Festival Choro Jazz foi aberto nesta terça, em Soure-PA, com oficinas de mestres da música do Brasil. Saiba como foi e confira a programação de shows de sexta a domingo

 



No coração da Amazônia, no calor da cidade das marés, o Festival Choro Jazz 2025, etapa Soure-PA, foi aberto nesta terça-feira, 8/7. As oficinas do festival, que seguem até a quinta-feira, 10/7, sendo sucedidas por uma grande programação de shows de sexta a domingo, reunindo referências da música do Brasil, proporcionaram momentos de proximidade entre jovens participantes e grandes mestres da cena nacional. Tudo em clima de informalidade, descontração, partilha, aprendizado mútuo, na sala de embarque do Terminal Hidroviário de Soure, convertida em sala de aula, música, diálogo e cumplicidade. 


Pelo segundo ano consecutivo, Soure, distante 86 km de Belém, com uma viagem de barco de duas horas e meia e outra de van de uma hora e meia, recebe o Festival Choro Jazz, realizado desde 2015 em etapas no Ceará (Fortaleza e Jericoacoara) e que em 2024 passou a acontecer também no Pará e no Cariri, região sul cearense. Após o sucesso da estreia em 2024, que reuniu cerca de 10 mil pessoas ao longo de dois dias de shows, o Choro Jazz está de volta à Ilha do Marajó nesta semana, com uma nova edição que une mestres da música brasileira, tradições locais e oficinas formativas.


Com idealização e curadoria musical da Capucho Produções, organização da Iracema Cultural e apresentação da Petrobras, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal, o festival conta ainda com a parceria da Prefeitura de Soure. Em sua segunda edição no Pará, o Choro Jazz reafirma sua missão de democratizar o acesso à música instrumental brasileira, valorizando a diversidade cultural da região e promovendo encontros únicos entre gerações, ritmos e territórios.E as oficinas são um grande exemplo de como isso acontece, na prática. Como se viu na tarde desta terça-feira, no primeiro de três dias seguidos, das oficinas do Choro Jazz.


Rogério Caetano na oficina de violão de 7 no choro

A violonista Tâmara Lacerda e o acordeonista Ranier Oliveira, ambos do Cariri cearense, abriram a programação de oficinas em Soure, nesta terça, abordando o tema "Ritmos nordestinos". E seguidos de um grande mestre, para cuja oficina ficaram, como alunos: Filó Machado, cantor, compositor, violonista, um dos nomes mais reverenciados da música do Brasil, com histórico de forte dedicação também à música instrumental, inclusive com trabalhos em parceria com Léa Freire no selo Maritaca. 


Filó veio ao Pará acompanhado do neto, Felipe Machado, também violonista, com quem costuma fazer shows. No final do festival, domingo, ele se apresenta em um grande encontro de mestres, com Arismar do Espírito Santo, Gabriel Grossi e o jovem cearense, radicado em São Paulo, Michael Pipoquinha.


Antônio Ivan Capucho e Henrique Cazes

Rogério Caetano, outra referência, desta vez no violão de sete cordas, interagiu com os participantes da oficina demonstrando como a intuição e o ouvido são capazes de revelar os caminhos de uma progressão de acordes, em músicas conhecidas, por mais que uma pessoa não tenha estudado harmonia. Por sua vez, o mestre Henrique Cazes, na oficina de Introdução ao Cavaquinho, questionou alguns mitos sobre o instrumento, como o de que teria "poucos recursos". 


"Ora! Se são quatro cordas, quatro sons diferentes simultâneos, e se ele tem extensão similar à do saxofone, como pode ser um instrumento 'de poucos recursos'? Sempre fui danado com isso", revelou, dando uma verdadeira aula de história da música brasileira - e do mundo, ao destacar a polca como base da música popular em inúmeros lugares do planeta. 

"O cavaquinho é o meio de campo, é o que distribui. Ele é o superintendente do balanço", disse, destacando como os conjuntos regionais ganharam um novo patamar a partir da presença do aclamado Canhoto. "O Canhoto ajeita as coisas. As coisas vão pro lugar!", ressaltou Henrique Cazes, que saudou o fato de a universidade brasileira contar em breve com um doutorado em cavaquinho, falou da Rádio Nacional, do modelo de concessões de rádio à iniciativa privada escolhido por Getúlio Vargas, da busca pela melhor posição de segurar o cavaquinho para poder tocar plenamente, do projeto com 50 músicas inéditas de Pixinguinha, por ele coordenado e disponível nas plataformas, e até da derrota do Fluminense no Mundial de Clubes e do incrível projeto "Beatles ´n´ Choro", que rendeu quatro discos na década de 2000, concretizando uma ideia concebida por Renato Russo, da Legião Urbana. "Os discos 3 e 4 têm ideias de arranjos mais ousadas que o 1 e o 2", pontuou o mestre.


"Levei 37 anos para fazer os dois estudos. A minha militância no cavaquinho é de uma pessoa que passou por todos os perrengues. Os meus alunos têm que ser muito melhores do que eu. O que levei 15 anos pra aprender, eu ensino a eles em 15 minutos".


