Salão de Outubro começa nesta quarta, 30/10, e segue até sábado no Crato Tênis Clube, reunindo centenas de artistas do Cariri e de outras regiões. Confira a programação e participe. Entrada franca
O mestre Abidoral Jamacaru se apresenta nesta quarta, primeiro dia do Salão de Outubro, que segue até sábado, no Crato Tênis Clube. Entrada franca em toda a programação |
Uma nova e especial edição comemorativa do Salão de Outubro, um festival cultural multilinguagens, acontece no Cariri, mais especificamente no município do Crato, começando nesta quarta-feira, 30/10, e seguindo até sábado, 2/11, no Crato Tênis Clube, sempre das 17h à meia-noite. Tudo com entrada franca e com a participação de centenas de artistas do Cariri e de outras regiões.
A abertura do Salão de Outubro acontecerá nesta quarta-feira com a contação de histórias às 15h no Crato Tênis Clube, com um cortejo iniciado às 17h na Praça Quadra Bicentenário, e com uma solenidade no Crato Tênis Clube, às 19h30. Confira em anexo a programação completa.
Rosemberg Cariry e equipe convidam artistas e público a participar da iniciativa, realizada de forma auto-sustentável e independente, destinada a reviver o espírito do Salão original e a promover congraçamento, coletividade, espaço para os saberes e fazeres artísticos de diversas linguagens, reunindo artistas interessados/as em participar de forma espontânea e contribuir para este momento.
A programação musical acontecerá sempre das 19h à meia-noite, contando com apresentações breves, para que um maior número de artistas possa participar. Entre os nomes já confirmados estão Abidoral Jamacaru, Cleivan Paiva, Luiz Carlos Salatiel, Pachelly Jamacaru, Francisco Silvino, João do Crato, Ibbertson Nobre, Pedro Paulo Chagas, Vinicius Saravá, Batista, Yhuan Brito, Ulisses Germano, Manel de Jardim, João Urano, Calazans Callou, Amélia Coelho, Janinha Brito, JotAlencar, João Nicodemos, Adelildo de Sousa, Rodrigo Alexandrino, José Nilton Figueiredo, Leninha Linnard.
E mais Irmãos Aniceto, Quarteto da Vila da Música, Francisco Oliveira (rabequeiro, neto de Cego Oliveira), Claudio Mappa, Di Freitas, Weber dos Anjos, Ancestrália
De Fortaleza participarão da mostra musical Pingo de Fortaleza, Ronaldo Lopes, Bernardo Neto, João Pirambu, entre outros. A programação detalhada será divulgada em breve, incluindo outros nomes da música e artistas de outras linguagens.
Confira a programação musical dia a dia
Nesta quarta-feira, 30/10, se apresentam no Crato Tênis Clube, a partir de 19h, Calazans Callou, Daniel Medina, Di Freitas, Fabrício da Rocha, Francisco Silvino, Ibbertson Nobre, João Nicodemos/Eliarley/Pedro Paulo Chagas (Trio), Mestra Maria, Nando Guerreiro, Pedro Paulo Chagas, Ulisses Germano, Vinicius Saravá.
Na quinta-feira, 31/10, sobem ao palco Ana Paula Nogueira, Dalwton Moura, Diego Souza, Evânio Soares, Flauberto Gomes, Isaac Cândido, Jord Guedes, JotAlencar, Luciano Brayner, Pachelly Jamacaru, Paulo Memória e Zabumbeiros Cariris.
Na sexta-feira, 1/11, apresentam-se Abidoral Jamacaru, Alexsandra Salvador, Cleivan Paiva, Erivan (Sons das Cordas e Ferro), Isis Raylane, João do Crato, Juvar Santos, Lifanco Kariri, Manel de Jardim, Marcos Leonel (Chapadaria), Rafael Di Angelo, Rodrigo Alexandrino, Yruan Brito e Zé Nílton Figueiredo.
No sábado, 2/11, sobem ao palco Adeildo de Souza, Ancestralia (Weber dos Anjos, Claudio Mappa), Batista Guitarra, Bernardo Neto, João Batista, João Urano, Junú, Lencker, Leninha Linard, Luiz Carlos Salatiel, Nélio Luna, Ranier, Ronaldo Lopes.
