ENTREVISTA // O fã de Paul McCartney que ficou na grade em 5 dos 8 shows no Brasil. Os segredos, perrengues, riscos e emoções de estar em tantos shows e na primeira fila

 

Vinicius Augusto em Brasília, na grade bem diante do palco, no primeiro show da turnê, na quinta-feira, 30/11. Início de uma maratona de ônibus, filas, sol, chuva, música, encontros e emoção


Sabe aquele fã que é um dos primeiros a ficar na fila em grandes shows em estádio, para estar literalmente "na grade", de frente para o ídolo, na primeira fila? Vinicius Augusto, 26 anos, morador de Formiga-MG, é assim. Viajou de ônibus para todas as cinco cidades, superou o cansaço, acordou cedo a cada dia, enfrentou sol e chuva na fila e conseguiu ficar na grade, de frente para Paul McCartney, em nada menos do que cinco dois oito shows que o ex-beatle acaba de fazer no Brasil, com estádios lotados e muito sucesso. Em outras duas apresentações, Vinicius não conseguiu "pegar grade", mas ficou na quarta fila antes de Paul e banda. Deixou de estar presente apenas em um dos oito shows "normais" e no pocket-show surpresa realizado por "Macca" em 28/11 no Clube do Choro, em Brasília, ao qual poucas centenas de pessoas tiveram acesso por sorteio ou convite. Na turnê de McCartney, iniciada 13 dias após a morte da jovem Ana Clara Benevides em uma apresentação de Taylor Swift e marcada por muito calor em todas as cidades, o autor de "Hey Jude", "Helter skelter", "Lady Madonna", "Band on the run", "Let me roll it", "Come on to me" e tantas canções presentes no repertório de quase três horas renovou seu compromisso com o público, aos 81 anos, de forma afetiva, musical, emocionante. Confira entrevista com Vinicius Augusto e saiba detalhes da aventura de estar em tantos shows "na grade", bem diante de um dos artistas mais decisivos para a música do século XX - e cuja história continua no século XXI de forma intensa, ativa e criativa. Ao contrário de muito que se falou, sem indícios de aposentadoria. E antes que alguém fale que uma façanha como a de Vinicius só é possível com um orçamento altíssimo e proibitivo, ele detalha o quanto investiu, citando um valor bem abaixo do que muitos podem imaginar. Confira:



Dalwton Moura - Antes da maratona da turnê atual, em que você conseguiu "pegar grade" em cinco dos oito shows, você já havia visto Paul McCartney ao vivo? Já tinha conseguido ficar bem na frente do palco?

Vinicius Augusto - O primeiro show do Paul a que eu tive a oportunidade de ir foi em 2017, no Mineirão, com meu pai e meu irmão. Não lembro por que, mas nesse show a gente tava de cadeira superior. Eu já tinha ido em alguns outros shows de bandas grandes internacionais, bandas de rock, e eu sempre fui de pista premium, perto do palco, então sempre cheguei cedo pra tentar buscar um melhor lugar ali mais perto. E essa experiência do Paul na superior não me agradou, tanto visualmente quanto no som, entendeu? Você não escuta direito, não vê direito. Depois desse dia coloquei na minha cabeça que eu sempre ia chegar cedo, de pista premium, e tentar buscar sempre um melhor lugar pra ter a melhor experiência possível. Aí o Paul voltou em 2019, em São Paulo e Curitiba. Fomos eu, meu pai e meu irmão de novo, em São Paulo, 26 de março, meu segundo show do Paul, de pista premium. A gente chegou cedo, mas não tão cedo, né? Pela hora do almoço ali. Conseguimos pegar um lugar razoavelmente bom também, tipo terceira, quarta fila ali. E a gente curtiu esse show também. Aí depois veio a pandemia, pararam os shows. Quando Paul voltou agora, coloquei na minha cabeça que iria ao máximo de shows que conseguisse e de pista prêmio, que eu iria cedo para tentar ficar na grade ou na segunda, terceira fila. E foi assim.

