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Festival Choro Jazz em Soure-PA teve Egberto e Daniel, Nativos Marajoaras, Nilson Chaves e Celso Viáfora, Choro na Rua, nesta sexta. Neste sábado tem mais quatro shows, com entrada franca

 



Em plena Ilha do Marajó, no coração da Amazônia, no município de Soure, no Pará, um encontro de quatro vertentes da música do Brasil abriu na noite desta sexta-feira a programação de shows do Festival Choro Jazz. Com 16 anos de história e pelo segundo ano consecutivo promovendo oficinas de música e shows com grandes mestres de diversos estados e forte presença dos grupos e tradições locais, o festival manteve o público atento até depois de 3h da manhã do sábado, quando se encerrou a magistral apresentação do projeto Choro na Rua, do Rio de Janeiro.

Nesta formação, que encerrou uma noite aberta com ninguém menos que Egberto Gismonti, na companhia do violonista Daniel Murray, e que seguiu com o grupo Nativos Marajoaras e Mestre Eliézer e com o dueto dos cantores e compositores Nilson Chaves, do Pará, e Celso Viáfora, de São Paulo, mestres como Henrique Cazes, Rogério Caetano, Daniela Szpielman e Silvério Pontes se uniram a jovens como Tiago do Bandolim, Netinho Albuquerque no pandeiro e Rodrigo Jesus na percussão para um show antológico.

Uma apresentação daquelas para premiar quem ficou até mais tarde no Parque de Exposições de Soure, local dos shows do evento, marcar a trajetória do festival, diante da qualidade dos arranjos, do entrosamento da turma, da união entre jovens e veteranos, da interação entre os artistas, da musicalidade expressa a cada momento de forma rica, criativa, divertida, inspiradora. 


Entre temas de Zé Menezes ("Bossa No. 1"), Pixinguinha ("Cheguei"), do próprio Silvério em parceria com Marcelo Caldi ("O nosso choro tá na rua"), de Rogério Caetano e Eduardo Neves ("Chorinho em Cochabamba") e Sivuca (Homenagem à Velha Guarda"), ficou na memória e no coração do público o impacto dos arranjos, diálogos, improvisações, contrapontos, trompete e sax construindo juntos harmonizações, além do brilho de cada instrumentista, somando-se em oito para criar um grupo, de fato, de desenvoltura, riqueza de recursos e dinâmica impressionantes.

"Dá vontade de tocar", comentou a flautista Cris Lisboa, de Belém, uma das participantes das oficinas de música promovidas pelo festival entre terça e quinta desta semana, também em Soure. O Choro na Rua recebeu como convidados outros jovens - os cearenses Ranier Oliveira, acordeonista, que tocou o show todo, dobrou vozes com Silvério e Daniela muitas vezes, improvisou arrancando muitos e muitos aplausos, e Tâmara Lacerda, que participou de duas músicas ao violão. 

Tâmara e Ranier, que no ano passado já haviam feito seu próprio show na etapa do festival no Cariri, região natal da dupla, sobem ao palco neste sábado, tocando pela primeira vez ao lado do grupo Gaponga, do Amazonas, com quem tocaram em evento promovido pela Petrobras, no estado vizinho ao Pará. A Petrobras e o Ministério da Cultura patrocinam o Festival Choro Jazz, que, com curadoria e idealização da Capucho Produções e produção da Iracema Cultural, tem neste sábado, a partir das 20h30, shows do grupo Eco Marajoara (PA), do trio Patrícia Bastos (AP), Renato Braz (SP) e Cristóvão Bastos (RJ) e do grupo Tocaia (RJ), além da apresentação de Tâmara e Ranier com o grupo Gaponga. 


Egberto e Daniel: expectativas atendidas

Egberto Gismonti e Daniel Murray fizeram o primeiro show da noite, frente a frente, violões dialogando em arranjos desafiadores e com o público mantendo total atenção - característica que se repetiria ao longo da noite, no show mais intimista, de Celso Viáfora e Nilson Chaves. Daniel, também adepto dos violões de muitas cordas, é carioca, tem 43 anos e gravou um disco de violão solo em homenagem a Egberto, que do violão passou para o piano, no diálogo com o colega de palco. E encerrou a apresentação com dois temas bem populares, recriados com sua riqueza característica ao piano, "Retrato em branco e preto" e "Carinhoso".

Nativos Marajoaras: carimbó, tradição, emoção

Nativos Marajoaras e Mestre Eliézer, que celebraram o mestre Damasceno, agendado para ir ao festival mas que não pôde comparecer, por problemas de saúde. Tanto a apresentação do grupo quanto a do Choro na Rua foram dedicadas a Damasceno, com votos de melhoras. Os Nativos colocaram o público para dançar, com as cores quentes do ritmo marajoara e com direito a um integrante da novíssima geração do carimbó no palco, já se apresentando desde cedo. Muitos aplausos, tanto dos moradores da ilha, diante da alegria e do orgulho de contarem com representantes da tradição no palco, quanto dos visitantes, que puderam ter contato bem de perto com a musicalidade e a performance cênica do grupo.  




Hora e vez do show de Celso Viáfora e Nilson Chaves, com o paraense recebendo o paulista e com muito congraçamento, transbordante admiração de um pelo outro, dois mestres da canção brasileira. Mais uma vez, o respeito, o envolvimento e o silêncio da plateia, em um show de duas vozes e dois violões, após a grande massa sonora dos Nativos Marajoaras, foi de chamar atenção e de emocionar quem vem de fora e não está acostumado com a plateia de um espaço aberto se portando com o foco e a reverência de quem está em um teatro. Uma demonstração de consciência do valor da arte ali apresentada por dois grandes mestres, um de casa, um de fora, em perfeita partilha e harmonia.

E Nilson e Celso capricharam. Desde "A bênção", "Tempodestino", "Amazônia" (apresentada por Nilson como uma música de que gosta muito e que é importante cantar agora) até "Pérola azulada", "Canto de carimbó" e "A notícia", sempre com a voz suave e ao mesmo tempo marcante, inconfundível de Nilson na proa da apresentação. Até que a voz principal passa para Celso, com "Canção brasileira", "um choro para todas as pessoas que criam, tocam ou simplesmente amam a nossa música", "A cara do Brasil" (gravada por Ney Matogrosso) e "A pessoa".



E como fruto da parceria entre Celso e Nilson, muito assediado para entrevistas antes do show, "Roda dos tambores" foi outro destaque da noite, assim como "Santo Expedito", do repertório de Celso e parceiros, o superclássico "A força que vem das ruas", de Nilson Chaves, um dos grandes hinos do Pará, e "Que nem a gente", cantada por Celso após ele elogiar a iniciativa de abertura de uma escola de música em Soure, por Antônio Ivan Capucho, do Festival Choro Jazz. Na reta final, "Flor do destino", da obra de Nilson, e duas canções de Celso gravadas também pelo colega paraense: "Olhando Belém" e "Não vou ficar", com o público cantando junto. Em uma espécie de bis, "Olho de boto" foi um  novo convite à dança, prontamente atendido pelo público. Neste sábado, em Soure-PA, tem mais Choro Jazz!

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