Edinho, Yayá e Vinicius Vilas Boas levaram grande público ao Teatro Via Sul: emoção em canções, interpretações, histórias de vida e de arte

 





A emoção do jovem Vinicius Vilas Boas ao agradecer a seu pai, Edinho, e à irmã, Yayá, perto do fim do show desta sexta-feira, no Teatro Via Sul, em Fortaleza, foi acompanhada de aplausos da plateia que imaginava a sensação de se subir ao palco... em família. Com as diferenças, discordâncias, construções complexas e desafiadoras de toda família, mas também rodeados de muito amor, um pelo outro. E todos pela música. 

O imenso desafio de uma vida dedicada à arte era então partilhado com todos da plateia, com todos no teatro. E a coragem de se dedicar a esse caminho ao mesmo tempo tão árduo (pelas dificuldades tantas), tão impositivo (pela impossibilidade de deixar de ser quem se é) e tão gratificante (em uma noite de grande público, após uma maratona de divulgação e mobilização) foi reconhecida pela plateia. Na forma de muitos e mais aplausos. Palmas, além de todo o imenso talento dos três artistas que ganhavam o palco como se fossem muitos mais, pela entrega, pela dedicação, pela perseverança. Pela profissão de vida, de arte, de existência, de sensibilidade. De indesviável verdade.

Edinho Vilas Boas é um dos maiores cantores e compositores do Ceará para o Brasil. Fazendo hora extra em Fortaleza, está no auge de sua produção autoral e de suas virtudes como intérprete, no canto e no violão. 

Carismático, comunicativo, autor de canções tão belas quanto intensas, daquelas que arrebatam à primeira audição, criador de música e letra mas também melodista atento à produção de parceiros como Raul Maxwell, Jefferson Portela, Luis Lima Verde, Chico Araújo, Rogério Lima, Edil Figuerêdo, Rui Farias, Shirley Diogenes, entre outros, uuEdinho tem sido reconhecido com destaque em festivais em estados como Ceará, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais - neste, de forma mais assídua, no Fenac, Festival Nacional da Canção, o mais antigo do País, onde Edinho pôde participar com Yayá e Vinicius, em 2023. 

"As pessoas no festival, os colegas compositores, falavam da alegria que é dividir o palco com a família", relatou Edinho, no show desta sexta, no Teatro Via Sul, em que sua voz e seu violão estiveram ao lado exclusivamente da voz de Yayá, do teclado tocado por ela em um dos momentos mais destacados do show, e do violino de Vinicius, que por duas vezes emocionou o público. Justamente quando, apontando que dificilmente fala nos shows, por não ser usual um microfone de voz para o violinista, fez um agradecimento especial ao pai. 

E em outro instante em que dedicou uma música à namorada, falando do tanto de mudanças que vem experimentando na vida, em pouquíssimo tempo, aprendendo tantas coisas e percebendo que tantas outras há a aprender, a partir da chegada deste alguém. Diante da plateia numerosa, a emoção do peito aberto, o compartilhar da juventude na descoberta de um amor.

A casa da música dos Vilas Boas

As produções de Edinho Vilas Boas no Teatro Via Sul vêm chamando atenção, desde 2018, pelo esmero com que ele e a família se dedicam a cada detalhe, nas condições desafiadoras que não deveriam mas infelizmente são regra, e não exceção, em grande parte da cena musical cearense. Para muitos/as artistas que pela necessidade se descobrem produtores/as de si mesmos/as. 

Que bom que Edinho, Yayá e Vinicius, além de se fazerem experientes nessa tarefa, contam com a produção de Keyla Barbosa e com o apoio da jovem Lia Vilas Boas, também música, mas que, com 14 anos, ainda aguarda um pouco para subir ao palco com os irmãos e o pai.