Como foi o início do seu contato com a música dos Beatles e com a carreira solo do Paul?

Comecei influenciado pelo meu pai, que é baterista e sempre tocou em bandas de rock. Nasci já nesse meio, então em casa sempre teve muita música, muito instrumento musical e muito contato. E os Beatles é a maior banda. Sempre tive muito contato com os Beatles, sempre toquei muita música dos Beatles e comecei assim, ouvindo por influência do meu pai, um grande fã do Ringo Starr também. Então foi desde sempre praticamente, desde pequeno, quatro, cinco anos ali, começando a escutar e a ser influenciado só nesse universo, praticamente. 


Você já havia ficado na grade em outros shows? São muitos tipos diferentes de fãs, desde os que vão para o hotel onde o artista está hospedado, tentar vê-lo, até os que esperam no portão do estádio, para estar lá quando ele passar, até os que dormem no estádio na véspera do show, ou madrugam ali, para tentar lugar na primeira fila. Por que essa opção, no seu caso?

Já. Por exemplo, no show do Kiss, eu fiquei na grade central, assim, bem de frente com o Paul Stanley. Em show do Roger Waters também, bem de frente com ele. Já tinha essa experiência. Mas com o Paul foi a primeira vez. E realmente tem os fãs que gostam de ir ao hotel, ver ele chegando, e eu sou assim. O que tiver oportunidade eu tô indo. Em Brasília fui ver (de fora do estádio) a passagem de som no dia anterior. "Ver" assim, né? Vi o Paul chegar, ele passou o som, a galera que tava lá escutou o som do lado de fora, depois a gente viu ele sair. Em Belo Horizonte também, onde só não fui no hotel. Tive a oportunidade também de assistir a uma passagem de som de uma forma meio inusitada, no segundo dia de BH (segunda-feira, 4 de dezembro), fui ver se conseguia assistir à passagem de som. Em São Paulo não vi o Paul chegar, por estar na fila, e em Curitiba também. No Rio eu saí da fila pra ver a chegada dele no Maracanã e depois voltei pra fila. Fui ao hotel em Curitiba e vi o Hot City Horns (trio de metais que faz parte do show na atual turnê), vi o MJ Kim (fotógrafo oficial da turnê, da equipe de Paul McCartney), o DJ Chris Holmes (que se apresenta antes de cada show, "esquentando" o público), o câmera dele né, o Charlie, eu vi esse pessoal assim. Mas o Paul eu só vi chegando e saindo do estádio e na passagem de som, então o que tiver oportunidade, a gente tá buscando.


Registro do segundo show em Belo Horizonte, na segunda-feira, 4/12



Como é o dia, e a véspera do dia também, de quem se determina a pegar lugar na primeira fila de um show para 40, 50, 60 mil pessoas, como esses? 

Em Belo Horizonte algumas pessoas chegaram por volta das 22h na véspera. Quando cheguei, às 6 horas da manhã (do dia 3 e do dia 4 de dezembro, datas dos dois shows na capital mineira), já tinha duas barracas lá do pessoal que já tinha dormido. Em BH eu vi isso. Nos outros dias, Brasília não teve gente dormindo, só chegando bem cedo, tipo pelas 4h30, 5h da manhã. São Paulo também não vi barraca. No Rio eu vi barraca, mas parece que chegaram por volta das 3h, 4h da manhã. Curitiba também não vi barraca, mas lá eu cheguei um pouco mais tarde, por volta das 7h, 8h, não sei se teve gente que dormiu,  mas acho que sim. 


Como foi a sua jornada, nesses dias de show, com um calor fora do normal e com muito receio com a situação dos fãs, após a trágica morte de uma jovem no recente show de Taylor Swift no Brasil? O que é preciso para conseguir estar na primeira fila?

