Pelo segundo ano consecutivo, a Virada Cultural do CCBNB
teve entre seus melhores momentos um show coletivo de artistas do Maranhão. A
caravana veio em 2024 com muitos outros nomes, mantendo alguns dos que
estiveram em Fortaleza no ano passado, como Wilson Zara, literalmente quem
dirige o grupo, ao guiar sua van, adesivada com sua foto, de São Luís à capital cearense. Na noite desta
sexta-feira, 14/12, o grupo se apresentou no Palco Garagem, no centro cultural,
voltando a tocar no Passeio Público neste sábado, em formato intimista e
informal, a partir das 14h deste sábado.
Além de Zara, brilharam na nova versão do show coletivo Elizeu
Cardoso, Klícia, Luma Pietra, Chico Nô, Nicole Terrestre, Ruaní e outro grande mestre:
Josias Sobrinho, autor de clássicos da música do Maranhão para o Brasil.
Oportunidade de o público de Fortaleza, no Brasil que não conhece o Brasil,
tomar contato com diversas gerações da cena maranhense, em uma reunião de
artistas de diferentes faixas etárias e propostas estéticas, em uma amostra de três
canções para cada um/a, no Palco Garagem, da Virada Cultural do CCBNB.
Os intérpretes se sucediam, desafiando a banda-base composta por Isaías Alves, João Simas e Samir Aranha, a trafegar por vários ritmos, estilos, expressões, texturas, ambiências sonoras, de acordo com a personalidade de cada cantor/a, em uma noite em que o repertório autoral felizmente foi prioridade. A cantora Rauní começou os trabalhos, desejando a todos um momento de espiritualidade, de limpeza, em canções sobre os orixás. “Yansã, dona do movimento...” cantou. “Ora ie ie ô...”. E o público cantou junto, celebrando o início da festa.
O super suingado Elizeu Cardoso subiu então ao palco, com
suas canções de forte apuro rítmico e comunicação imediata com a plateia, com o
trio pulsando junto com o cantor e compositor em “Equinócio”, música que foi
gravada por Dicy, uma das vozes presentes à Virada 2023 e que desta vez
deixaram saudade. “Venho de uma terra de muitos negros e negras, de Baixada”,
disse, antes de cantar “Coureira”, mais uma vez liderando o trio na célula
rítmica e as palmas da plateia.
Já no Passeio Público, na tarde de sábado, Elizeu optou por
um repertório mais cadenciado, com “Dona tá reclamando” e a lírica e reflexiva “O
mundo”, entre outras canções sob as árvores do Passeio e os olhares e palmas
dos colegas de grupo, acompanhando, acolhendo, abraçando.
Voltando à noite de sexta e ao show no CCBNB, Chico Nô
manteve o ritmo intenso com “A cor da pele”, uma das preferidas também de
integrantes da caravana: “A cor da pele fere a cara, espanta os olhos do Alemão,
também sugere valor a quem traja e determina a condição. A cor da pele é só vestir.
No fim, a gente é tudo cor de chão”, cantou. “Qualquer cor merece consideração”.
“Como é importante essa conexão Ceará e Maranhão! E com outros estados também. Bora pro Maranhão, fazer um projeto desses lá também”, conclamou Chico, antes de fechar sua apresentação com a ritmada e forte “Todas as vidas valem”, canção que também ganhou clipe, com participação de outros artistas maranhenses, e foi destacada em uma campanha do Movimento Nacional de Direitos Humanos.
Em Fortaleza, o mestre Josias Sobrinho
Hora e vez então de o mestre Josias Sobrinho, sob efusivos
aplausos dos conterrâneos e dos cearenses, subir ao palco para mostrar seus clássicos,
em atmosfera emocionante. Como “Dente de ouro”, cantada em coro pela plateia, e
“Engenho de flores”: “Ê, alumiô toda terra e mar / Ê, alumiô toda terra e mar /
Eu ví fortaleza abalar / Eu ví fortaleza abalar / Agora que eu quero ver / Se couro de gente é p'ra queimar”. “Terra de
Noel” fechou a apresentação, também com a turma cantando – e pedindo mais – do mestre.
Mas tinha muita gente ainda pra cantar. “É um prazer muito grande estar aqui. É a primeira vez que toco em Fortaleza, mas tenho muitos amigos aqui e artistas que me influenciaram também”, ressaltou. “Mas vamos passar a bola. É passando a bola pros outros que a gente vai adiante”.
E como em um ponto de inflexão, as cantoras que assumiram o palco chegaram com estética e proposta diferentes, desde outras formas de canção, outros temas nas letras, outras tessituras sonoras. Como na apresentação de Luma Pietra, com autorais como "Fumaça". E no jazz-rock-indie-neo-soul de Nicole Terrestre, em um saboroso acento pop, tanto no cantar quanto nas composições. Como "Guru de Gandhi": "Mas quando eu preciso usar a minha lábia pra te conquistar... eu viro um guru de Gandhi".
"Manguaça", que estreia em 2025 nas plataformas com participação de Klícia, e "Milissegundos", com direito a pedido prévio de "perdão pelo palavrão", também ganharam muitos aplausos, conquistando a plateia à primeira audição.
Klicia foi outro destaque da noite, começando sua apresentação com "Complicado", uma canção sobre... as dificuldades do amor. "Errando sem querer. Louco é quem diz que amar é fácil". Realmente... "Novas danças" também foi bem recebida, com direito a comentário da artista sobre a Virada Cultural. "Na primeira vez que vim a Fortaleza, tava atrás de lugar pra tocar. Que bom hoje estar aqui, na Virada, pela segunda vez".
E os maranhenses encerraram o show com todos e todas voltando ao palco, para muitos aplausos, com Josias Sobrinho puxando a turma. Antes do show coletivo, outro grande compositor do Maranhão, Nosly, também havia se apresentado na Virada do CCBNB, ao lado do pernambucano Marcelo Melo, do Quinteto Violado. E Nosly também participou do show coletivo no sábado, no Passeio Público, brindando a plateia com sucessos como "Parador" e a parceira com Zeca Baleiro e o cearense Fausto Nilo, "Versos perdidos". Fortaleza já aguarda pela próxima caravana, na Virada 2025, e torce pra que esse intercâmbio possa acontecer em mão dupla e mais vezes ao longo de todo o ano. Pontes para a música!
Foi um prazer e um aprendizado estar mais uma vez na Virada Cultural CCBNB Fortaleza 2024. Parabéns Dalwton Moura, pela sensibilidade ao captar a essência da nossa caravana e traduzir nesta generosa matéria.
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