Armenina do Coco de Fulô – assim mesmo, com “as meninas”
junto, como se fala, informalmente, no dia a dia – fizeram o primeiro show deste
domingo, no palco na praça principal de Jericoacoara, noite de despedida do festival
Choro Jazz, edição comemorativa de 15 anos do evento. E arrebentaram! Levantaram
o público, incendiaram o “corpo de baile” com muita gente tomando os espaços
pra dançar ao som de composições de grandes mestras da cultura e também de
integrantes do próprio grupo.
“Armenina” estudam, ensaiam duas vezes por semana, “religiosamente”,
em encontros em que também se fortalecem quanto a temas como o trabalho do dia
a dia, a luta por respeito às mulheres e contra as adversidades que dificultam
ainda mais, para artistas femininas, a manutenção de um grupo que já existe há
oito anos. Poesia, música e expressões corporais, figurino, presença cênica e
nada menos que dez vozes – todas as integrantes cantam, sendo três vozes
principais e demais em uníssono em um potente coro – e diferentes instrumentos.
“Armenina” são Sarah Chaves da Costa (pandeiro e voz), Débora
Letícia Moraes (triângulo e voz), Silvana Wolfsohn (rabeca e coro), Paula
Isis Cavalcante Castelli (pandeiro e voz), Patrícia Oréfice Ollitta (ganzá
e coro), Pilar Almeida Garreta (alfaia), Sol Freitas Mula (matraca e coro),
Kamilla Farias de Melo (ganzá e coro), Anabel Almeida Gomes (cajon e coro),
Áquila Rebeca de Sousa Félix (alfaia). As mais jovens, duas de 12 anos, são filhas de outras integrantes.
E foram acolhidas com um abraço apertado pelo público de
Jeri, incluindo muitas colegas, além de familiares, amigos, admiradores desse
trabalho, que se estende por muito mais que o ritmo acelerado e intenso do coco
das tantas percussões, chegando ao ritmo da vida na vila, da batalha diária para
criar os filhos, conciliar os afazeres tantos, entre família, trabalho, música,
arte, realização pessoal, criação artística.
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Armenina do Coco de Fulô, depois do show no Choro Jazz, nos bastidores |
Pois “Armenina” receberam ao longo de toda a apresentação
aplausos proporcionais a toda essa dedicação. Simplesmente arrebataram o
público, desde quem dançou o tempo todo até quem aplaudiu de pé. “Bora dançar
coco e bagunçar essas cadeiras!”, conclamaram. Prontamente atendidas!
Abrindo o show visivelmente emocionadas, “Armenina”
começaram com uma canção de mestre Maria de Tiê. E mostraram duas composições
próprias – uma delas, em homenagem a Lia de Itamaracá, a grande homenageada do festival
Choro Jazz neste ano, que se apresentaria na mesma noite. “Ainda não encontramos
com ela. Vamos encontrar aqui depois do show. Eita que emoção”, comentou Kamilla,
em entrevista depois que “armenina” desceram do palco sob aplausos de pé e mais
pedidos de bis.
E Kamila também deixou registrada a posição do grupo em
defesa de Jericoacoara e contra a concessão à iniciativa privada que vem sendo
rejeitada pela comunidade, que realizou manifestação no começo desta semana e
tem nova passeata marcada para o dia 20/12.
“A gente não deixa de ter um movimento político, em prol do
turismo sustentável, do turismo cultural. Além do movimento de representação
feminina, em um universo como o do coco, no litoral cearense, que é muito
masculino. Você vê mulheres de um ano pra cá”, ressalta Kamilla. “No Cariri
mulheres como a mestre Maria do Tiê são destacadas, mas no litoral causou
surpresa a gente se apresentando em um evento em diversas cidades”, relatou. “Nosso
grupo é também por causa disso. Porque a gente não quer que morra essa tradição
de tantos anos”.
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Foto de acervo do grupo |
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