
O Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza ficou lotado na noite de sexta-feira, 21/2, em um show especial em homenagem ao beatle George Harrison, com músicas de sua obra gravada com o quarteto de Liverpool e com muitas canções de sua carreira solo. Com grande público, mais de 500 pessoas, o show especial "Dark Horse - Homenagem a George Harrison", foi uma das atividades que marcaram o retorno da programação à sede do centro cultural, que passa por reforma. Com entrada franca, o show atraiu grande plateia, mesmo em meio ao pré-carnaval de Fortaleza, que costuma mobilizar as atenções, com inúmeros eventos, e contou com a participação de muitos beatlemaníacos e fãs de George, identificados com camisetas, presentes em grupos, confraternizando e vivenciando intensamente o show.
Nada menos que 18 músicas de autoria de George - incluindo "Badge", parceria com Eric Clapton e consagrada pelo grupo Cream, que muitos desconhecem ser também de George - foram apresentadas ao longo do show, um grande encontro de nomes da música do Ceará, para reverenciar o cantor, compositor, guitarrista e arranjador britânico. Subiram ao palco os guitarristas e cantores Felipe Cazaux (da banda Mad Monkees e que está lançando a música "Nunca desista", em carreira solo), o bluesman Roberto Lessa (que passou por diversas bandas e está lançando o disco solo "Wolf"), Eduardo Neves (integarnte da banda Rubber Soul, cover de Beatles com mais de 30 anos de atuação em Fortaleza) e Rafael Balboa (que também já apresentou um show especial em homenagem a Clapton).
Junto a eles, o pianista, cantor e diretor Marcio Holanda, o Molanda (integrante da banda cover Sargento Pimenta, também com longa trajetória na capital cearense), o contrabaixista Renan Elias (da Sargento Pimenta, especialmente trocando a guitarra pelo baixo, em prol do projeto em homenagem a George), o cantor e compositor Dalwton Moura ao violão e o baterista e professor Marcelo Holanda, que toca em inúmeros projetos na cena de Fortaleza, do rock ao blues, do jazz à música brasileira.
O show celebrou a trajetória de George Harrison, que em 25 de fevereiro de 2025 chegaria aos 82 anos. George se despediu 29 de novembro de 2001, vítima de um câncer, após deixar uma obra vasta e diversificada, nos discos com os Beatles, em sua carreira solo (em que chegou a ser o ex-beatle mais bem-sucedido, no começo dos anos 70), em sua contribuição à divulgação da música indiana no Ocidente, na realização do primeiro grande show de rock beneficente (o Concerto para Bangladesh, em 1971), no apoio a produções de cinema e na influência por uma busca de vida mais coerente e em comunhão com a natureza, o autoconhecimento, a jardinagem, a meditação, o vegetarianismo.
Tudo com fartas doses de humor liverpoodliano, contradizendo o estereótipo do "quiet Beatle" ao despertar grandes risadas também de colegas como os do supergrupo Traveling Wilburys, que formou nos anos 80 com artistas como Bob Dylan, Roy Orbinson, Jeff Lynne e Tom Petty.
Confira o repertório: arranjos surpreenderam o público
O público curtiu muitas músicas em novos arranjos, tecidos coletivamente pelo grupo, para superclássicos como 'Something" (muito aplaudida, em uma versão mais longa, relembrando o começo da gravação de George ao vivo no Japão, com a guitarra chorando e convidando o ouvinte), "Here comes the sun", com direito a Marcelo Holanda na "washboard", instrumento de percussão feito a partir de uma tábua de lavar roupa, e Eduardo Neves nos vocais, e "Taxman", na abertura do show com a energia lá em cima, com Roberto Lessa brilhando muito na voz, no suingue e nos solos na guitarra, lembrando o bluesman Elmore James, citado por George em "For you blue", também apresentada pelo grupo em arranjo blueseiro, surpreendendo e levantando o público.
A segunda música do show foi "I want to tell you" (do disco "Revolver", de 1966), com vocal principal de Dalwton Moura, também com um novo arranjo, em formato blues com direito a "turnaround", também trazendo surpresas para a plateia e abrindo espaço generoso para os solos dos guitarristas, outra característica presente ao longo de grande parte do show, com uma reunião de quatro dos maiores nomes da guitarra rock e blues no Ceará: Cazaux, Lessa, Balboa e Eduardo "Xuxu" Neves. Os slides precisos de Cazaux e Balboa em "Give me love" também emocionaram o público, assim como o slide de Balboa na belíssima "Let it down", cantada por Dalwton, uma de muitas faixas do disco "All Things Must Pass" contempladas no repertório.