O Salão de Outubro e a resistência nos anos 70
Rosemberg Cariry, renomado cineasta, escritor, compositor, pesquisador e militante da cena cultural, que está nos trabalhos de produção do evento, juntamente com parceiros como Clara Karimai, Kaíka Luiz, Luiz Carlos Salatiel, Luciano Brayner e diversos outros, em diferentes linguagens, ressalta, sobre o Salão de Outubro original, que na década de 70, em meio às turbulências que marcaram os anos de opressão política e estética no país, nas diversas regiões brasileiras, artistas conseguiram resistir com novas possibilidades de atuação.
Em 1973, “algo” de novo surge na cena artística da cidade do Crato e do Cariri cearense: o Grupo de Artes Por Exemplo – artistas que se uniram no propósito de formar um núcleo de produtores e divulgadores das expressões da arte local. "Não vamos citar nomes, por serem dezenas e podermos esquecer alguns. A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo foi a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense, extrapolando o triângulo Crajubar, para o País", detalha o cineasta, escritor, compositor, pesquisador, articulador e militante da cultura do Ceará para o Brasil.
Contando inicialmente apenas com autores residentes na cidade do Crato, depois incluindo artistas de Juazeiro do Norte e de outras cidades da região, o núcleo destacou-se por realizações importantes, montagens de peças teatrais, filmagem dos primeiros curtas-metragens da cidade e a realização da mostra de arte que ficou conhecida como Salão de Outubro.
O Salão teve a sua primeira edição entre os dias 26/10 e 03/11 de 1974 e se transformou, ao longo dos anos, em um dos eventos culturais mais importantes do Crato e do Cariri, congregando pintores, escritores, poetas, atores, compositores e cineastas em torno da ideia de promover mostras de seus trabalhos e dos seus espetáculos, além do intercâmbio com outros centros artísticos do Nordeste e de outras regiões.
Do Por Exemplo ao Nação Cariri
O Grupo de Artes Por Exemplo transformou-se no Nação Cariri — movimento cultural mais amplo, já envolvendo artistas de Fortaleza e de outras capitais brasileiras, editando jornais, revistas, livros, produzindo espetáculos musicais, filmes, discos e outros projetos.
O Nação Cariri continuou junto ao Salão de Outubro, que também foi realizado pelo Folha de Pequi, pela Turma do Parque e por outros grupos, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, chegando um dos Salões a ser realizado já no início do século XXI.
O Salão virou uma espécie de propriedade coletiva, em que jovens artistas de diversas gerações iam criando e recriando. O evento foi realizado em diversos espaços da cidade do Crato: Museu Histórico e prédio da Cadeia Pública, Calçadão da Praça Siqueira Campos, Praça da Sé e, durante muito tempo, na Praça do Parque.
"O Grande Cariri"
"Uma característica marcante do Salão de Outubro era a opção de reunir culturas e artes, de diversas procedências étnicas, sociais e culturais, naquilo que enxergávamos como sendo o 'Grande Cariri'", destaca Rosemberg, ressaltando que a vasta região abrange quase todos os estados nordestinos.
Um espaço em que se fizeram fortes as influências afro-ibero-cariri (caboclas), tendo Juazeiro do Norte como a Grande Meca, onde acontece uma experiência civilizatória original.
"Havia uma concepção bem aberta do conceito de 'nação', como um espírito de luta e de resistência, inspirado na Confederação dos Cariri, a chamada 'Guerra dos Bárbaros', de 1650 a 1720", reforça.
Arte alternativa e cultura popular
Nas diversas edições do Salão de Outubro, sempre houve, por parte dos artistas, a necessidade de unir a chamada 'arte alternativa' - mais ligada à juventude nordestina daquela época - à tradição da cultura popular.
O evento pretendia unir através de linguagens diferentes, promovendo um encontro com os símbolos universais e os elementos da cultura local (que também traziam as marcas de muitos povos e culturas do mundo), buscando o surgimento do novo, através da hibridação da tradição regional com as inovações artísticas mais amplas.
Um evento de múltiplas linguagens, reunindo artes plásticas e visuais, cinema, teatro, performances, música e literatura. O grande diferencial era unir artistas já reconhecidos com iniciantes, artistas ditos de vanguarda com artistas da tradição, misturando gêneros e classes sociais, no que se convencionou na época chamar-se de “cultura insubmissa”, ainda com ressonância dos movimentos de “contracultura”.
"Esse era o 'espírito transmoderno' do Salão de Outubro naquela época. Houve uma grande produção cultural e artística nesse período e o saldo foi muito positivo para a cultura cearense", reforça Rosemberg Cariry.
