Armandinho, Yacoce e Marco Lobo recriaram clássicos de Gil e Caetano, com arranjos enxutos e sutis, neste sábado, no Choro Jazz em Fortaleza
Yacoce Simões, Armandinho e Marco Lobo, no anfiteatro do Centro Dragão do Mar neste sábado, 30/11, abertura da etapa Fortaleza do Festival Choro Jazz (Fotos: Tainá Facó) |
"Nem tudo é carnaval". O bandolinista e guitarrista Armandinho deu, no palco do Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, na noite deste sábado, a melhor definição para o show que fez pelo festival Choro Jazz, ao ldo do percussionista Marco Lobo e do pianista Yacoce Simões. Com arranjos bem diferentes, inspirados e mais das vezes enxutos, para clássicos e canções menos recorrentes dos conterrâneos Gilberto Gil e Caetano Veloso, em um projeto que surgiu pelos 80 anos dos mestres, o trio de artistas baianos convidou o público do anfiteatro a entrar em um outro clima. Uma atmosfera de silêncios e sons, certamente diferente do que quem não conhece o projeto, lançado inclusive em disco pela Biscoito Fino, poderia esperar de um show com Armandinho e Marco.
"Os mais doces bárbaros" abre o show - e o encontro de mestres, cada um deles, um universo em si, tendo a interação e a dinâmica como destaques, desde já, no bandolim de Armandinho. "Palco" vem também com um sabor pra cima, mas já revelando ao público que a viagem pelos temas de Gil e Caetano contará com muitas surpresas no caminho, com outras formas de vestir de prazer e beleza canções tão clássicas, tão absolutamente presentes no imaginário coletivo. Outros modos de tocar os mesmos temas - olhaí se não é uma característica do jazz! A bagagem, a sensibilidade, a experiência, a trajetória, a personalidade dos músicos se somando e gerando propostas bem diferentes das gravações originais.
"A paz" é outro exemplo, com essa parceria de Gil e João Donato se tornando um mantra no arpejo do teclado de Yacoce, com as sutis e inventivas contribuições dos parceiros. "São músicas realmente pra gente sentir, pra contemplar. Melodias maravilhosas", comentou Armandinho. E "Tropicália" surge como uma suite, a passagem para um transe, com direito a variações em citação a outras canções de Caetano, a cada "estrofe" instrumental. "Eu vim da Bahia" também chega com sutileza, "pisando devagar", intimista, enquanto "Toda menina baiana" vem com o convite de Armandinho. "Essa eu sei que vocês vão cantar".
Outro grande destaque da noite foram os números solo, com Yacoce mergulhando na espiritualidade ao reconstruir "Se eu quiser falar com Deus". "Uma grande mágica desses dois gênios que a gente escolheu trazer algumas coisas de repertório tá exatamente na vontade de transcender, pela arte e pela música. Quando a gente ouve praticamente qualquer coisa de Gil e Caetano, a gente vai pra outro lugar. São músicas que trazem, pelo menos a nós músicos, um grande sentimento de espiritualidade", detalhou, antes de Marco Lobo levantar o público do anfiteatro com sua performance no berimbau e com instrumentos de percussão afixados nos tornozelos, o corpo falando, cantando, marcando o ritmo da sensibilidade do artista e da plateia.
Na parte final do show, o bandolim de Armandinho dá lugar à guitarra baiana, para relembrar o trio de Dodô e Osmar e recriar mais canções de Gil e Caetano. Retocar esses mestres e em sua vasta obra encontrar novas nuances e possibilidades é um desafio para qualquer artista. Armandinho, Yacoce e Marco Lobo venceram. E presentearam o público com o show e o desejo de escutar o disco, ouvir e reouvir. Retocando, sempre.
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