"My sweet Lord" também ganhou um novo arranjo, com uma introdução de Roberto Lessa com "Oh happy day" e com vocais e violão de Eduardo Neves e slides de Cazaux e Balboa. "Beware of darkness" foi apresentada por Dalwton como "uma oração que George nos deixou, em mais uma faixa do 'All things must passa". "Bangla Desh" ganhou uma recriação poderosíssima, com muitas guitarra e com o vocal inigualável de Felipe Cazaux, que também interpretou "I me mine", com os guitarristas brilhando com espaço generoso para os solos na forma de blues, e "Wah Wah", em três dos momentos mais fortes do show. Ironicamente, a música nasceu da reação de George à postura de Paul McCartney no estúdio, ressaltou Renan Elias, lembrando que no Concert for George, especial realizado em 2002 na Inglaterra um ano após a morte do guitarrista, Paul esteve no palco enquanto a música foi tocada pela super banda, composta por vários amigos de George e por Dhani Harrison, filho de George.
Destaques do "All Things Must Pass"
Outros grandes destaques da noite foram "Love comes to everyone" (de 1979, conhecida no Brasil através da versão gravada por Zizi Possi), com vocal principal e solo de teclado de Marcio Holanda arrebatando o público, com direito a mais tempo para improvisação ao final da música. "Got my mind set on you", em uma versão funk/soul, com vocal de Rafael Balboa, que também se destacou ao cantar "Badge", outra música em que as guitarras fizeram a festa, celebrando a parceria George e Eric.
"Old brown show", naturalmente influenciada pelo blues, foi apresentada em arranjo original, com vocais de Marcio e Dalwton. E "What is life", outra do "All Thigs Must Pass", levantou a plateia, desde a guitarra inicial de Rafael Balboa, até o refrão reunindo vários dos cantores do show.
E no final... "Quem adivinha qual é a última música?", perguntou Renan Elias, que assim como Dalwton e Roberto destacaram no palco o lançamento do single de Felipe Cazaux, "Nunca desista", reforçando a importância de o público conhecer a produção autoral de cada integrante do grupo. Claro que a "saideira" do show seria com "While my guitar gently weeps", e assim as quatro guitarras choraram pra valer, com Renan passando de última hora o vocal para Felipe Cazaux, em homenagem ao colega de banda e como um destaque ao lançamento da nova canção. O público que lotou o CCBNB aplaudiu intensamente a homenagem feita por e para os fãs de Harrison e do blues, com muita alma, musicalidade e sentimento. Como merece "our sweet George...".
Presenças ilustres e grandes encontros na plateia
Entre tantos espectadores, alguns grandes personagens do mundo da música estiveram presentes, como o guitarrista Régis Damasceno, que por muitos anos tocou na banda cover Rubber Soul, antes de fazer uma bem-sucedida carreira em São Paulo com a banda cearense Cidadão Instigado, com seu trabalho solo e atuando como instrumentista e produtor para inúmeros artistas de destaque nacional. Também a cantora e compositora Kátia Freitas, que gravou uma versão de "What is life" com letra em português feita pelo compositor cearense Felipe Cordeiro e autorizada pelo próprio George.
O veterano do rock cearense Gersinho foi outro que fez questão de comparecer. Jamie Barteldes, jovem cantora da banda The Shout Beatles Celebration, e o jornalista e produtor cultural Nelson Augusto foram convidados a breves falas na abertura do show, representando os espectadores e também a turma do programa Frequência Beatles, que desde o começo dos anos 90 se dedica a divulgar, todos os sábados, na Universitária FM 107,9, a obra dos Beatles e de seus integrantes em carreira solo. A gestora do CCBNB Fortaleza também participou desse momento de abertura, dando as boas-vindas ao público e falando sobre as obras de reforma do centro cultural.
Importante destacar ainda que o guitarrista, cantor e compositor Claudio Oliveira, que também integra a banda, não pôde participar do show, desta vez, por questões de agenda. E que o contrabaixista e vocalista da banda Rubber Soul, Kildare Rios, participou das duas primeiras apresentações do projeto, no Festival Jazz & Blues, em Guaramiranga e no Theatro José de Alencar, em 2019.
Na última sexta, no CCBNB, o público vibrou com uma nova noite de muita festa, reencontros, amizade, celebração da música e da vida de George.
Muito lindo e emocionante o show. Obrigada Dawlton!
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