O roteiro é você ser resistente! Você tem que resistir, tem que querer muito aquilo. Não tem um roteiro próprio, cada um faz de um jeito. Eu, por exemplo, sou bem resistente. Sei que eu não vou conseguir dormir de ansiedade, não vou beber água, não vou comer nada, vou ficar com aquela sensação de ansiedade. Por exemplo, em Brasília, na primeira "grade" (forma de se referir a conseguir ficar na primeira fila do show, literalmente na grade), eu cheguei de viagem no dia anterior ao show, 6 horas da manhã. Fiquei o dia inteiro na rua, conhecendo a cidade, conheci um pessoal lá também. Cheguei no Airbnb que eu estava, já era 3 horas da madrugada. Às 4 horas da manhã, eu já estava saindo pra fila. Então, você não dorme. É uma maratona muito cansativa. Você tem que querer muito e ser resistente, tem que resistir. É quase uma prova de resistência. Agora tem gente que leva comida, leva água, leva barraca, leva sombrinha, leva, sei lá, alimentação pro dia inteiro. Eu não gosto de levar nada, até porque se eu levar eu também não vou comer. Cada pessoa é de um jeito. Pra fugir do sol, você põe um boné, leva uma blusa, faz uma cabana, tenta amarrar uma canga na grade, junta com o pessoal que tem uma sombrinha, tem uma canga ali, pega uma tenda, sai, dá uma volta, vai tomar um café, volta, avisa "Ó, eu tô aqui, só vou ali tomar um café, só vou ali almoçar" e volta. Mas você tem que marcar seu lugar ali, sua presença ali, entendeu? Não pode abusar da boa vontade do pessoal da fila. É tudo um jogo de xadrez ali. É tensão o dia inteiro. Se chover, você vai tomar chuva. Se fizer muito sol, você vai tomar sol, passa um protetor, não sei. Você tem que se virar ali no perrengue que é bem desgastante. É por isso que muita gente até passa mal. Antes de começar o show chega na grade, antes de começar o show já tem bombeiro retirando o pessoal, durante o show também. Às vezes passa mal na fila e é uma prova de resistência. Você tem que conhecer bem o seu limite, conhecer bem o seu corpo pra ver se você consegue aguentar aquilo ali, porque não basta só ser fã. Tem mais a questão física da coisa.


O que motiva a enfrentar esses sacrifícios, a ter essa resistência, a passar por tudo isso?

É a gente ter sempre a melhor experiência do show. A fila no sol, a escassez de água, você fica exposto ao tempo, sol e chuva, você não se alimenta direito, você não vai no banheiro. É o dia do show, então você reserva aquele dia praticamente 24 horas pra ter aquela experiência ali. E mesmo chegando cedo não é garantia de grade também não, entendeu? Porque principalmente no show do Paul, tem a galera do "Hot Sound" (pacote especial que custa cerca de 6.500 reais e dá direito a um almoço vegetariano, itens de merchandising e a assistir à passagem de som, que no caso de Paul McCartney dura muitas vezes mais de uma hora. Um verdadeiro show à parte, com outro repertório. Após a passagem, esses espectadores já podem ficar na grade, em frente ao palco, antes da abertura dos portões para o público em geral). Esse pessoal entra antes, e se o "Hot Sound" tiver lotado eles ocupam toda a grade. Tem a questão assim de como vai ser a revista (de bolsas e mochilas na entrada do estádio, quando se abrem os portões para o público geral), se você vai passar na revista demorada ou não. A questão do ingresso, se você vai conseguir passar rápido no ingresso. Você tem que correr bem pra conseguir pegar o melhor lugar... Tudo isso faz com que chegar cedo não seja garantia de grade. A grade é consequência de uma série de fatores, mas nunca é garantida. Então é meio loucura sim, mas a experiência é essa. 



O fotógrafo pessoal de Paul McCartney e da turnê, MJ Kim, em selfie na grade com Vinicius Augusto (camiseta roxa) e outros fãs, incluindo uma jovem com o cartaz destacando que o show foi seu presente de formatura


Qual é a sua estratégia na fila, pra enfrentar sol e chuva, fazer o tempo passar, garantir seu lugar ao sair pra se alimentar ou ir ao banheiro, tentar ficar descansado dentro do possível, pra ver o show com qualidade? Como são os momentos na fila e o que você mais observa, mais fica focado?

