodger, Ednardo e Téti lançado em 1973 e do disco com Rodger e Téti publicado em 1975. Época em que os cearenses "conquistaram" a grande indústria nacional do disco e espaços em diversas emissoras de TV, inclusive como "compositores residentes", fixos, para o programa "Proposta", na TV Cultura.

"Além de ser tímido no dia a dia, eu cantava sussurrando. Cantava baixo. No curso de teatro, descobri que tinha voz. Que podia cantar ou atuar, falando, para a pessoa sentada na última cadeira da última fila do teatro", relembrou na noite deste sábado da premiação em Gramado.

"Com o curso, vi que tinha voz. E passei a cantar mais. A gostar de cantar. Inventei de ser cantor, além de ator", disse, relembrando que cedo descobriu que gostava mais de fazer cinema do que teatro - apesar das longas esperas - e ressaltando que a descoberta da real intensidade de sua voz foi um grande diferencial, com mudanças em sua vida. 

"Passei a fazer mais shows, mais à vontade, a gostar mais de cantar. Peças de teatro, curtas, com prêmios em festivais... Faço isso há 35 anos, embora muita gente não soubesse. Até porque não tenho agente. As pessoas vão me chamando pra fazer os filmes. Curtas, longas... E eu vou fazendo", pontua. 

Mais recentemente, com "Bacurau", "Greta", "Pacarrete", "Finais de Domingos", muito mais gente ficou sabendo, acrescentamos nós.

"É surreal estar na capa da Cahiers du Cinema, revista que a minha geração lia, nos anos 60. Um amigo, o Flavio Torres, disse que viu em Paris a foto da capa da revista com o elenco de 'Bacurau', no metrô. Ele disse que tirou uma foto dando cotoco pra mim...", ri-se, feliz com as boas notícias da noite de sábado. 

"Que bom que fui pro festival, mesmo com essa distância. Não pude ficar a semana pra estar lá hoje na premiação, nem sabia que era hoje. Mas já me disseram que alguém ficou com o troféu (Kikito de Ouro) e que vai dar um jeito de enviar ou trazer pra mim", disse, com a estante e as paredes do apartamento em Fortaleza já esperando pelo novo adereço. O mais cobiçado do cinema nacional.


Rodger Rogério em 2024: shows de 80 anos e novo livro-disco


Os shows Rodger Rogério - 80 Anos, que já aconteceram em Fortaleza, em Guaramiranga-CE no tradicional Festival Jazz & Blues, sendo Rodger o grande homenageado do festival, no Crato e em Juazeiro do Norte, integram uma série de atividades em comemoração a essa data marcante para esse mestre da música do Ceará para o Brasil e destacam também o lançamento do livro-disco em que Rodger interpreta canções de dois compositores conterrâneos: seu irmão, Rogério Franco, e Alan Mendonça. 

Pouco mais de 50 anos depois do clássico LP "Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem - Pessoal de Ceará", de Rodger, Téti e Ednardo, Rodger Rogério volta a lançar um disco cheio, seu primeiro álbum exclusivamente como intérprete. O livro-disco está à disposição, também pelos correios, mediante contato com a editora Radiadora ou o Instagram do artista, @rodgerrogerioarte. 


Outros lançamentos recentes

Em 2023 Rodger Rogério lançou, em parceria com o cantor e compositor cearense Vitoriano, o álbum "Instante Zero ou O Primeiro Sinal Luminoso", incluindo inéditas em parceria entre os dois.

Em 2022 lançou o especial audiovisual "Chão Sagrado Revivido", regravando a íntegra do repertório do álbum que em 1975 dividiu com a cantora Téti. E há cinco anos, no Cineteatro São Luiz, Rodger comemorou 75 anos lançado o EP "Velho Menino", em parceria com Dalwton Moura, incluindo o clipe da canção "As deusas d´Iracema". 

Atualmente, o mestre também está gravando canções com seu filho, Pedro Rogério, professor do Curso de Música da UFC, e se dedicando à pré-produção de um disco de inéditas de sua autoria e de diversos parceiros, incluindo três canções compostas com Belchior. Uma delas foi mostrada em primeira mão nos shows comemorativos dos 80 anos. 

"Com toda a sua vontade de viver, Rodger nos dá mais uma lição de que vale a pena se dedicar à arte", destaca Pedro Rogério, sobre este momento de expectativa para o show e para a abertura do ano inteiro de comemorações. 

"Eu comecei a celebrar os 80 anos em janeiro. E continuo a celebrar durante o ano todo, até os 81", ressalta Rodger, que costuma dizer que não tem carreira, e sim uma caminhada. 

Todas as músicas do repertório dos shows comemorativos pelos 80 anos são de Rodger Rogério e parceiros, com exceção de "Uma canção a mais" e "Futuro e memória (ambas de Rogério Franco e Dalwton Moura) e do tradicional bis com "Cavalo-ferro", de Fagner e Ricardo Bezerra. Além dos "superclássicos" como "Ponta do lápis" (parceria com Clodo Ferreira, que segue no repertório dos shows de Ney Matogrosso),  "Barco de cristal" (com Clodo e Fausto Nilo), "Quando você me pergunta" (com Antônio José Lima e Silva), "Retrato marrom" (com Fausto Nilo), "Falando da vida" e "Curtametragem" (ambas parcerias com Dedé Evangelista), destaque para canções mais raras em seu repertório: "Bom dizer", parceria recente com o maestro Luciano Franco, diretor musical do show, também inédita, e "Proposta", inédita de Rodger e Belchior.



Criação e muitas comemorações

Entre outras ações pretendidas para a comemoração de 80 anos de Rodger está o lançamento do aguardado disco de inéditas e a sequência do lançamento dos singles que fazem parte do álbum que o cantor, compositor, multi-instrumentista e multi-artista cearense Gustavo Portela gravou, todo dedicado a releituras de lados B e inéditas de Rodger, incluindo clipes de diversas faixas. 

Há ainda planos para novas apresentações do show "Futuro e Memória - Grandes Nomes da Música do Ceará", projeto de Rogério Franco e Dalwton Moura com dois discos lançados e um espetáculo em que Rodger sobe ao palco com Téti, Edmar Gonçalves, Davi Duarte, Kátia Freitas, Calé Alencar, Gilmar Nunes, Theresa Rachel, entre outros.


Além de um dos cantores, compositores e atores mais importantes do País, Rodger Rogério é pai, avô, bisavô, físico, radialista, professor aposentado, "criador da matéria e do imaterial", com música, cinema, amizades, alegria. "Me sinto começando, sempre. Sempre com o desafio de fazer melhor, interpretar melhor. Além de compor e atuar, cantar é o que mais gosto de fazer. Quero cantar muito, muito. Sempre cantar", revela Rodger. Cantemos com ele.


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