Paul McCartney já está no Brasil, para os shows da turnê "Got Back", que teve início na Austrália, passou pelo México e tem o primeiro show por aqui nesta quinta-feira, 30/11, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, seguindo para Belo Horizonte (dias 3 e 4 na novíssima Arena MRV), São Paulo (7, 9 e 10/12 no Allianz Parque), Curitiba (13/12, no Estádio Couto Pereira) e terminando no Rio de Janeiro, no Maracanã, em 16/12.
Desde 2010 o ex-beatle vem com frequência ao Brasil, depois de ter feito duas passagens pelo País, em 1990 e 1993. A banda com quem ele sobe ao palco desde 2001 já é o mais longevo grupo com quem ele trabalhou em seus 81 anos de idade e cerca de 65 de carreira: os excelentes Wix Wickens (teclados, acordeom), Rusty Anderson (guitarras), Brian Ray (guitarra e, quando Paul vai para outros instrumentos, contrabaixo) e Abe laboriel Jr. (bateria).
O repertório da turnê, como é tradição nos shows de McCartney há mais de 20 anos, traz os grandes clássicos dos Beatles, que não podem faltar, somados a canções da época dos Wings e a composições da carreira solo, incluindo músicas de diferentes épocas. Como o próprio Paul costuma ressaltar, é muito difícil mexer no repertório, dada a vontade do público, nas várias cidades por onde passam suas turnês, de vê-lo cantar os super clássicos, junto a faixas menos recorrentes e a algumas eventuais poucas "surpresas", como lados B, composições em "feat" com outros artistas e faixas do repertório do quarteto de Liverpool que ele nunca havia tocado ao vivo, ou que não tocava há muito tempo.
Entre as boas novas da turnê mais recente, antes da pandemia, estava também a presença de um naipe de metais - finalmente, depois de décadas com os metais sendo reproduzidos apenas pelos teclados de Wix! -, que valorizava muito mais a interpretação de canções como "Letting go", com os músicos escondidos no meio da plateia da pista nos estádios.
Para evitar qualquer chance de "spoiler" a quem está indo aos shows no Brasil, optamos aqui por não detalhar o repertório tocado nos recentes shows na Austrália e no México. Vamos focar na alegria e na expectativa de cearenses que se preparam para embarcar rumo ao primeiro show da perna brasileira da turnê, espetáculo que acontece em Brasília e que ganhou ainda mais importância, por marcar o retorno do ex-beatle ao País.
Uma vitória após os anos de muita dor e incerteza nos piores momentos da pandemia, quando o "workaholic" compositor e multi-instrumentista inglês se dedicou a compor e gravar sozinho - ou quase - um novo disco, o "McCartney III", que logo ganhou uma versão "reimagined", com diversos artistas recriando suas faixas. "Rockdown" foi o apelido dado por Paul ao "lockdown" que levou tantos e tantas a ficar em casa, para salvar vidas, enquanto, a despeito dos negacionistas, a comunidade científica batalhava por uma vacina e os profissionais de saúde tentavam achatar a curva e evitar cenários ainda piores.
Mais recentemente, Paul, Ringo e as representantes de John e George também cuidaram do lançamento do incrível "Get Back", seis horas de filme reeditadas a partir de mais de 60 horas de película e mais de 500 horas de áudio captados em janeiro de 1969 e retrabalhados pelo consagrado cineasta Peter Jackson (o mesmo de "O Senhor dos Anéis"), material que para muitos ajudou a reescrever esse capítulo tão importante da história dos Beatles.
E há poucas semanas foi lançada "Now and then", apresentada como "a última música dos Beatles", resultado de Paul e Ringo finalizando em 2022 a faixa resultante de uma demo caseira feita por John Lennon em 1977 e também trabalhada por McCartney, Starkey e George Harrison em 1995, quando do projeto Anthology, mas abandonada pelo trio, após veto de George então. Sem falar no relançamento dos "álbuns azul e vermelho", as coletâneas 1962-1966 e 1967-1970, inclusive em vinil, e dos vários projetos de Paul nos últimos anos, como os dois volumes de extensos livros dedicados a letras de suas canções, a participação no novo disco dos Stones e a faixa gravada com Ringo Starr para o novo disco do batera.
