Confira um registro da apresentação no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=CCvDzBcZ-CY
Uma nova geração de músicos e músicas do Ceará foi levada ao palco no sábado à noite, em Viçosa do Ceará, pelo mestre Adelson Viana, acordeonista, pianista, cantor, compositor, arranjador, produtor musical, proprietário do Vila Estúdio, um dos maiores músicos do Ceará para o Brasil, fiel escudeiro de Dominguinhos durante décadas de andanças pelas estradas e pelos retratos da vida. Foi um dos momentos mais belos e tocantes no final de semana de encerramento do Festival Mi, Música na Ibiapaba, evento que celebrou 20 anos de dedicação à formação musical, congregando professores do Ceará e de outros estados, em uma semana de imersão para os participantes de diversas oficinas, no belíssimo cenário de Viçosa, onde neste ano o friozinho da noite revezou com muito calor durante o dia.
Sanfona no peito, Adelson Viana subiu ao palco montado na praça da Matriz de Viçosa, neste sábado, 26/7, levando consigo quase 50 músicos, alunos de suas oficinas, de acordeom, e de prática de conjunto, incluindo nada menos do que outros 11 sanfoneiros e cerca de 10 cantores e cantoras, além de instrumentistas de sopro, cordas e percussão. Sorriso de orelha a orelha, o gentleman Adelson se mostrava muito satisfeito com o resultado das vivências compartilhadas ao longo da semana de estudo em Viçosa, pontuando, bem-humorado, que "a turma não deu muito trabalho" e que "apesar de alguns ficarem tocando até de madrugada, todos deram conta do recado". Que o digam recriações de clássicos cearenses como o "Baião cigano", de Nonato Luiz, gravado por ele e Adelson no disco "Dobrado", e interpretado com maestria e emoção pelo numeroso grupo na Ibiapaba.
A alegria de tocar ao lado de um mestre dos mestres era explícita também no olhar dos músicos, integrantes de uma nova e de uma novíssima gerações. "Juventude e talento", como diz o nome do choro do cearense Saraiva do Bandolim. Como na apresentação da também bem-humorada "Dos quarenta aos cinquenta", "uma música minha que eles gostaram", disse Adelson, que também aproveitou para cantar, com a verdadeira "orquestra" montada com aplausos para a equipe técnica de Bebeco e companhia. "Vou cantar uma também, com essa orquestra, que eu não sou nem besta", brincou, conduzindo a apresentação, destacando os solistas que brilhavam a cada momento, chamando ao palco os cantores e cantoras, regendo com o olhar - e com o acordeom - o grande grupo que encheu de beleza a noite de sábado em Viçosa, escolhendo em sua maioria temas bem conhecidos da música do Nordeste, do Brasil.
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Momento da oficina ministrada durante a semana, em Viçosa do Ceará. Foto: Ribamar Neto/Ass. Imprensa Festival Mi |
Um dos momentos particularmente emocionantes se deu no clássico "Retrato da vida", de Dominguinhos e Djavan, tornando impossível conter a saudade de Seu Domingos, com quem Adelson tanto trabalhou, percorrendo as estradas do Interior do Ceará, da Ibiapaba, do Piauí... Convidando o jovem músico Pedro, mais desenvolto e comunicativo, para cantar a primeira parte da música, depois de um intermezzo subiu ao palco, trajando camiseta de time de futebol, com aparência mais tímida e contida, o jovem cantor Café de Menezes, que Adelson havia, entre tantos nomes e muita informação, esquecido de chamar inicialmente. "Ah, tem o Café também! Oh, desculpe, Café"... Pois Café chegou olhando pro chão e terminou com muitos aplausos de mãos levantadas ao céu, com sua voz de timbre grave e seu cantar emocionante, que levou gente às lágrimas, na linda canção. "Mas e você o que faz / que não repara no chão / por onde tem que passar / e pisa em meu coração?...". Que momento!
As quatro cantoras chamadas por Adelson foram outro destaque da noite, com destaque para o lindo timbre de Micaela e para o improviso feito pelas vocalistas fora do palco, na coxia lateral, quando a "orquestra" puxada pelo mestre atacou uma bela e intensa versão do clássico "Feira de Mangaio", de Glorinha Gadelha e Sivuca. Depois voltaram todos - cantores e cantoras - à cena, em uma espécie de "baião de trancelim" dos Aniceto, circundando os solistas e fechando com muitos aplausos a apresentação que sucedeu a dos estudantes de música regional, do professor David Calandrine, com muito choro, e antecedeu o show dançante e arrebatador do grupo arregimentado por Claudio Mendes, apresentando 30 canções de quase 50 autores cearenses, no espetáculo "Siri Ará", com Dipas, Di Ferreiro, Agê, Felipe Giffoni, Ayla Lemos, Batuta e cia.
A noite no palco da Praça da Matriz, no Festival Mi, em Viçosa, teve ainda os super sucessos de Luiz Fidélis, o hitmaker, em uma oportunidade de aplaudi-lo e dançar ao som de seus clássicos, fora do Cariri, e o encerramento com Eliane, a Rainha do Forró. Adelson apresentou ao público uma nova safra de instrumentistas e cantores, para o forró, o baião, o xote, o xaxado, a música do Brasil e do mundo! Como diz uma das canções de Dominguinhos, gravada pelo acordeonista cearense, "Do mestre ao discípulo". Viva a música! Evoé, jovens artistas!
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