Josenir Lacerda: poeta, cordelista, mestre da cultura do Ceará, integrante da Academia Brasileira de Cordel, filha do Crato |
O Festival Choro Jazz ganhou um registro em um cordel que conta a história do evento, as novidades de seu formato itinerante em 2024 e sua chegada pela primeira vez ao Cariri. A poeta Josenir Lacerda, 71 anos, filha do Crato, integrante da Academia Brasileira de Cordel, da Academia de Cordelistas do Crato e da Academia Cearense de Literatura de Cordel, celebra o evento no folheto intitulado "Choro Jazz: En Cantando o Cariri", com capa estampando xilogravura de Carlos Henrique, servidor do Centro Cultural do Cariri, no Crato, local em que acontece a maioria das atividades do festival, realizado de 17 a 22 de setembro, com entrada franca em toda a programação.
O evento é apresentado pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras e conta com apoio do Governo do Estado do Ceará e do Instituto Mirante de Cultura e Arte, na etapa Cariri.
Josenir Lacerda é avó de Tâmara Lacerda, violonista e cantora, de 23 anos, que é uma das atrações do festival, se apresentando no domingo, 22/9, às 16h30, no CCCariri, ao lado do acordeonista Ranier Oliveira. Tâmara também tem se destacado nas oficinas promovidas pelo festival desde terça-feira, recebendo elogios de mestres como Mauricio Carrilho, que destacou a musicalidade da artista caririense. "Tem aquele ditado que diz que quem meu filho beija, minha boca adoça. Imagine neta!. Não tem nem como a gente definir. A gente fica muito, muito grata, por tudo que tem acontecido na carreira de Tâmara", destaca a poeta.
"É uma coisa incrível. Tem hora que fico abismada, sem acreditar. De repente minha criança cresceu e tá no meio desse pessoal todo. Quando falam nesses grandes nomes, no Pessoal do Ceará, e a gente vê Tâmara junto, é algo assim... A gente fica espantada, admirada, encantada", emociona-se Josenir.
"A gente fica feliz em passar essa, não é nem sabedoria, mas essa experiência de vida. Principalmente com a arte envolvida. Elas sempre estiveram muito envolvidas com a arte, desde criança. Muita música boa!", conta, citando a filha, Lusy Lacerda, mãe de Tâmara e uma grande fã de artistas como Egberto Gismonti, uma das atrações da programação do festival. O mestre se apresenta no domingo, mesmo dia em que Tâmara e Ranier sobem ao palco, e chega ao Cariri ao lado da Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba, em um dos momentos mais aguardados do evento, encerrando a programação.
"Eu digo sempre que o que a gente escreve só se realiza no momento em que o leitor tem despertado esse sentimento. Alguém que leu o cordel e que foi tocado de alguma forma. Isso é que nos realiza, de fato", aponta Josenir Lacerda, que conta ter tido pouco tempo para compor o poema em registro e homenagem ao Festival Choro Jazz. "Era tudo muito novo pra mim. Fui seguindo as informações, aprendendo, descobrindo... Tomara que as pessoas gostem do resultado".
Ela destaca a importância do folheto de cordel como veículo para registro de acontecimentos do dia a dia, inclusive eventos culturais como o festival. " Uma das vertentes importantes do cordel é esse papel de reportagem, de fotografia de realidade de um momento. Meu patrono na Academia Brasileira de Cordel é o José Soares, chamado 'poeta repórter', porque ele fazia exatamente isso: a prioridade era passar a notícia. A partir da manchete, o desenrolar dos fatos, de tudo", ilustra.
"Qualquer que seja o tema, o assunto requer uma pesquisa e você nao pode inventar nada, tem que ser fiel ao enredo. É bom quando tem tempo pra ver bem, mergulhar no tema, se emocionar, pra poder passar uma emoção e uma verdade. Mas não tem um tempo definido. Depende muito da inspiração, do que o tema lhe toca. Às vezes sai rápido! A inspiração é que diz", revela. "Tem muita gente que diz que nao precisa de inspiração. Mas precisa! Eu respeito muito a musa, a inspiração. Pode ter tudo correto , mas o leitor ou o ouvinte percebe, se você não passa emoção".