Fãs cearenses: expectativa e emoção
Fortaleza é uma das cidades mais "beatlemaníacas" do Brasil, com um programa de rádio, o Frequência Beatles, dedicado exclusivamente ao grupo desde o comecinho da década de 1990, com diversas bandas cover, como Rubber Soul (a mais longeva), Sargento Pimenta, as extintas Remember Beatles e Tribeatles e as mais recentes The Shout e Bulldog Ballads, vários colecionadores de discos e de Beatle-memorabilia em geral, viajantes frequentes para shows de McCartney e para eventos como as convenções dedicadas aos Beatles nos EUA e no Reino Unido.
A existência dessa cena tão intensa também contribuiu para que, há mais de 10 anos, em maio de 2013, Macca se apresentasse no Castelão, em noite de engarrafamento histórico e em um momento em que a capital cearense recebeu diversos shows internacionais, como os de Beyoncé, Iron Maiden e Elton John, em estádios, fato hoje dificultado pelo cenário econômico e pela não inclusão de outras capitais do Nordeste nesses roteiros.
Entre os fãs cearenses, o jeito foi então comprar ingressos e passagens e arrumar as malas. Para eles e elas, a expectativa pelos novos shows de Paul McCartney no Brasil é proporcional à felicidade inerente à realização dos espetáculos - após todas as incertezas da pandemia, que, muitos chegaram a temer, poderia significar a aposentadoria dos palcos, independentemente de toda a energia e de toda a entrega que mantêm McCartney na estrada. A turma do Frequência Beatles, o citado programa, da Universitária FM, por exemplo, estará no Mané Garrincha. Assim como outras moradoras da capital cearense.
"Estou indo pra realizar o sonho do meu noivo, que é muuuito fã dos Beatles e principalmente do Paul. Vai ser nosso primeiro show internacional, então estou com muita expectativa pra que seja um dos melhores que já fomos juntos", conta Vanessa Matias, 25 anos, estudante de design gráfico e moradora de Maracanaú.
"Espero guardar ótimas lembranças dessa noite". Vanessa participa de um dos muito grupos de whatsapp dedicados a colocar em contato fãs de McCartney que se preparam para ir aos shows - no caso, um grupo específico para os que irão ao primeiro show da turnê no País, em Brasília, nesta quinta, 30/11, no Estádio Mané Garrincha, onde fãs se revezam entre a preparação de lembranças do show, a organização de um encontro de "maccamaníacos" na véspera do show e até mesmo o acompanhamento do jatinho em que o ex-beatle viajou e do hotel em que ficará hospedado.
Show de presente de aniversário
Outra fã cearense ganhou da família a ida ao show em Brasília, como presente antecipado de aniversário de 16 anos, que acontece no dia 3/12, data, aliás, do segundo show do ex-beatle em solo brasileiro desta vez, na Arena MRV, em Belo Horizonte.
"Tenho muitas expectativas, já que nunca fui a um show tão grande assim antes e Paul McCartney é meu artista favorito. Espero que, mesmo com a idade, ele consiga transmitir toda a energia incrível dele nas músicas, e tenho certeza que vai ser um momento lindo e marcante pra todos os fãs da carreira dele que presenciarem esse momento", conta Roberta Thaís, moradora do bairro Dionísio Torres, em Fortaleza.
"Nunca fui em shows anteriores do Paul, mas, quando eu era pequena, em 2013, meus pais foram a um show dele na Arena Castelão, em Fortaleza. Foi um momento incrível principalmente pro meu pai, fã de Beatles desde criança e que transmitiu pra mim esse amor pela banda. Mesmo minha mãe, que não era tão fã assim, amou a energia do momento", conta Roberta.
