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Renato Braz com os cearenses Ranier Oliveira e Tâmara Lacerda |
Texto: Dalwton Moura
Fotos: Divulgação/Choro Jazz/Kléber José/Lorena Fadul
Depois de três dias de oficinas e duas noites com quatro shows cada, chega ao fim neste domingo, 13/7, o Festival Choro Jazz - Etapa Soure-PA, na Ilha do Marajó, coração da Amazônia. Uma maratona de música, aprendizado, partilha, congraçamento, encontros de artistas e espectadores de vários estados de um país continental, contato com a natureza, convivência, histórias e, claro, shows pra ficar na memória. Assim foi neste sábado, com os espetáculos do grupo Eco Marajoara (PA), de Renato Braz (SP), Patrícia Bastos (AP) e Cristóvão Bastos (RJ), de Ranier Oliveira com Tâmara Lacerda (ambos do CE) e com o grupo Gaponga (MA) e, fechado a noite, o quarteto feminino Tocaia, do RJ, com muito forró.
Neste domingo, a partir de 20h, sobem ao palco montado no Parque de Exposições o Grupo de Tradições Folclóricas Os Aruãs (PA), Jane Duboc (PA) e Gilson Peranzzetta (RJ), Arismar do Espírito Santo, com Filó Machado (SP), Gabriel Grossi (DF) e Michael Pipoquinha (CE) e o mestre Manoel Cordeiro (PA), encerrando o festival com um show com formação numerosa e promessa de muita dança e muito calor, atraindo grande público para uma grande festa, no encerramento do festival.
Tudo com entrada franca, como é característica do festival, em todas as atividades. Um momento para deixar saudades desse encontro musical iniciado nas oficinas que aconteceram terça, quarta e quinta e continuado com os shows sexta, sábado e neste domingo, em meio ao cenário incrível da natureza de Soure.
Assim como aconteceu no início da noite de sábado, com o grupo Eco Marajoara unindo música e dança, ocupando o palco e a área em frente ao "gargarejo", para demonstrar diversos gêneros musicais, ritmos da região e várias vertentes das danças, com direito a figurinos típicos e à destreza dos bailarinos e bailarinas encantando a plateia. "Às vezes a gente ouve dizerem que o povo não valoriza a cultura, a tradição. Valoriza sim, Heloísa", disse, do palco, Heloísa dos Santos, que chamou atenção por contextualizar cada gênero ou vertente musical e de dança, antes de cada número, auxiliando o público na plena compreensão dos ritmos e características de cada música apresentada.
A plateia respondeu com muitos aplausos e, em uma demonstração da diversidade do Festival Choro Jazz, patrocinado pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura, com idealização e curadoria da Capucho Produções e organização da Iracema Cultural, o público passou da dança e da atmosfera festiva para uma apreciação silenciosa e atenta do segundo show da noite, marcado pelo intimismo, pelo arrebatamento poético, pela sutileza e pelo esmero harmônico, melódico e poético das canções escolhidas por Renato Braz, uma das maiores vozes do Brasil, na companhia da cantora amapaense Patrícia Bastos e do grande compositor, arranjador e pianista Cristóvão Bastos.
Um encontro marcante, que exemplifica as características do Choro Jazz, capaz de uma transição entre o festivo e o intimista, com plena participação do público. "Rio Amazonas" foi a escolha, emblemática, para abrir o show com toda a beleza da canção de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, sob a lua de Soure: "Nas águas do rio Amazonas O meu coração se banhou. No fundo encantado do lado de lá. A voz da Iara chamou, ouvi chamar. Seu canto cruzou o Amazonas...". Haja emoção, já para começar.
E para continuar. Com "Maninha", de Chico, "Só louco", de Dorival e, passando do trio ao duo com Cristóvão e Renato, "Todo sentimento", de Cristóvão e Chico, "Incompatibilidade de gênios" em recriação mais cadenciada do clássico de João e Aldir, e uma tocante homenagem a Nana Caymmi, com "Por causa de você", de Tom e Dolores.
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Patrícia Bastos e Manoel Cordeiro |
Com o mestre Cristóvão em um solo ao piano, no lundu "Tua cantiga", música dele e letra de Chico, ganhou uma linda recriação, na noite de Soure, no momento mais intimista, delicado do show. Hora então de Patrícia retornar ao palco para mostrar com Cristóvão a linda "Yárica", do maestro e do mestre Joãosinho Gomes, o clássico "Cry me a river" reforçando que o show acontecia em um festival de jazz, e as emblemáticas "Suave veneno" e "Resposta ao tempo", em nova homenagem a Nana Caymmi. Antes de Manoel Cordeiro, atração que encerra o festival neste domingo, ser convidado para uma participação. E de o "Samba em prelúdio", de Baden e Vinicius, voltar a enternecer a plateia, com Cristóvão, Patrícia e Renato de volta ao palco.
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O Grupo Gaponga, do Amazonas, com Ranier Oliveira e Tâmara Lacerda, do Ceará |
Tâmara, Ranier e o Grupo Gaponga: CE e AM
No terceiro show da noite, um encontro Norte e Nordeste, com o Grupo Gaponga, do Amazonas, recebendo a violonista, cantora e compositora Tâmara Lacerda e o acordeonista, cantor e compositor Ranier Oliveira, ambos do Crato, Cariri, Ceará, na reedição de um show que havia estreado em evento fechado para a Petrobras, patrocinadora do festival, com idealização de Capucho. A sonoridade climática, a ambiência sonora, com frases se repetindo e convidando a um mergulho em uma atmosfera diferente, marcantes no som do grupo, ganharam o acréscimo de violão e acordeom, ao lado de percussões, incluindo sons das águas, com Celdo Soares, e a voz hipnótica, arrebatadora, de Sofia Amoedo, impressionando a todos e despertando elogios impressionados.
O jovem Ranier contou como, ao conhecer o grupo Gaponga, em uma passagem de som, sentiu instantaneamente que tinha uma composição pronta para "encaixar" com o ritmo que o grupo tocava no momento. "Não sei nem o nome do ritmo, mas era exatamente aquilo ali", contou, emocionado ao agradecer a Celdo, Sofia e grupo pela acolhida. Tâmara também se emocionou ao convidar ao palco Renato Braz, para interpretar "História antiga", outra de Dori e PCP, em um momento emblemático e de improviso. E agradeceu ao Gaponga pelo espaço, em meio ao show.
![]() A arrebatadora Sofia Amoedo integra o grupo Gaponga, do Amazonas: voz impressionante |
Forró jazz pra levantar o público
Para fechar a noite, o forró instrumental - e também vocal - do quarteto feminino Tocaia, do Rio, com destaque para o violino, a la Krassik, de Renata Neves, brilhando intensamente ao longo de todo o show e recebendo muitos, muitos aplausos, desde os temas que marcaram o início do show até os clássicos para todo mundo cantar junto, mais para o final. Com direito a vocais poderosos de Mari Jasca, também no triângulo e no violão, e de Bela Ciavatta, também na zabumba, com Paloma Ronai também muito aplaudida na sanfona e no pife.
O destaque às mulheres, em um show melódico, ritmado e de grande comunicação com o público, com o forró (com amplo espaço para a improvisação, na influência do jazz e em inusitadas surpresas do pop) convidando a dançar e espantar o cansaço pelo adiantado da hora, contou ainda com as participações de Patrícia Bastos e Tâmara Lacerda, reforçando as conexões femininas na programação do Choro Jazz. E até colocando parte do público para uma quadrilha improvisada, fechando a segunda noite de shows em Soure. Neste domingo, já com sabor de saudade, tem mais.
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