"Costumo dizer que quando a gente escreve, se debruça mesmo sobre um tema, se apropria dele, fica pensando o tempo todo, é como se fosse o perfume que você coloca naquela escrita. E isso passa pro leitor. O que o leitor sente é essa coisa que o poeta coloca no trabalho e espera que quem lê seja tocado. E sinta esse perfume".
Josenir revela ainda o desafio de contar a história do festival Choro Jazz e de o apresentar a novos públicos, por meio do cordel. Encaixando nos versos os nomes dos músicos que se apresentarão no festival, inclusive. E o próprio nome do evento trouxe um desafio.
"É Festival Choro Jazz, e não Festival Choro e Jazz. Às vezes não dá na métrica, e você tem que ter uma certa licença poética pra escapar", revela, feliz com a publicação do novo "romance". "É um registro, modesto, mas que marca esse momento, essa passagem, esse acontecimento aqui no Cariri. É muito bom, graças a Deus, fazer parte dessa história".
Confira a íntegra do folheto. Compartilhe:
CHORO JAZZ
En Cantando o Cariri
Autora:
Josenir Lacerda
A você quero ofertar
Um pouco da minha história
Para o seu conhecimento
E um bom lugar na memória
Pois nela dei um mergulho
E agradecido me orgulho
Da honrosa trajetória.
2.
Por Antônio Ivan Capucho
Eu fui idealizado
Na Iracema Cultural
Muito bem organizado
Ganhei formato ideal
E no mundo musical
Do país, fui consagrado.
3.
Festival Choro Jazz
É meu nome e me apresento
Carinho feito no ego
Pra alma um doce alimento
Os meus acordes são laços
As melodias, abraços
Mágicos, de lindo evento.
4.
Sou grande encontro da música
Do tão imenso Brasil
Viso chamar atenção
De modo alegre e gentil
Pra grande diversidade
Beleza e intensidade
Da minha essência e perfil.
5.
Então em dois mil e nove
Minha estréia se declara
E acontece no cenário
Belo de Jericoacoara
Espalhei muita beleza
De Jeri à Fortaleza
De forma brilhante e rara.
6.
No papel de festival
Minha base de conceito
É descentralização
Da cultura, e como efeito
Seguir gratuito e aberto
Ter o público por perto
Acolhido e satisfeito.
7.
Daí ver a importância
De conduzir tal ação
Com toda a sua pujança
Para outra região
Mostrar a sua potência
Capacidade, excelência
Levar prazer e emoção.
8.
Em dois mil e vintre e quatro
Ganha maior abrangência
Repleto de novidade
No cerne e na aparência
Além da maturidade
Amor e boa vontade
Mostrados na competência.
9.
No dia treze de julho
No Pará aconteceu
Ao Festival Marajoara
Parceria ofereceu
Foi tão boa a sintonia
Que o gosto que já havia
Ganhou mais força e cresceu.
10.
O evento então inclui
Edições em dois estados
Abrange cinco cidades
Com roteiros programados
No Pará tem seu começo
Em julho, com muito apreço
E horizontes ampliados.
11.
Com base em tal intenção
Essa edição foi pensada
Nas terras do Cariri
Sob as bênçãos da Chapada
Junto ao som do Soldadinho
Que aqui construiu seu ninho
E escolheu como morada.
12.
Referente ao Cariri
Agora será falado
De uma maneira geral
Com carinho analisado
Um período de magia
Que em nosso torrão se cria
Para sempre ser lembrado.
13.
Então pela Petrobrás
E Ministério da Cultura
Será ele apresentado
Tendo apoio e estrutura.
Pará também chega junto
Com Ceará faz conjunto
De abençoada mistura.
14.
Da Prefeitura de Soure
E a Fundação Cultural
Do estado do Pará
Apoio institucional
Deve ser mencionado
Pois gesto bom ofertado
Merece aplauso e aval.
15.