"Para o show de Brasilia, vou com meu pai e minha madrasta, e, infelizmente, por conta dos gastos, não poderemos comparecer aos outros shows da turnê. Sobre as músicas, espero muito pelo momento de ouvir 'Hey Jude' e 'Live and let die' ao vivo, além de 'I’ve got a feeling', principalmente por conta do dueto virtual com o John (nos telões no estádio)", detalha Roberta.
"Porém, uma música em especial que eu senti falta no setlist foi 'Now and Then', que foi lançada recentemente e que eu acho que seria uma ótima oportunidade para inaugurá-la nos palcos. No mais, fico extremamente feliz de poder aproveitar esse momento tão especial com pessoas que amo e finalmente poder conhecer um dos maiores ícones da história da música ao vivo", ressalta a adolescente cearense.
Fã morador do Rio vai a sete dos oito shows da turnê
Os shows também alimentam a expectativa de fãs que se deslocam de outros estados, como um "maccamaníaco" do Rio de Janeiro, que vai a sete dos oito shows da nova turnê brasileira, multiplicados por datas extras em São Paulo (três shows ao todo) e Belo Horizonte (dois shows), diante da alta procura e dos ingressos esgotados. Andrew Matheus, 25 anos, programador e morador do Rio de Janeiro, é fã desde os três anos de idade, quando assistiu ao DVD de McCartney gravado no tradicional festival de Knebworth, que inclui canções como "Coming up", "Birthday", e "Can't buy me love".
"Aos 10 anos comecei a colecionar e aos 12 para 13 anos estive no meu primeiro show do Paul", relata, sobre o dia 23 de maio de 2011, quando esteve no estádio Nilton Santos, o Engenhão, no Rio de Janeiro.
"Depois deste fui em 4 de maio de 2013 à estreia de turnê mundial em Belo Horizonte, em 12 de novembro de 2014 no único até então concerto em arena fechada no Brasil, na HSBC Arena, Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 2017 e 26 de março de 2019 no Allianz Parque em São Paulo", detalha Andrews, que teve interrompidos pela pandemia os planos de assistir ao ex-beatle na Itália.
"Infelizmente, tive sorte no azar quando o concerto de Nápoles na Itália foi cancelado devido à pandemia de Covid de 2020. Cheguei a aprender italiano, e tenho o ingresso em mãos até hoje", conta.
"No entanto, felizmente, vou poder conhecer mais estados e consequentemente me aventurar ainda mais pelo Brasil já que estarei indo em sete dos oito shows sozinho, mesmo encontrando e conhecendo os amigos que fiz de forma presencial ou virtual nesses 12 anos de estrada, assim estreitando os laços. Afinal, com uma pequena ajuda dos amigos, a 'Magical Mystery Tour' ficará ainda melhor", espera.
"As minhas expectativas são as melhores, tendo em vista que cada show é uma grande aventura. Principalmente o concerto do Maracanã. Estudo na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e todos os dias vejo o estádio, então a ansiedade está a mil. As músicas que mais aguardo são: 'Getting better', afinal, o Paul moldou a minha vida com a sua dedicação de forma profissional e pessoal, logo a cada dia que passa fico 'getting better all the time'. A outra é 'I've got a feeling', que, mesmo já tendo visto, vou presenciar de forma diferente, graças à tecnologia colocando no telão a dupla Lennon/McCartney em ação".
Andrew conta que gostaria que o ex-beatle também apresentasse canções como "Women and Wives" ou "Find my way". "A primeira ele tocou no primeiro show dos EUA, em 2022, e a segunda andou tocando apenas na passagem de som. O motivo seria para conhecer o seu álbum mais recente, 'McCartney III'".
Paul McCartney já está no Brasil. Enquanto aguarda os shows em seu hotel em Brasília, quem sabe compondo uma nova canção ao piano ou ao violão, ou relembrando composições recentes ainda sem gravação, fãs de muitos estados, inclusive do Ceará, se preparam para uma "road trip" "in the back seat of some car", on a "long and winding road", ou para "jets" e "wings" pelos ares. Destino: muita música e emoção.
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