Pork Roots: toda terça, o jazz fora do eixo Aldeota-Varjota-PI-Centro, reunindo grandes músicos

 

Sandro Mota, Jorge Doudement, Paulinho Santos e Pedro Akilla, na jam-session da terça, 14/10, no Pork Roots


Em Fortaleza, O jazz também pulsa fora do eixo Aldeota-Varjota-PI-Centro, reunindo grandes músicos para jam-sessions, confraternização, improvisação, troca de experiências e bagagens, planos e perspectivas, sonhos e oportunidades. 

Um desses espaços é a jam-session coordenada pelo contrabaixista Miqueias dos Santos, pelo guitarrista Pedro Akilla e pelo baterista Paulinho dos Santos todas as terças-feiras, no Pork Roots, na Av. Sargento Hermínio, 2276, Monte Castelo. Um espaço privilegiado, dirigido por um músico formado na UFC e de portas abertas para uma programação diferente, atenta, além da música instrumental, a cantores, compositores da música do Ceará para o Brasil.

Os encontros de jazz nas terças-feiras acontecem em palco fixo, com ótima sonorização e um espaço amplo, simpático, ventilado (que diferença do calor do mar de prédios da Aldeota!), bem iluminado, combinando com a música a convidar o espectador a entrar em um outro estado de espírito. 

Mudar a frequência, depois de um dia cansativo e movimentado, e se dar de presente um show espontâneo, diferenciado a cada noite, ao sabor da improvisação e da presença de quem chega para se somar ao grupo, revezando-se nos instrumentos em participações espontâneas, definidas na hora.

Felipe  Giffoni, trombonista, Isaac, batera e Miqueias, tecladista

Músicos como outro Miqueias, o Paulo, tecladista, improvisando com fluidez e criatividade, o contrabaixista Sandro Mota, o trombonista Felipe Giffoni e outros que chegam a cada terça-feira para compor um repertório incerto, mas que com certeza incluirá standards do jazz e clássicos da música brasileira de influência jazzística. 

Tudo sob o olhar satisfeito de Tito, proprietário, que nos recebe falando da predileção da casa, com capacidade de até 180 pessoas, pela "MPB", tendo realizado, por exemplo, shows do aclamado cantor e compositor cearense Davi Duarte. E destacando que a casa conta com seus próprios equipamentos de sonorização e de audiovisual. "Temos tudo que é necessário pra gravar um especial audiovisual aqui", ressalta, citando o projeto "Epifania Brasil" às sextas e o samba raiz aos sábados.

Nesta terça, 14/10, clássicos como "Misty" foram reinterpretados com categoria e farto espaço para improvisos por Pedro Akila, Sandro Mota (em uma noite da qual Miqueias dos Santos excepecionalmente não pôde participar), o outro Miqueias ao teclado e Paulinho Santos na bateria. "Batida diferente", de Durval Ferreira e Mauricio Einhorn, que neste ano visitou Fortaleza, encantando o público do projeto Jazz em Cena, no CCBNB, aos 93 anos, foi outro tema escolhido para servir de tela às improvisações dos músicos reunidos com alegria de tocar juntos em um dia da semana de menos oportunidades de shows e de procurar construir juntos esse novo espaço, "fazer a gig pegar".



O saxofonista e flautista Jorge Doudement, que recentemente também brilhou no Jazz em Cena ao participar de ambos os shows comemorativos aos 10 anos do projeto, na noite de 20 de setembro, no CCBNB, recriando os clássicos discos "kind of Blue", de Miles Davis e grupo, e "Time Out", do quarteto de Dave Brubeck, chegou um pouco mais tarde na noite desta terça e brilhou com o trio em temas como "Influência do jazz", de Carlos Lyra, e "My one and only love", de Guy Wood e Robert Mellin, música de 1953, recriada em plena avenida Sargento Hermínio por representantes de uma jovem geração que faz o Ceará ser um dos centros do jazz no Brasil. 

Jorge Doudement parte nesta quarta para shows e oficinas em Natal, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e recentemente se apresentou em São Paulo, lançando nada menos que seu oitavo disco! Já compartilha planos para nova viagem à Europa, para trabalhar o álbum, em 2026, enquanto convida o saxofonista Lael e o baterista Isaac a tocar depois dele, na jam desta terça de ventinho, simplicidade e muita música instrumental. Entre os músicos, um "dress code" não escrito parece incluir a cor preta e a predileção por bermudas e tênis. 

Entre os pontos a melhor, a ausência de mulheres entre as artistas. Reflexo de um desafio que ainda precisa ser encarado pela cena como um todo, para democratização de fato e amenização dos efeitos do machismo estrutural, ainda mais explícito na música instrumental, mas com muitas, muitas artistas conquistando seu espaço e certamente disponíveis para mudar essa realidade também em ótimos projetos como este.  

Fortaleza guarda ótimas surpresas a quem aguçar o olhar para "fora do eixo" de fato, não apenas no "hype". Outra jam session "em outras áreas" é mantida toda segunda-feira pelo contrabaixista Miqueias dos Santos, na Av. Silas Munguba, 450, na Arena Beach Play, lotando no começo desta semana, como tantas vezes, ressaltam os músicos. 


Um dia da semana e um propósito que faz lembrar o projeto Araxá, idealizado e mantido por algum tempo na década de 2000 pelo contrabaixista Aroldo Araújo. Uma iniciativa de descentralização da música instrumental na cidade e de reunião de colegas artistas, em dia tradicionalmente marcado por ser "a folga do músico", mas hoje eivado de opções em Fortaleza, nos espaços mais convencionais da Aldeota. 

Entre eles, a roda de improvisação do Giz Restaurante idealizada por Tauí Castro, a jam session de blues do Hoots coordenada por Felipe Cazaux, a roda de choro mantida por algum tempo no Belch Bar de Ariane Cavalcanti, o Encontro Segunda de Primeira, de dezenas de músicos, no Alpendre, coordenado por Rafael Rodrigues na casa mantida por Samuelle Bedê, a Segunda Sem Leite, com Felipe de Paula, o "Dipas", e cia, no Benfica... E ainda o encontro de compositores na Embaixada da Cachaça, com parceiros como Romeu Duarte, Assis Ximenes, Gildomar Marinho e tantos outros. 

Mesmo sem a devida visibilidade e sem o respeito, a atenção e o investimento do poder público que poderiam lhe impulsionar a outro patamar, a música e os músicos do Ceará seguem sonhando e cavalgando o sonho. Inventando a estrada enquanto avançam. Sorte do público.   









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