Após a oficina com Silvério Pontes, tocando flugelhorn e compartilhando memórias, reflexões e métodos de aprendizado no choro, duas oficinas simultâneas trouxeram as cores e ritmos do Pará ao festival: a de dança de ritmos marajoaras, com Solange Ramirez, e a de percussão, com Milene Tavares. 


Em dois espaços próximos, as oficinas chamaram atenção por incluir desde um descritivo e um histórico de ritmos do Marajó, com destaque para o carimbó, quanto por convidarem os participantes à prática, através da dança, com direito a figurinos especiais, como as saias de estampas floridas e coloridas, uma herança caribenha, como destacou a professora Solange, e da percussão, com sete instrumentos de grande porte levados para o momento das oficinas, convidando cada participante a experimentar uma vivência percussiva coletiva. Momentos mágicos, ao final da primeira de seis noites de Choro Jazz, etapa Soure. É apenas o começo do festival!





Mais sobre o Choro Jazz em Soure-PA


De 11 a 13 de julho, acontece a programação de shows da etapa Soure do Festival Choro Jazz 2025, com Egberto Gismonti, Jane Duboc, Nilson Chaves, Arismar do Espírito Santo, Gilson Peranzzetta, Patrícia Bastos, Choro na Rua, Manoel Cordeiro e grupos folclóricos marajoaras, entre diversas outras atrações. O idealizador do festival, Ivan Capucho, reforça que o Choro Jazz vai além da música.


Participantes das oficinas de dança e de percussão: congraçamento em meio a vários ritmos


“Cultura e turismo caminham lado a lado e, quando fortalecidos juntos, transformam territórios. O festival movimentou a cena local, abriu espaço para as culturas regionais se misturarem com grandes nomes nacionais. Teve um impacto bem interessante. Desde que o Choro Jazz chegou ao Marajó, meu desejo sempre foi que ele se tornasse um vetor de valorização cultural e também de desenvolvimento local. Soure tem uma beleza única e uma riqueza simbólica que merecem ser reconhecidas para além do turismo convencional.”


A visão de Capucho se concretiza em cada detalhe da curadoria e da ocupação dos espaços públicos. Durante os dias de festival, pousadas, restaurantes, barcos e feiras ganham novo fôlego com o aumento da circulação de pessoas, impulsionando a economia local. “A cultura, quando enraizada e compartilhada com respeito, tem esse poder de ativar territórios de forma profunda”, completa.


Para 2025, as lições da primeira edição foram fundamentais. A escuta do território, o diálogo com mestres e saberes locais e o compromisso com a formação do público ajudaram a moldar uma programação que une tradição e experimentação. A identidade visual deste ano é inspirada nas cerâmicas marajoaras, com arte assinada pelo multifacetado artista do Marajó, Caio Guedes.


“A primeira edição foi um divisor de águas. Aprendi que estar no território, com humildade e escuta, transforma tudo. Em 2025, levo esses aprendizados para cada decisão curatorial, para cada oficina proposta e para cada parceria construída. O Choro Jazz em Soure é, pra mim, uma celebração do encontro entre o que somos, o que herdamos e o que podemos construir juntos”, resume Aline.




OFICINAS GRATUITAS


Dias 08, 09 e 10 de julho de 2025

Participação gratuita | Vagas limitadas

Violão de sete cordas no choro – Rogério Caetano

Interpretação no choro – Silvério Pontes

Ritmos nordestinos – Tâmara Lacerda e Ranier Oliveira

Oficina de dança: Carimbó – Percussão

Introdução ao cavaquinho – Henrique Cazes

Ritmos amazônicos no contrabaixo – Wesley Jardim

Canto e improvisação – Filó Machado




PROGRAMAÇÃO MUSICAL


Parque de Exposições – Terceira Rua, entre Travessas 11 e 12, Bairro Centro, Soure-PA


Sexta-feira, 11 de julho – Início: 20h30


Egberto Gismonti convida Daniel Murray (RJ)


Mestre Damasceno e os Nativos Marajoara (PA)

Nilson Chaves (PA) e Celso Viáfora (SP)

Choro na Rua (RJ)


Sábado, 12 de julho – Início: 20h30

Grupo Cultural e Parafolclórico Eco Marajoara (PA)

Patrícia Bastos (AP), Renato Braz (SP) e Cristovão Bastos (RJ)

Encontro Norte e Nordeste: Grupo Gaponga (AM), Tâmara Lacerda e Ranier Oliveira (CE)

Tocaia (RJ)


Domingo, 13 de julho – Início: 20h00

Grupo de Tradições Folclóricas Os Aruãs (PA)

Jane Duboc (PA) e Gilson Peranzzetta (RJ)

Arismar do Espírito Santo, Filó Machado, Gabriel Grossi, Michael Pipoquinha (SP e RJ)

Manoel Cordeiro (PA)




SERVIÇO


FESTIVAL CHORO JAZZ – SOURE 2025


Parque de Exposições – Terceira Rua, entre Travessas 11 e 12, Bairro Centro, Soure-PA

Oficinas: 08, 09 e 10 de julho

Shows: 11, 12 e 13 de julho, a partir das 20h30 (domingo, às 20h)

Entrada gratuita


Realização: Ministério da Cultura | Governo Federal

Patrocínio: Petrobras

Organização: Iracema Cultural

Idealização e curadoria musical: Capucho Produções

Parceria local: Prefeitura Municipal de Soure

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