Após a sutileza da formação em duo, o palco do Festival Choro Jazz recebeu na noite desta sexta, 4/12, um super sexteto do jazz cearense, em um show simplesmente arrebatador, que fez com que muita gente já o elogiasse como um dos melhores do festival, já na primeira noite. O saxofonista e flautista Marcio Resende, "o professor", o acordeonista Nonato Lima, a cantora Nayra Costa, o guitarrista Stênio Gonçalves, o contrabaixista Miqueias dos Santos, o baterista Paulinho Santos e o saxofonista Jorge Doudement, convidado especial, fizeram uma apresentação memorável, com muita energia, musicalidade e entrega. Com arranjos complexos e muito espaço para a improvisação, desde o início, mostraram o altíssimo nível da cena musical cearense, realidade conhecida há décadas por muitos e que encontra no festival um caminho para ser divulgada além-fronteiras, pelos jornalistas que cobrem o festival, pelos colegas músicos, pelo público que vem de outros estados e países.
Quem não conhecia tão de perto o trabalho desses artistas ficou, literalmente, de queixo caído com o espetáculo. Foi o caso do jornalista, DJ e produtor cultural paulistano Jota Wagner, que se derramou em elogios ao show. "Estou impactado! É o bebop cearense. Que show! Que show! Valeu a viagem para o festival. Se o bebop tivesse acontecido no Ceará, seria assim", disse, após aplaudir os improvisos ousados e mobilizadores de Resende, Nonatinho, Stênio, na maior parte do show, e também de Miqueias, Paulinho e Jorge, na sequência final da apresentação.
O mergulho no jazz, o amplo espaço para a improvisação e o altíssimo nível dos músicos se mostraram aos novos públicos desde o primeiro compasso. Também pudera! Marcio é formado na Berklee e na New England, Nonatinho foi acolhido pelo francês Richard Galliano, Stênio é um dos guitarristas de jazz mais aplaudidos e requisitados em Fortaleza, Miqueias integrou por muitos anos a Marimbanda e o projeto Timbral, Paulinho é um dos bateristas mais dedicados ao jazz, Nayra teve exposição nacional no The Voice, trafega por diversos estilos e hoje toca sua carreira em São Paulo, Jorge é um jovem músico que já lançou vários discos e cumpre constante agenda internacional. Uma seleção de craques, arregimentada por Antonio Ivan Capucho, idealizador e diretor do Festival Choro Jazz, especialmente para esta etapa do evento.
E, o mais importante em projetos coletivos desse tipo: o encontro deu liga! Desde a inicial e arrebatadora "Flying upside down", com a guitarra de Stenio brilhando, antes do saxofone soprano de Marcio e do acordeom de Nonatinho, em um jazz marcado no contrabaixo de Miqueias e com variações rítmicas ternárias puxadas pela bateria de Paulinho, deixando claro que estava aberta a sessão de improvisação e que mestres nesta arte se revezariam nos chorus ao longo da noite.
Na segunda música, a primeira intervenção de Nayra Costa, com o clássico "Vatapá", de Dorival Caymmi, com a flauta de Resende em uníssono com o acordeom de Nonato e depois improvisando. Antes de "Cinco motivos para ser feliz", de Nonato, outra instrumental "pesada", em cinco. E mais energia e improvisação vieram com "Saudades de Raul", de Marcio Resende em homenagem ao mestre do trombone Raul de Sousa, e "Galliano no forró", um dos melhores momentos da noite, tema de Nonato em homenagem a seu ídolo e amigo, com quem se apresenta anualmente na Europa. "É uma homenagem ao nosso encontro. Imaginem um francês dançando um forró", brincou, após impressionar o público com a improvisação na sanfona.
"I´ll remember April", clássico do jazz, foi outro tema escolhido pelo sexteto, com grande destaque no show. Nayra Costa retornou então, com o clássico "Triste", de Tom, em uma versão... alegre, novamente com espaço para os solistas brilharem. E Jorge Doudement, saxofonista que fora aluno de Marcio, foi por ele convidado ao palco para a sequência final do show, incluindo "Nas Dunas", tema composto pelo professor em homenagem a Airto Moreira e Flora Purim, com quem ele gravou recentemente em Fortaleza. A música ganhou um crescendo constante, no revezamento entre os músicos, brilhando nos solos. Um show muito aplaudido e um início e tanto para a etapa Jeri do Festival Choro Jazz.
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