"Esse espírito insubmisso se mantém na contemporaneidade e se renova nos dias 30 e 31 de outubro, 1o e 2 de novembro de 2024, em uma nova edição do Salão, uma festa-celebração dos seus 50 anos".
Em 1973, “algo” de novo surge na cena artística da cidade do Crato e do Cariri cearense: o Grupo de Artes Por Exemplo – artistas que se uniram no propósito de formar um núcleo de produtores e divulgadores das expressões da arte local. "Não vamos citar nomes, por serem dezenas e podermos esquecer alguns. A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo foi a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense, extrapolando o triângulo Crajubar, para o País", detalha o cineasta, escritor, compositor, pesquisador, articulador e militante da cultura do Ceará para o Brasil.
Contando inicialmente apenas com autores residentes na cidade do Crato, depois incluindo artistas de Juazeiro do Norte e de outras cidades da região, o núcleo destacou-se por realizações importantes, montagens de peças teatrais, filmagem dos primeiros curtas-metragens da cidade e a realização da mostra de arte que ficou conhecida como Salão de Outubro.
O Salão teve a sua primeira edição entre os dias 26/10 e 03/11 de 1974 e se transformou, ao longo dos anos, em um dos eventos culturais mais importantes do Crato e do Cariri, congregando pintores, escritores, poetas, atores, compositores e cineastas em torno da ideia de promover mostras de seus trabalhos e dos seus espetáculos, além do intercâmbio com outros centros artísticos do Nordeste e de outras regiões.
Do Por Exemplo ao Nação Cariri
O Grupo de Artes Por Exemplo transformou-se no Nação Cariri — movimento cultural mais amplo, já envolvendo artistas de Fortaleza e de outras capitais brasileiras, editando jornais, revistas, livros, produzindo espetáculos musicais, filmes, discos e outros projetos.
O Nação Cariri continuou junto ao Salão de Outubro, que também foi realizado pelo Folha de Pequi, pela Turma do Parque e por outros grupos, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, chegando um dos Salões a ser realizado já no início do século XXI.
O Salão virou uma espécie de propriedade coletiva, em que jovens artistas de diversas gerações iam criando e recriando. O evento foi realizado em diversos espaços da cidade do Crato: Museu Histórico e prédio da Cadeia Pública, Calçadão da Praça Siqueira Campos, Praça da Sé e, durante muito tempo, na Praça do Parque.
"O Grande Cariri"
"Uma característica marcante do Salão de Outubro era a opção de reunir culturas e artes, de diversas procedências étnicas, sociais e culturais, naquilo que enxergávamos como sendo o 'Grande Cariri'", destaca Rosemberg, ressaltando que a vasta região abrange quase todos os estados nordestinos.
Um espaço em que se fizeram fortes as influências afro-ibero-cariri (caboclas), tendo Juazeiro do Norte como a Grande Meca, onde acontece uma experiência civilizatória original.
"Havia uma concepção bem aberta do conceito de 'nação', como um espírito de luta e de resistência, inspirado na Confederação dos Cariri, a chamada 'Guerra dos Bárbaros', de 1650 a 1720", reforça.
Arte alternativa e cultura popular
Nas diversas edições do Salão de Outubro, sempre houve, por parte dos artistas, a necessidade de unir a chamada 'arte alternativa' - mais ligada à juventude nordestina daquela época - à tradição da cultura popular.
O evento pretendia unir através de linguagens diferentes, promovendo um encontro com os símbolos universais e os elementos da cultura local (que também traziam as marcas de muitos povos e culturas do mundo), buscando o surgimento do novo, através da hibridação da tradição regional com as inovações artísticas mais amplas.
Um evento de múltiplas linguagens, reunindo artes plásticas e visuais, cinema, teatro, performances, música e literatura. O grande diferencial era unir artistas já reconhecidos com iniciantes, artistas ditos de vanguarda com artistas da tradição, misturando gêneros e classes sociais, no que se convencionou na época chamar-se de “cultura insubmissa”, ainda com ressonância dos movimentos de “contracultura”.
"Esse era o 'espírito transmoderno' do Salão de Outubro naquela época. Houve uma grande produção cultural e artística nesse período e o saldo foi muito positivo para a cultura cearense", reforça Rosemberg Cariry.
"Esse espírito insubmisso se mantém na contemporaneidade e se renova nos dias 30 e 31 de outubro, 1o e 2 de novembro de 2024, em uma nova edição do Salão, uma festa-celebração dos seus 50 anos".
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