Na fila eu não gosto de ficar sentado. Gosto de ficar em pé e de sempre estar ligado assim, a 200 por hora assim, mantendo minha mente trabalhando, meu corpo trabalhando também. Ando pra lá e pra cá, estico as pernas, não gosto de ficar sentado, deitado, não consigo ficar parado. Quanto à alimentação, se eu tomar um café de manhã e comer alguma coisinha de sal na hora do almoço, vai me render até no outro dia, entendeu? Não ligo muito pra chuva e pra sol também, agora tem gente que gosta de ir preparado, levar garrafa d'água, levar barra de cereal, pedir almoço, marmita, McDonald's... Cada pessoa é de um jeito. Eu sou mais tranquilo, porque eu fico tão tenso e ansioso com o pré-show que eu esqueço, não me dá vontade de ir no banheiro, às vezes dá, mas passa, não me dá fome, não me dá sede. Às vezes posso até estar com fome, mas tô sem apetite, não vou conseguir comer. Depois que acaba o show, aí sim eu vou procurar alguma coisa pra comer, aí vai me dar fome, aí eu vou no banheiro, entendeu? Então pra mim essa tensão pré-show desgasta muito mentalmente, acho que mais mentalmente do que fisicamente. Porque é uma sensação ruim, você sabe que chegou cedo mas não é garantia de pegar grade, você não sabe se tem muito "hot sound" convidado, não sabe se os convidados vão ficar já na pista premium, não sabe se sua revista vai demorar, se seu ingresso vai dar problema, se eles vão pedir comprovante de meia entrada e vai atrasar mais ainda. Essa tensão é o que mais desgasta psicologicamente, eu diria.

Você é do tipo que faz amizades, contatos, interage com os colegas de fila? Como é que são as conversas nesses momentos? 

Fazer amizade com o pessoal da fila é essencial. Você tem que sempre conhecer alguém, pelo menos assim, ser reconhecido. Então, você tem que marcar presença, você tem que conversar com a galera da fila. Perguntar se foi no show anterior, se vai no próximo, marcar de se encontrar no próximo, ir montando esse ciclo de amizade assim, porque é importante. Uma hora você precisa de alguém, alguém precisa de você. Ir plantando ali, pra também colher durante a maratona, entendeu? E essas amizades, como as que foram feitas na turnê agora, com certeza vão além dos shows. A gente fechou um time ali, de grade assim, e sempre buscava chegar cedo, se ajudar, revezar na fila, guardar lugar... Ter uma amizade com o pessoal que viaja e também com o que mora na própria cidade é essencial, porque uma hora você precisa. E uma hora eles precisam de você também. Estar ali sempre um ajudando ao outro é importante. 

Estando tantas vezes na grade, é natural que você passe a conhecer e a ser reconhecido por integrantes da equipe da turnê, a quem o Paul costuma se referir como "the best crew on the planet", ao final dos shows. De quem você mais se aproximou, mais interagiu? Qual era a reação deles ao ver você de novo, em cada cidade, cada show?

