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Opinião // Fortaleza a silenciar para ouvir Pedro Frota




Feliz de uma cidade que tem cantoras e cantores como Pedro Frota. E Fortaleza tem! E tem muitos e muitas intérpretes incríveis! E temos ele, singular, na suavidade, na sinceridade e no sentimento de seu cantar. 

No teatro, no centro cultural, no evento fechado, na serra, no litoral, no palcão, no lugar intimista, no restaurante chique, no boteco pé-duro, no bar cult-bacaninha, no projeto autoral ao lado de ídolos, cantando as canções do rádio pra plateias meio distraídas, seja onde for, Pedro parece cantar em seu próprio Municipal.

O respeito que tem para com a música é o mesmo que leva para cada apresentação e com o qual presenteia o público, mostrando que, igualmente ao teatro, cada momento musical é único e irrepetível. E quem se detém a escutar, fora do burburinho, da conversa alta, do alívio da dureza da vida fantasiosamente buscado no fundo do copo, se convence do próprio privilégio, em poucos compassos. 

O esmero com que Pedro parece preparar cada canção, por mais recorrente que esta seja, nos repertórios "da noite", chama atenção do convite e o convida a um deslocamento que ignora as buzinas, mais altas quanto maiores os carros, o alto volume da fala de certos "cadeiras cativas" que juram amar a arte e a cultura e até o pouco cuidado de quem, detido em assuntos tão importantes, simplesmente se esquece de aplaudir. É, ainda temos muito o que avançar quanto a uma mudança de realidade, um outro patamar para a nossa cena musical. O que passa por uma mudança de mentalidade.

Ao mesmo tempo, que bom, também estão lá tantos olhos e ouvidos atentos, mesmerizados, hipnotizados pelas interpretações que exemplificam um talento lapidado com excelência e propósito, com rigor mas sem solenidade, com afinco mas sem paralisia. Pedro surpreende a cada canção, mesmo naquelas que de tão entoadas na cena noturna costumam ser recebidas sem grandes expectativas. Pois parece ser nestas que ele tem ainda mais prazer de intuir novos caminhos, sugerir outras abordagens, enxergar outras cores para apresentar ao ouvinte. Como quem diz: "Você viu daqui?". "Vou ouviu isso aqui"? "Você já sentiu assim"?

Um exemplo, entre vários possíveis, é o de seu arranjo para "Eu te devoro", daquelas que muita gente aproveita para ir ao banheiro ou checar o celular, quando começam a tocar, porque, enfim... Porque tanto já se disse sobre o amor ou sobre as canções do Djavan, e mesmo assim o amor vai ser cantado em prosa e verso, e se há uma certeza sobre a Terra é que nem um dia há de passar sem que sejam ouvidas várias canções do mestre alagoano. Eis o mérito e a armadilha dos clássicos. "E o que tem de errado em canções de amor", perguntaria Paul McCartney? Nada! Muito pelo contrário!

Pois Pedro recriou essa pérola e a reabilitou para a plena apreciação pública, em uma abordagem diferente e bela, rearmonizando-a com ousadia e intuindo sutis mudanças melódicas que o compositor, acreditamos, entusiasmado aprovaria. Tomara que chegue o mais breve aos ouvidos do criador. Quem ainda não escutou, se achegue em um próximo show do intérprete cearense e peça pra tocar e pra repetir. Vale redevorar a canção, descobrindo novos sabores.

Mas esse é só uma demonstração, de tantas, da forma como Pedro Frota, com um violão certeiro e estudadamente sutil, coerente, atraente, mobilizador, aborda cada composição e a revela ao público, com outros matizes, outras direções e sutilezas. Neste sábado, 3/5/25, no Simpatizo Amor de Bar, da danada Vaninha Vieira, "Azul", do próprio Djavan, "Na rua, na chuva, na fazenda", de Hyldon, "Todas elas juntas num só ser" e "Jacksoul brasileiro", de Lenine, e, ao terminar o show, ao lado de Alex Oliveira na percussão, também "Emoções", de Roberto e Erasmo" e "Começaria tudo outra vez", de Gonzaguinha foram outras que receberam esse "padrão Pedro" de elaboração e simplicidade, ousadia e tradição, divisão e ritmo, antecipações e esperas, leveza e energia, novidade e redundância, expectativa e confirmação, mas também surpresa. Comunicação.

Interpretação. Sensibilidade e alma. Respeito pela música e pelo público. Cuidado com o espetáculo que se faz, seja na simplicidade da rua, seja nas paredes invisíveis da caixa cênica. Seja na "gig", no bar, no autoral como no inesquecível show "Somos Todos Nós Assim", com Isaac Cândido e Davi Duarte, com as composições de Marcus Dias, que assistiu neste sábado, da mesa do bar, a Pedro interpretar magistralmente "Olodumaré", de Marcão e Alexandre Bastos. Seja ao subir ao palco, em novembro passado, ao lado de Raara Rodrigues e Marcus Caffé, com Chico Pinheiro, mestre da guitarra, dos arranjos e composições, no CCBNB Fortaleza. Seja com suas canções autorais, que não conseguimos apreciar nesta noite. Seja no show que Pedro prepara com Beatriz Bandeira, para estrear em maio, também no centro cultural, percorrendo lados B da bossa em um encontro de timbres e sensibilidades que já se prenuncia dos mais marcantes. Seja por onde mais Pedro Frota e seu canto quiserem passar.


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