Emoção e superação no 1o. ensaio da Suite do Caldeirão, no Crato, com Pingo e mais de 50 artistas. Espetáculos acontecem de sexta a domingo

 




Chão sagrado Cariri

Onde o mar se encantou...

O primeiro ensaio do projeto "Suite Caldeirão de Santa Cruz do Deserto" aconteceu nesta quarta-feira, em uma tarde encerrada com chuva no Centro Cultural Cariri, no Crato, em clima de congraçamento, amizade e emoção entre representantes de diferentes gerações da música do Cariri, de Fortaleza, do Ceará. Em meio aos abraços festivos, aos encontros e reencontros, a responsabilidade de "colocar de cima", com todas as complexidades envolvidas, o espetáculo que já estreia nesta sexta-feira, às 19h, na Praça Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, segue no sábado para o próprio Centro Cultural Cariri, no Crato, e no domingo para o Cineteatro São Luiz, em Fortaleza.

"Apenas" reunir tantos artistas para um projeto, um espetáculo, um ensaio já é uma tarefa desafiadora. São nada menos que 27 integrantes no Coral da Universidade Federal do Cariri, sob a regência do maestro Renato Brito, doutor em etnomusicologia, chamando atenção pelo diálogo leve e fluido com tantos músicos, reunidos para colocar em prática a montagem do espetáculo idealizado por Pingo de Fortaleza e Rosemberg Cariry, autores das canções inéditas que contam da trajetória do beato José Lourenço aos mistérios, quereres e segredos do Cariri.

Some-se ao coro um quinteto de cordas, por vezes ganhando o reforço de uma flautista. Instrumentistas convidados, incluindo o professor Weber dos Anjos, na viola portuguesa, o acordeonista Jair Dantas, os percussionistas Igor Ribeiro e Ricardo Pinheiro. 



E a todos eles se juntam nomes referenciais para a canção e a interpretação musical do Cariri para o Ceará e o Brasil: veteranos como os mestres Abidoral Jamacaru e Luiz Fidélis, Luis Carlos Salatiel, João do Crato (arrasando ao entoar os textos da suite, que referenciam a figura do beato José Lourenço, a história do Cariri, os motes cuja carga dramática é trabalhada pela canção que vem depois de cada fala), e personagens de gerações posteriores, como Luciano Brayner (interpretando com Salatiel um dos temas mais desafiadores), Carlos Rafael, trazendo ao grupo um canto forte e preciso, e Junú, emocionando a todos ao dividir o palco com Fidélis. Além do próprio Pingo de Fortaleza, dando voz às canções e também substituindo outros artistas que estarão no espetáculo, como os cantores Milla Sampaio e Fábio Carneirinho. 

A mestra Marinez, da cultura popular tradicional do Cariri, do Coco Frei Damião, foi outra a emocionar a todos os músicos, técnicos, produtores, ao lado de Fatinha Gomes, Janinha Brito e de outras intérpretes. A força do canto da mestra ganhava o reforço das colegas intérpretes e das tantas vozes do coral, somando-se também às cordas, em um encontro comovente. 


Depois de João do Crato contextualizar a penitência de nove anos na Santa Cruz do Deserto vivenciada por José Lourenço, jovem paraibano, negro, pobre e destemido, preparando-se para sua missão, Pingo anuncia que o ensaio contar. Jovem paraibano, Pingo explica a metodologia do ensaio: primeiro uma passada geral no espetáculo, de aproximadamente 45 minutos, com todas as músicas sendo tocadas, além das falas declamadas, para que haja um primeiro contato entre os diversos artistas e segmentos que subirão ao palco nas apresentações. E para que se avaliem quais peças podem ser melhoradas, como trabalhar cada música. "Mesmo que haja erro, vamos seguir adiante. Manter o fluxo, seguir o roteiro, para passar geral", explica aos colegas, agradecendo pela participação de todos e ressaltando a emoção de estar no Cariri para apresentar o espetáculo, o disco e o documentário dedicados à história de José Lourenço e da região.

E haja sentimento nas interpretações que se seguiram a partir dali, mesmo em se tratando de take 1 e de todo o desafio de unir as peças que se prepararam com antecedência, separadamente. Inclusive desafios técnicos, com a equipe do Centro Cultural Cariri recebendo também Airtinho Montezuma, técnico de sonorização, e Matheus Coruja, roadie/diretor de palco, arregimentados por Pingo. A interpretação de Junú e Fidélis parecia já ter vindo pronta. Dispostos em cadeiras espalhadas em meia lua diante da banda, do coral e do quinteto de cordas, os próprios intérpretes cuidavam de assistir às apresentações uns dos outros, aplaudindo, dando força, construindo junto um desafio do tamanho de preparar um espetáculo desse porte e dessa complexidade, com pouco tempo e unindo tantos universos criativos.


E assim foi do primeiro ao último movimento dessa suite, iniciada com uma saudação ao Chão Sagrado Cariri encerrada com a festa de um xote bem pra cima. Após um intervalo, mais encontros e emoções no ensaio de cada música separadamente. Nesta quinta tem novo ensaio e, a partir de sexta, acontecem as apresentações. Encontros históricos que merecem registro por tudo que representam quanto ao conteúdo das composições e das execuções mas também do imenso potencial que temos a realizar. Que projetos desse porte possam.ser mais frequentes. E que possa haver de fato circulação, diálogo, intercâmbio pra valer. Nossa música merece. E nosso povo também. 



Fotos a seguir, por Helio Filho/Centro Cultural do Cariri:












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