Essa questão do staff do Paul, você sempre é reconhecido pelos seguranças, pelas pessoas da equipe da turnê. Tem o Ian, tem o Chris, tem o Brian também, que é bastante conhecido. Então, se você chegou no hotel, se você chegou num portão que o Paul vai chegar, seja para passar o som, ou um dia antes, como ele fez em Brasília, ou no dia do show também, ou pra ir na grade também, você vai ter contato com esse pessoal que circula muito. Você tem que mandar um "Hello!", então, entendeu? Você tem que tentar, assim, ser reconhecido, porque os caras te reconhecem. Tem que marcar presença, puxar papo. "Hey, Chris, how are you doing?", e tal. Às vezes ele ignora, nem olha na nossa cara. Mas depois, num próximo show, ele chega pra você e te cumprimenta, te reconhece, entendeu? Eu fiz isso bastante na grade, no portão onde o Paul chega, no show eu fiz também, no hotel e ali na grade também. Também sempre chamei o MJ Kim, tanto é que trombei com ele no hotel em Curitiba, tirei uma foto com ele, na grade do show em Curitiba também, ele passou, eu chamei ele, entreguei celular pra ele tirar uma selfie com a gente, entendeu? O Charlie também, que é o câmera dele, eu trombei com ele no hotel, perguntei se ele lembrava de mim, ele falou que lembrava, ele na grade também já gravou ali. Tanto o MJ Kim quanto o Charlie fez material comigo e com o pessoal que estava comigo, fez várias fotos, essas fotos aí devem sair também, em algum momento. No hotel também, o DJ Chris Holmes, trombei com ele, depois na grade, em Curitiba, ele passou e me cumprimentou. Então você sempre tem que buscar ser reconhecido, nesse meio assim, do staff do Paul, acho também importante.

Vinicius e a camisa da seleção brasileira personalizada para McCartney 23: mais uma "grade" para a coleção, no terceiro show do ex-beatle em São Paulo, dia 10/12

E após todo esse esforço, toda essa maratona, qual é a sensação de estar ali, na grade, na primeiríssima fila? O que muda na forma de curtir o show, de viver o espetáculo, de acompanhar detalhes da dinâmica da banda, da performance de cada um em cada música?

A sensação é de uma possibilidade real de interagir com alguém da banda, de interagir com o Paul. E isso sempre acontece. Em Brasília teve interação, principalmente se você levar algum cartaz, uma bandeira, entendeu? Em BH foi a maior interação, você sente que o Paul te olha, entendeu? Pode ser coisa de maluco, de fã maluco assim, mas você sente quando ele te olha, aquela troca de olhares assim. Em BH foi muito especial pra mim, acho que no primeiro ou no segundo show, acho que foi BH2, que naquela música "Getting better", quando ela termina, o Paul faz na guitarra e nessa hora ele vem pro meu lado, eu meio que levanto o corpo assim e faço como se eu estivesse tocando uma guitarra, só que eu fiz pro alto, imitando ele, como se fosse um dueto. E ele olha, percebe, olha assim pra mim e continua fazendo dueto, olhando pra mim. Um colega do meu lado conseguiu filmar. Outro ficou incrédulo e perguntou seu eu tinha visto o que aconteceu. A galera toda que tava em volta viu e veio falar comigo, e eu fiquei meio sem palavras, fiquei em choque. Em São Paulo também eu tava com uma amiga minha, tava com uma canga com uma bandeira do Brasil, minha camisa do Brasil escrito "McCartney número 23", ele olha, interage, aponta principalmente depois de "Hey Jude", que ele volta com a bandeira do Brasil a gente pegou e sacudiu a bandeira. Ele apontou pra bandeira. Em Curitiba a gente também sacudiu a bandeira, ele apontou pra bandeira e apontou pra dele, apontou pra nossa... Esse tipo de interação assim é o que faz valer a pena: você ter essa possibilidade assim de poder interagir com o staff ou com a banda também. O Charlie também, o câmera, que passa filmando sempre, quando toca alguma música assim e você tá mais animado, ele corre pra te filmar também, registrar o momento. O MJ Kim também, se você tá bem assim, com a bandeira do Brasil e tal, bem caracterizado, ele pega, para na sua frente, tira um monte de foto, aquele monte de flash. São essas coisas que fazem valer a pena, você buscar uma grade assim, esse tipo de interação que a chance de você ter aumenta se você tá bem ali na frente.