O cuidado de Edinho e família com esses shows especiais no Via Sul é percebido e valorizado pelo público, que responde em grande número ao esforço de divulgação e mobilização. A cada espetáculo fica claro também um crescimento, tanto coletivo quanto individual. As mudanças de repertório, mantendo os clássicos de Edinho e parceiro, mas sempre trazendo novas canções autorais, além de releituras bem populares, para brindar o público com momentos de respiro e de cantar junto, são outra característica dos shows, em um cuidadoso equilíbrio que leva em conta a necessidade de chamar a plateia para dentro do espetáculo, em músicas bem conhecidas que ganham novas cores na interpretação do trio, mas nunca se distancia do fio condutor que é a própria obra de Edinho - e também de Yayá.


A jovem cantora está, literalmente, voando alto, com mais possibilidades interpretativas, melhor conhecimento e uso de seu timbre vocal, mais habilidade em reforçar as características que lhe fazem carismática e mobilizadora dos olhares e sensibilidades do público. Em um dos momentos mais marcantes da noite, Yayá reproduz um dos números que levou ao recente Festival da Música da Juventude, em que foi premiada em 2o. lugar fazendo um show solo, sem banda. "Quem explode é bombinha / eu quero é cantar pros meus", aponta na canção de Juliana Linhares, cantando e tocando teclado, em uma inspiradíssima composição sobre os próprios fazeres, quereres e segredos do cantar. Voz e piano arrebatadores! Para muitos aplausos.

Marcus Dias, Chico Araújo, Luís Lima Verde, Eason Nascimento

A parceria com o pai em "Versos do acaso" foi outro dos momentos mais bem recebidos da noite, assim como "Para ser amor". Canções que poderiam - e deveriam - estar nos dials radiofônicos e nas playlists das plataformas, pela facilidade de comunicação, pelas melodias convidativas e letras diretas, pelo romantismo cultuado por cantoras e duetos de uns tempos pra cá na dita "nova MPB" (e quantas vezes se disso isso!), com grande resposta de público.

E que maravilha Edinho, Yayá e Vinicius abrindo o show com "O tempo mudou de lugar", uma das mais inspiradas canções do compositor cearense Marcus Dias, gravada por Edinho no disco "Lado a lado". Um anúncio de que a noite seria plena de lirismo e emoção. Assim como na apresentação da parceria de Edinho com Chico Araújo, "A liberdade de viver", vencedora do II Festival do Cais Bar da Redonda e enriquecida, na noite desta sexta, pela dança da jovem Maria Isabel. "Enquanto danço / Estou no ar / Pássaro livre / Luz na arribação". 

Destaque também para a belíssima homenagem ao compositor cearense Eason Nascimento, vítima da Covid, com Yayá emocionando todo mundo em "Na beira do rio", de Eason e do maestro Luciano Franco, presente ao teatro. "Soneto do poeta morto vivo", de Edinho e Luis Lima Verde, é outra canção forte a refletir sobre a condição do artista que escrever para quem ler, que canta para quem ouvir? Precedida do poema "Motivo", de Alan Mendonça, foi outro dos momentos mais aplaudidos da apresentação. Assim como "O que cabe no meu coração", de Edinho e do parceiro gaúcho Raul Maxwell, saudado com uma homenagem à resistência do povo do Rio Grande do Sul diante dos efeitos gravíssimos das mudanças climáticas. A música foi premiada no Festival do Bar do Museu do Clube da Esquina, em Minas Gerais, e ganha nova sensibilidade do trio no show em teatro. 

"Maré vazante" (de Edinho e Raul Maxwell), "De maré em maré" (de Edinho e Jefferson Portela) e "Verão de São Martinho" (Edinho e Daniel Fernandes) e, fechando a noite, a belíssima "Retumbante", de Edinho, clássico da música do Ceará para o Brasil, somada à "Noite azul" de Pingo de Fortaleza, Parahyba e Augusto Moita, vieram acompanhadas da emoção do pai a vivenciar, ao lado dos filhos, seu melhor presente. Para si e para o público. Com seu novo espetáculo, a Família Vilas Boas pede passagem para ganhar novos palcos. Somos do mundo. Somos do Ceará! 



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