É no Centro Cultural
Do Cariri que acontece
Lugar de pura magia
Que manto de encantos tece
Feito um bordado de luz
Que envolve, atrai e seduz
Nos eventos que oferece.
16.
Para tentar definir
Esse evento grandioso
Carece um vocabulário
Sensível e primoroso
Pois a própria região
É pulsante coração
Cativante e generoso.
17.
Digamos então que é
Grande encontro musical
Que agora acontece aqui
Nesse berço cultural
Que tantas gentes agrega
Recebe, acolhe e congrega
Num formato especial.
18.
Cariri é conhecido
Pela natural riqueza
Num diálogo reúne
Cidades da redondeza
A sua ancestral essência
Facilita a convivência
E harmonia é certeza.
19.
O Cariri se destaca
Na arte forte e pulsante
Na efervescência de artistas
Daqui mesmo, e visitante
Quem chega encontra um abrigo
Vira parceiro e amigo
Não mais se sente distante.
20.
Tem público esclarecido
Receptivo, fiel
Que bem sabe apreciar
Faz parte, tem seu papel
Compenetrado e atento
Respeita cada momento
E guarda bem no farnel.
21.
É preciso registrar
Que ao longo de quinze anos
O Festival Choro Jazz
Realizou grandes planos
E já detém várias listas
De grupos, grandes artistas
E lindos shows soberanos.
22.
Para dar alguns exemplos
Temos Hermeto Pascoal
Arismar do Espírito Santo
Só talento sem igual
Também Maurício Carrilho
Mesmo patamar e trilho
Da arte, brilho e sinal.
23.
No Ceará grandes nomes
Em vasta lista se estende
Tem Giuliano Eriston
Além de Marcio Resende
Também Cainã Cavalcante
Que a boa arte garante
Cumpre metas, não se rende.
24.
Na lista ainda se destaca
Pois, Michael Pipoquinha
Com o Grupo Murmurando
Potência da mesma linha
Jorge Cardoso aparece
Mais um nome que acontece
Junto dos outros, caminha.
25.
Choro Jazz também mantém
Uma interessante escola
Que desde dois mil e doze
Atua e sempre decola
No espaço musical
Frutos desse Festival
Que se faz impulso e mola.
26.
É a Escola de Música
Que é Choro Jazz Preá
Para jovens e crianças
Musicalmente educar
Suprindo uma região
E a arte como inclusão
Enaltecendo o lugar.
27.
O Cariri assim ganha
Tão rica programação
Que oferece um brilho a mais
Ao perfil da região
É um momento marcante
Que nutre, instiga e garante
Um Festival de emoção.
28.
Programação bem seleta
Firme e forte, não derrapa
No roteiro a arte oferta
Direção, conceito e mapa
Quem chegar irá sentir
Vale a pena conferir
Mesma classe em cada etapa.
29.
Muitos nomes importantes
Figuram nessa edição:
Tipo, Fabrício da Rocha
Com Junior Crato em ação
Também Gilberto Monteiro
Um artista mensageiro
Quartcheto e Ney Conceição.
30.
Também a Sucinta Orquestra
Carlinhos Patriolino
Tem o Choro Cabuloso
Cativante como um hino
Samba do Trabalhador
Moacir Luz, seu mentor
Sensível feito um menino.
31.
Temos Tâmara Lacerda
Com Ranier Oliveira
Num encontro abençoado
Dois artistas de primeira
O Trio então aparece
E sua arte oferece
Da forma mais verdadeira.
32.
Orquestra à Base de Sopro
Com Eguiberto Gismonti
Direto de Curitiba
Tão melodiosa fonte
Jorrando no Cariri
Incensada do pequi
Harmonioso horizonte.
33.
Citar Paulo Sérgio Santos
E o grande Pedro Amorim
Também Maurício Carrilho
Pra lista seguir assim
Salve Cacá Malaquias
Gustavo Garoto, crias
Desse dom que não tem fim.
34.
Parabéns é muito pouco
Pra cada ente envolvido
Tem que criar algo novo
Mais brilhante e colorido
Um importante tesouro
Que valha mais do que ouro
Para ser oferecido.
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