Os shows do Paul McCartney aconteceram pouco tempo após a morte de uma jovem no show da Taylor Swift e um grande debate público sobre os riscos dos shows em estádios, além de medidas legais anunciadas pelo Governo Federal para tentar diminuir esses riscos. Pela primeira vez em um show do Paul no Brasil, ele chegou a parar o show, porque o público na pista premium chamou atenção para uma pessoa que estava passando mal e pediu atendimento. Que mudanças você percebeu no show? Como é que foi também lidar com a sua família, a preocupação natural dos familiares, sabendo que você estava passando por toda essa maratona, pra ficar na grade? 

Realmente foi inédito, o Paul chegou a parar o show mesmo, durante a música o Abe (Laboriel Jr.), o baterista, estava até apontando já para o pessoal pedindo ajuda ali na pista premium, e o Paul parou, esperou atendimento a quem tava passando mal, perguntou se estava tudo bem, e só depois continuou o show. Depois do que ocorreu no show da Taylor Swift, houve um maior cuidado principalmente em distribuição de água, que antes não tinha. Hoje estão distribuindo água assim, por mais que a água seja quente, naqueles copinhos, mas beleza. Pra quem estava na grade foi até demais, teve uma hora que a galera não queria mais água. Veio até antes, porque o Roger Waters fez um show em Belo Horizonte também no dia 8 de novembro e já tinha distribuição de água na grade já. Mas o diferencial é que na fila à tarde houve distribuição de água também, em Belo Horizonte, no show do Paul. No Rio de Janeiro também teve, e com água gelada, aí foi bom. Só que tem distribuição de água e você fica exposto ao sol, na fila. Não sei o que eles arrumam, parece que eles fazem a fila onde vai bater sol o dia inteiro. Inclusive no Rio de Janeiro a gente estava tomando uma sombra ali perto dos portões, e a ordem da segurança do Rio foi retirar o pessoal da sombra. O pessoal saiu da sombra lá e ficou no sol ali na fila. Em Brasília tinha uma tenda, onde parecia que seria a revista, e a gente ficou nesse lugar, na sombra. Em BH já não tinha essa oportunidade, em São Paulo também não. Cada show é uma história e cada show você tem que lidar de um jeito. E a questão assim de preocupação com familiares, sempre tem. Então, é você manter informado, entendeu? Que tá tudo bem, pra não gerar estresse, nenhuma preocupação, uma paranoia, assim, entendeu? Você mantendo ali a informação, tá tudo certo. Eu mesmo não tinha problema com isso, entendeu? Eu sempre estava firme e forte ali, não tinha problema, graças a Deus. Falta de água, sensação de fraqueza, que eu ia desmaiar, isso não ocorreu comigo. Mas com o pessoal do lado, principalmente os senhores mais de idade, senhoras também, e eu vi gente sendo carregada, antes do show, durante o show, ocorreu bastante. Em Brasília , por exemplo, ocorreu bastante.

O primeiro show em Belo Horizonte, domingo, 3/12: galera da grade já formando uma comunidade que se encontraria ao longo das apresentações seguintes, até o Maracanã no dia 16




Como é o planejamento financeiro, para uma maratona dessas? Mesmo com a meia entrada, há um investimento para tantos ingressos de pista premium, passagens, hospedagem, alimentação, transporte... Como foi a sua organização pra isso? E, se você se sentir à vontade em compartilhar, quanto estima que tenha investido ao todo, pra estar presente em sete dos oito shows, cinco deles na grade?

