Artur Menezes em Fortaleza: à beira-mar, um encontro com memórias, presente e futuro da cena blues do Ceará

 


Em plena Praia de Iracema, Artur Menezes, guitarrista, cantor, compositor cearense, de há muito radicado na Califórnia, de onde vem construindo uma carreira de crescente destaque também em outras regiões dos Estados Unidos, se apresentou na última sexta-feira, 24/5, para matar um pouco das saudades de Fortaleza. Ainda que de forma breve, tendo em vista o show na noite anterior, no Bourbon Street, a primeira grande casa que lhe abriu as portas em São Paulo, conforme destacou sua produtora, Erika Breno, e o show no sábado, no Blue Note Rio de Janeiro.

De São Paulo para Fortaleza, voo às quatro da manhã, depois de tocar até uma da madrugada no Bourbon, ao lado da ótima contrabaixista Poliana Magalhães e do baterista Cuca Teixeira, referência para os fãs de jazz e de música instrumental brasileira, que também brilhou com muita energia no show de Artur. O cearense se desculpou com o público na Praia de Iracema pela voz e explicou que estava em uma maratona de shows, com muitos deslocamentos e muito pouco sono. Mas nenhum cansaço tirou o brilho do reencontro com a plateia da capital cearense, com destaque para muitos colegas músicos presentes - como os guitarristas Gabriel Yang e Claudio Oliveira, o gaitista Adelmo Correa e o "buddy" Lucas Ribeiro, baixista de Artur por muitos anos em Fortaleza, convidado para uma participação especial.

"Tocamos juntos por muito tempo, com o Wladimir Catunda na bateria. Eram Artur Menezes e Os Caras. Que nome horrível...", riu-se Artur, recordando com o público os tempos de shows nas casas de Fortaleza e em festivais como o Jazz & Blues em Guaramiranga - que neste ano chegou à 25a. edição. "O Waldimir estava nos Estados Unidos com a gente há quatro dias. E o Roberto Lessa estava ontem no show em São Paulo", contou, lembrando o cantor, guitarrista e compositor da Blues Label, sua primeira banda.

O público, aliás, poderia ter sido bem maior, se o show, promovido pelo Centro Cultural Belchior como parte da programação especial de sete anos da casa, mantida pela Prefeitura de Fortaleza, tivesse tido divulgação melhor e com mais antecedência. Infelizmente, uma constante em eventos promovidos pela Prefeitura, seja através do Instituto Iracema, da Secretaria de Cultura (Secultfor) ou do Paço Municipal diretamente. Muita gente não sabia do show de Artur - fosse em grupos de colegas músicos e de espectadores mais atentos à cena cearense, no whatsapp, fosse em casas próximas do CCBel, na Praia de Iracema, onde a notícia do show que ocorreria dali a instantes causava surpresa. 

Enquanto se espera - e, muito mais do que aguardar, se luta - por mudanças, que bom poder rever Artur Menezes, mesmo que em uma breve passagem por nossa cidade. Foi o suficiente para que ele recebesse um abraço dos colegas de sonho e de som, que se esforçaram para estar presentes, mesmo em um dia da semana - sexta - difícil para os músicos, comprometidos com shows em outros espaços, da iniciativa privada. 

Mesmo assim, muitos fizeram questão de ir, mesmo que precisando sair mais cedo. Bonito ver essa união, que já rendeu tantos frutos, como os projetos da Associação Casa do Blues, inclusive a gravação de DVDs no Parque Adahil Barreto e no Estoril, em momentos em que o prédio histórico da Praia de Iracema recebia atividades culturais, inclusive shows lotados, em vez de dar lugar aos escritórios da atual Secretaria de Turismo.

Maravilha também ver Artur tão bem - a cada turnê, mais "monstro", como disse Erika Brenno, citando o comentário do técnico de sonorização que costuma trabalhar com o guitarrista, cantor e compositor cearense. A fluidez e a intensidade do trio também chamaram atenção, e o público respondeu à altura, superando inclusive a falha de som que interrompeu a primeira música do show bem no momento de um super solo de Artur. Após alguma espera, o show continuou. E valeu muito a pena esperar. Que possamos ter em breve mais oportunidades de conferir Artur Menezes em Fortaleza. E que possamos seguir curtindo os colegas de geração que mantêm muito, muito viva a chama do blues em Fortaleza, de Felipe Cazaux a Marília Lima, de Roberto Lessa a Leonardo Vasconcelos, de Fernanda Fialho a Diogo Farias, de Alvim a Ricardo Pinheiro, de Kazane a Anderson Camelo, sem falar nas gerações mais recentes, com muita, muita gente que chegou para conquistar espaço. Viva o blues "made in Fortaleza" e presente aqui e em outros centros! Vivam a música e os músicos e músicas do Ceará! 

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