Venho juntando dinheiro desde a última turnê dele, desde 2019, pra quando ele voltasse já ter essa grana reservada pra isso? Agora que acabou a gente começa tudo de novo pra próxima, que a gente sempre tem fé que vai ter uma próxima. Pra já estar preparado. E as estratégias é seguir dicas de viagem? Você viajar barato. Então eu rodei tudo de ônibus, entendeu? Fui de Buser, peguei promoção, usei cupom, aluguei hostel, quarto no Airbnb, entendeu? Você não fica em hotel com café da manhã, não tem isso. Você vai na raiz. Eu moro no Interior de Minas, então vou pra Belo Horizonte de carona, a 50 reais, pego um Buser de BH a 95 reais pra Brasília, vou lá, alugo lá, duas noites lá e três dias, um quarto no Airbnb, no apartamento, que sai a 40, 50 reais a diária, vou no show, compro meia pista premium, com carteirinha de estudante, depois eu volto de ônibus também, chego em Belo Horizonte e vou curtir os shows, dois shows. De Belo Horizonte eu vou para São Paulo sem ingresso, eu não tinha ingresso para São Paulo. Resolvi ir de última hora, fui pra fila sem ingresso, fiquei em hostel por 60, 70 reais a diária, e na fila consegui ingresso pro dia 9 (de dezembro) de manhã e à tarde consegui ingresso pro dia 10, que abriu na bilheteria, eu saí da fila e fui lá correndo comprar. Vi os dois shows, depois arrumei outro ônibus de São Paulo para Curitiba, aluguei Airbnb por 80 reais, curti o show e peguei ônibus pro Rio de Janeiro, ficando na casa de uma amiga. Também não tinha ingresso pra lá, mas consegui, pagando mais caro um pouco, porque foi de segunda mão, não de bilheteria. Então é tentar economizar no transporte, na hospedagem, e não no ingresso. É lógico que a meia pista premium sai em torno da média de R$600,00. E não economiza também na alimentação, entendeu? Você vai almoçar direito, fazer um lanche direito, entendeu? Então são essas dicas de viajante, de nômade, sei lá, de quantos quilômetros eu rodei, depois eu vou fazer essa conta aqui pra ver, porque eu andei muito de ônibus, de Buser, porque é mais barato. Não andei de avião, não tem esse luxo. É loucura, coisa de maluco! Em questão de investimento, não fiz a conta, mas deve estar entre 5 e 6 mil reais, entendeu? O ingresso é o que mais pesa. Eu fui em sete shows nessa tour. Vai dar uns 4 mil de ingresso, por aí. E mais hospedagem, Buser e alimentação, que pode pôr uns 2 mil aí. E fui viajando barato! Peguei o hostel mais barato, o Airbnb mais barato, entendeu? A passagem mais barata e pista premium meia entrada. Foi isso. 

Além de ir a shows em estádios, quais são outros interesses seus? Você trabalha com que, ou estuda o quê? Dedica uma energia como essa a outras atividades também?

Meus hobbies são viajar, eu viajo muito, vou muito a eventos, shows também, vários shows, festivais... Viajo muito, gosto muito da parte da natureza, gosto muito de cachoeira, praia... Esse é meu hobby, além da música, eu sou músico também, toco violão, guitarra, contrabaixo, meu pai é baterista, posso arranhar na bateria também, mas eu não sou percussionista baterista. Eu gosto muito de música e de futebol, então tô sempre acompanhando, viajando pra ver futebol, pra visitar lugares novos. Então junta tudo, é uma coisa que eu gosto de fazer, que é viajar, com um hobby que eu gosto, com dois hobbies, que é o esporte, qualquer evento de esporte eu acho que eu tô presente, seja qual for esporte, futebol, tênis, vôlei, basquete, gosto muito de acompanhar esse estilo, de viajar pra ver isso e de música. Então junta as três coisas que é o que me norteia, que é o que eu gosto de fazer. Tenho 26 anos, e hoje eu não tô trabalhando, voltei a estudar, que eu vou tentar uma outra carreira agora no ano de 2024. Trabalhei 10 anos em uma empresa direto, aí depois saí, fiz duas faculdades, entendeu? Sou formado em Direito e História e agora eu vou buscar mais essa parte assim de lecionar, entendeu? Na minha carreira assim, profissional. E eu sou natural de Belo Horizonte, mas eu moro no interior, como eu falei, eu moro em Formiga, a 200 km daqui da capital, mas minha família mora ainda em Belo Horizonte, eu tô sempre na capital. Mas eu estudei, trabalhei muito no interior.

E quando termina cada show? Qual a sensação? As pessoas costumam ficar mais um tempo ali na grade, na pista premium, conversando com os amigos, sentando, se recuperando do cansaço, tomando água, encontrando pessoas de outras cidades, outros shows, observando os detalhes da desmontagem do palco, que já começa de imediato e envolve muita gente. Como é a sensação pra você? 

A sensação pós-show ali, quando o Paul sai do palco e dá aquele estouro com o papel picado ali (papeizinhos com as cores da bandeira do Brasil, jogados sobre a plateia, em estilo comemorativo), você fica extasiado! Você já fica animado para o próximo show. E agora no Rio de Janeiro, que foi o último show, você pensa que acabou e não sabe quando vai ser a próxima. Então você fica naquela "depressão pós-Paul McCartney", né? Fica pensando que a próxima vai ser melhor, com todo o aprendizado dessa, a experiência, entendeu? E na hora ali, você reencontra os amigos, vai comentar do show, abraça, tira foto, fala "Pô, você viu aquilo ali? Você viu que eles erraram aquela parte ali? Pô, mudou essa música aqui do set, esse set foi melhor, foi do caralho... Pô, cortou essa música, não tocou essa?". São comentários assim. Você vai lá no merchan, na lojinha, comprar um copo, uma camisa, pedir pra ver o pôster. Vai comentar com o pessoal conhecido, com os amigos ali, tudo que aconteceu, quando vai ser a próxima. Você fica meio extasiado, não acredita no que você acabou de ver, entendeu? Você pode ir no show 20 vezes, que na 21ª vai aparecer a primeira vez, você vai ficar nervoso, você vai ficar ansioso, você vai ficar extasiado, você não vai acreditar. 

E como você se sente agora, que a turnê acabou, após mais de 20 dias de Paul McCartney no Brasil, o maior tempo que ele passou seguidamente no País, com oito shows, um pocket-show surpresa, passando por cinco cidades... Como está a sua recuperação física? E o emocional? Sentindo os efeitos da "Depressão pós-Paul"?

Você se sente bem cansado, esgotado, entendeu? Teve uma hora ali no show do Maracanã, assim, na segunda metade do show, eu já tava... Eu não tava com a mesma energia que eu tava na primeira metade, entendeu? Quem viu os vídeos aí na Disney Plus e consegue me identificar ali, na segunda fila ali, na grade, vai ver que na segunda metade do show ali, eu já tava bem desanimado já. Desanimado não, mas eu já tava com as energias bem gastas já. Final de maratona. E o pós-show, assim, pós-tour, acabou. Fica na expectativa dele voltar, eu também tenho fé que ele volte, eu tenho esperança que ele volte, senão no final do ano que vem, no início de 2025, assim como ele fez em 2017, 2019, assim como ele fez nas passagens 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, eu acredito nisso, espero que ele volte. E o pós-show, assim, é você ficar vendo o vídeo, escutando música, alguém sempre te manda "Pô, você apareceu nesse vídeo aqui e tal, essa foto aqui", "Pô, você lembra desse momento?", é sempre o pós-show. Show também é tipo pós-tour, você sempre fica relembrando, recapitulando tudo que você viveu comentando, relembrando os momentos mais legais, marcando com amigos pro próximo. E se ele não voltar ele vai fazer show na Europa, pô, a gente vai pra lá então, vamos ver como é que fica isso aí, fazer uns planejamentos. Tudo gira em torno da tour, entendeu? Tudo que você vai fazer, você escuta, você cisma com uma música ali do nada e escuta ela no Spotify, assim, looping eterno, cisma com uma música ali, ou uma música que você não ouvia muito tempo, um lado B de um disco que ele nem tocou na tour, mas nas viagens, assim, principalmente de volta, você vem escutando a música. Então é nessa pegada mais ou menos, não acaba assim, e vai demorar um bom tempo acabar até passar esse extra, essa animação, assim. Vai demorar aí mais uns dois meses pra conseguir voltar a cabeça pro dia a dia normal.




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